quinta-feira, 25 de julho de 2013

Você vai sentir saudades!


Por José Antonio Bastos

I
Quando em uma certa noite solitária
O frio chegar em seu leito...
A chama ardente que aquece o peito
Clamará por minha presença
Mas tudo será tarde... tarde!
Porque fui somente um sonhador
Aquele que te deu amor...
Paga agora sua sentença.

II
As flores que lhe dei um dia
Morreram sobre o sol cadente
Lembras de mim? Fique ciente...
Que nada de meu ser restou
Exceto, minhas lágrimas sobre os versos,
Que pra te foram feitos
Neles estão os meus defeitos
Quando tudo começou.

III
Não fui único... fui diferente
Vivi te amando... mas o destino
Tornou-me talvez um peregrino
Nesse mistério de tantas dores
O teu medo miserável te fez escrava
Você perdeu vários momentos
Contrariou os meus sentimentos
E não provou de todos os sabores!

IV
Por mim eu sei que há confidências
E guarda os papéis que te entreguei
Sem valor pra ti... de tudo eu sei,
Mas para mim, foram minha vida -
Li a estrela vésper em seus olhos -  
Do manto que estava entre nós...
O tempo para mim é um algoz!
Estás presa e, não acha mais saída.



V
Minha sombra longe está de tudo
A corrente do perdão nunca quebrou
A canção de te se afastou
Nesse eco de infelicidade,
Relembra se quiser o meu semblante!
Relembra o desprezo que aqui arde!
Então verás que agora é tarde
Quando de mim sentir SAUDADES!


                                
                        
                          José Antonio Basto
                          25/06/2013 – 11:45h






sexta-feira, 19 de julho de 2013

Olhos e barba

É assim. Um olhar lânguido em busca de um horizonte; claros, instigantes, misteriosos, como quem ao repuxar os fios da barba completa o cenário de uma visão. Mais lembra a posse clássica do pensador de Rodin, mas, em vez de cotovelos no joelho, são mãos no rosto. 

Discussão acalorada à flor da pele, militância no peito em busca da igualdade, radicalidade por vezes acompanhada de uma pequena impaciência, típica dos gênios que não se conformam com o pouco, com o raso, com o mesmo. Há sim uma altivez, mas sempre em busca da ultrapassagem, da transmutação, da aliteração, da razão.

É porta-voz de um mundo novo, pelo menos para aqueles que nunca tiveram contato com essa forma de encarar a vida. Indiferente a ele, jamais. É perturbador demais para passar despercebido. Alguns desdéns sempre o acompanharam, diatribes, incompreensões, nunca se importou. Não se enxerga como superior, e sim, que cada um ao seu tempo de descoberta. As entranhas de outros pensadores se ligam às dele pela boca e pelos olhos de ver. Cada passada de mãos na barba um novo enovelar das entranhas somadas.

Aos poucos, as palavras de Platão saem por sua boca, as de Sócrates também. Começam como uma sinfonia ruim de ouvir, como um fel duro de amargar. As sombras da caverna cedem espaço a uma luz tangente como as dos seus olhos cor de ardósia; são visões obnubiladas turvando-se a clareza de seu entendimento, como um bálsamo trazido por uma musa grega. Palas Athena sorri. 

Os que tem olhos para ver, enxergam, ouvidos para ouvir, ouvem. A marcha de Sofia passara a ser acompanhada de Clio. Já não está mais sozinho, aliás, tempo atrás Cupido flechara uma de suas séquitas aprendizes que ao seu lado caminham, aprendendo e ensinando velhas e novas lições de Gaia. 

Aquele encontro não era fortuito, o sábio de olhos cor de ardósia e a jovem agora musa e mulher era o desiderato da vontade de potência explanado por Nietzsche, mas que só com o sentido do amor e tremor de Kierkegaard faz eco. Eros, enfim, fez as pazes definitiva com Anteros; sua porção mulher, sua parte outrora obliterada, amor sem tanatós, entrância e reentrância, morros de planície, rio de mar.

É uma longa marcha sempre a procura dos sentidos da existência. Da desconfiança dos fios de Descartes fez-se um novelo saltitante de Eisenberg. Um outro mundo, duplas visões, paralelas que se entrecruzam, uma vida por sobre a outra. Era a caverna tendo seu teto desabando e abrindo um clarão quântico, energias sinestésicas e terapêuticas saindo de suas mãos, quentes, impostas, transfiguradas. Oriente e Ocidente não mais antitéticos, agora ilados, era a razão buscando seu grande sentido. O holismo grego encarnado em toda a dimensão corporal, não apenas na mente, cabeça, onde supostamente sairia todo o devir do logos, era a plenitude querendo ser plena.

A poesis de mãos com filosofia, a tradição no pensamento diante de um mestre que ensinou gerações a enxergarem para além do horizonte. A razão nele se reconhece, o devir incontinente todos os dias bate sua porta, o afeto transborda por seus dedos anelados de mistérios que adentram por sua cabeça e sai pelas entranhas, as mesmas enoveladas nas dos pensadores que o antecederam e que continuam a existir, sobretudo os que são despertados por ele. Essa é sua missão: inquietar, instigar, lutar...

Lutar pelos seus e pelos dos outros, pelas árvores que se deitam pedindo socorro quando ele passa, são agonias em busca de proteção contra a deterioração, desmatamento, matança, aberração dos homens obliterados de si mesmos, alienados de sua condição ôntica e ontológica de serem felizes, absortos, pusilânimes na tarefa de lutar pela superação de si, trôpegos, cambaios, cambiantes de lugar em lugar, cidade em cidade, vestal em vestal.

Hoje a vida celebra mais um dia de teu nascimento e tem agenda lotada de reflexão. É um dia comum: trabalhos, estudos, deslocamentos, reuniões, nascimentos, mortes em várias partes do mundo, mas aqui, nesse recanto escondido do mundo, cercado de árvores e rios, as voltas com poucos amigos e parentes, vamos parar para celebrar teu dia, teu natalício dia, jornada que Gaia reservou para comemorarmos alguém especial, cuja presença nos enche de inquietação, angústia, sabedoria, amizade, esperança e amor.

Parabéns ao meu mestre, amigo, cunhado, Marcos Antonio Macêdo Muniz.        



           
















quarta-feira, 17 de julho de 2013

bolhinha

Imagino tuas revolvenças,
teus giros de mundo sem pés,
tuas brigas com Deus em pé,
tuas vísceras remoendo um passado sem futuro
e o futuro construído sem passado,
tua cabeça girando como um parangolé,
mas até a arte não te sustém, aliás, talvez somente ela ainda te mantenha ainda que de joelhos
olhando pela janela a procura de um quadro, não de Dali, mas qualquer um que se estivesse ali
te mostraria um mundo, sem delírios, sem pirotecnia, apenas uma tela branca, talvez cinza-cor de transparente, a mesma cor que agora sentes ao te olhares no espelho; mais magra, não mais bolhinha,
mais rodada, nem por isso mais preparada, para nada ou pra tudo, sabe-se lá o quê,
afinal, foste rodar o mundo na busca das mesmas respostas que procuras agora,
e cada vez que voltavas encontravas o mesmo quadro ausente cinza-cor transparente, pintado por tua mente, sempre estridente, rangendo entredentes perguntando onde mora o sossego, cadê a paz, a gata,
o suco natural-natureba, a ausência da carne, que carne? Aquela que alimenta a sanha de tua vontade de ferroar, primeira a ti mesma, depois quem passar, mas com toque sutil, maneiro, quase imperceptível, que não deixa esquecer quem és, assim mesma: inquieta-calma, tranquila-voraz, louca-santa, equilibrada-pensa, altruísta na tua, do mundo e consigo, dos outros e de ninguém, sozinha sempre acompanhada, musical-silenciosa, textual-imagética, tátil no touch.

Isso que não se sabe dizer o nome não vai passar, não tem porque passar, não é para passar, se fosse, já era, não foi, é, és, sempre foste, sempre serás.

Não procure o quadro cinza-cor transparente. Pinte o seu, mas logo ele vai mudar de lugar. Deixa o novo entrar.
                 








sexta-feira, 12 de julho de 2013

Um ajuste global?

Eric Hobsbawn, falecido historiador radicado na Inglaterra, escrevera em A Era dos Extremos, ter sido o século XX breve; se iniciou em 1914 – início da I Grande Guerra –, e findou-se em 1989, queda do Muro de Berlim. Essa periodização fugiu da concepção do modelo quadripartite francês, divisor do mundo, como se a Europa fosse o mundo, em 4 etapas: Antiga, Média, Moderna e Contemporânea, e da classificação usual de séculos em 100 anos.

O que levou o historiador a conceituar o século XX de breve e configurá-lo como extremo? Porque foi. O início do grande conflito pôs fim à Belle Époque e o restante do século ainda assistiria a guerras, nazi-fascismo, autoritarismo, ditaduras, e um conjunto de elementos de causar espanto a uma época supostamente herdeira do século XIX, pletora esperançosa na ciência, evolução e progresso.

Acontece que o século XXI, ainda que em seus primeiros ensaios, também tem se transformado numa época extremista de toda ordem. Pululam fundamentalismos religiosos, operetas econômicas, escândalos de espionagem, não apenas industrial como transnacional, guerras, reorganização da composição político-econômica, ressurgem ideologias, debelam-se teorias em frações de segundo como se de fato, como bem disse o velho Marx: “tudo o que é sólido se desmancha no ar”, agora mais do que nunca.

Bradam os mais otimistas uma onda global contra o capitalismo. Apenas em parte parece ser factível. A onda de protestos que tomou conta do mundo se levanta contra modelos de dominação excludentes, mas não se levantam de forma homogênea ou mesmo hegemônica um brado a favor do socialismo ou comunismo. Não está claro ser essa a opção, ou se é, fica o questionamento: qual socialismo e comunismo?

A questão ainda gira em torno da suscetibilidade da existência ou não do dinheiro e do desejo em torno do consumo, como bem frisou Zizek. O que fazer entre a crise do capital como perspectiva desejante de felicidade e gozo suplantando frustrações cada vez mais combalidas e a ausência de certeza de um projeto sócio-político-econômico-jurídico incapaz de debelar a ânsia de consumo estimulada há pelo menos 500 anos pelo capitalismo em todas as suas fases? 

No esteio disso foi a política, débil na sua plena condição de controlar os avanços do mercado e conduzir homens e mulheres a um projeto racional de equidade. A política sucumbiu ao dinheiro. Transformou-nos em simulacros de nós mesmos, frisou Baudrillard. Segmentou a noção de real, recriou o real em outros patamares, e agora com a falência de um modelo existencial pautado no consumo, cada vez mais evidente, ressurgem velhas, antigas bandeiras e lemas indicando o esgotamento da sociedade imediatista, emergindo a deceção como horizonte, como disse Lipovetsky.

A emergência da China colocando em xeque a plena supremacia econômica estadunidense não remodelou as formas de acumulação de capital e do trabalho, muito pelo contrário, agudizaram-se. A China comprou parte das terras do Sudão e dos portos gregos explorando mão de obra africana e impondo restrições trabalhistas aos estivadores gregos, ou seja, repete a prática perversa de exploração. Compra vultosas montanhas de ferro do Brasil, estoca no mar para esperar uma oportunidade futura de comercializar o minério, explora mão de obra barata, muitas das vezes de forma escrava, não respeita a condição dos trabalhadores. Esse modelo não serve.

A Europa mergulhada em crise vê apenas a prosperidade alemã, maior potência econômica da região, repensa o modelo de livre comércio e de zona econômica e trabalhista, afinal, tal fórmula afundou as economias de Grécia, Itália, Espanha e Portugal.

Os Estados Unidos, também em crise, propõem uma zona e associação comercial com a Europa, temendo os desdobramentos do crescimento do BRIC, afunilando os laços diplomáticos com tal continente, pois a configuração geopolítica do mundo mudou: Irã não teme o grande império, Venezuela também não, Bolívia também, Brasil idem. Em resposta a essa nova correlação de forças recorre ao antigo expediente da espionagem, a tentativa de sequestrar o presidente boliviano Evo Morales, a antigas táticas de intimidação, como no caso do Irã.

Quando o ex-presidente Bill Clintou citou a expressão “nova ordem mundial”, referia-se a emersão da China e do quadro futuro da nova geopolítica. Não previu o ataque de 11 de setembro, o aumento do clima de terror dentro do próprio solo estadunidense, o clima de esquizofrenia que transformara o país com os aumentos de atentados cometidos por civis pátrios.

Pelo mundo se espalham focos de rebeliões, golpes, contragolpes, revoluções. A diferença em relação ao século XX é que desta vez não estão claros os rumos e as tendências destas ondas que ao mesmo tempo são localizadas e globalizadas, pois possuem raízes nas contradições dos países onde eclodem, sendo assim reflexões potencializadoras de movimentos em outros lugares no mundo.

Quando eclodiram as manifestações em junho no Brasil, países europeus foram às ruas compartilhar e se solidarizar com os manifestantes brasileiros. No Chile, milhares de chilenos também cruzaram os braços em apoio ao movimento brasileiro. É uma faceta nova essa forma de integração global contra qualquer forma de exploração.

O que está claro é uma indignação global, mas o modelo é o que se quer, não? Para Zizek, o mundo ainda precisa de uma aceleração da acumulação do capital para vivenciar sua superação. Parece-nos que estamos chegando bem perto disso. A desconfiança é global em relação aos modelos democráticos corroboradores da aliança capital e política. A discussão não gira em torno da superação dos modelos democráticos para alguma forma longe ou contrária disso, mas sim, de uma redefinição de prioridades e uma superação dessa forma.

As manifestações no Brasil em junho apontam bem isso. Em nenhum momento as grandes multidões falavam em superação do capitalismo brasileiro, mas de sua redefinição. Isto não quer dizer que não esteja em crise, e sim, que no horizonte próximo a reflexividade da segurança do que existe, ainda que ruim, é um sinal da ausência de um projeto claro e definido.

As teorias e previsões pessimistas perdem espaço a cada dia. A história não acabou, a dinâmica social recoloca desafios não só ao conhecimento, mas a práxis política. Antigas bandeiras não morreram, precisam ser reatualizadas e ressignificadas. A marcha global indica um descontentamento com a condução política em seus países e apontam a necessidade de um ajuste planetário, afinal, o limite imposto é da natureza. Essa forma de exploração predatória caminha para uma catástrofe global, caso os rumos não mudem.

A consciência ecológica, antes apenas uma bandeira de alguns partidos, agora toma a dimensão de uma luta pela preservação do planeta, e nesse aspecto, repensar a exploração da terra é redefinir as formas e usos de sua exploração, quer dizer, do sistema econômico que a depreda, o capitalismo.

A dimensão educacional, atravessada pelos avanços tecnológicos, foi durante algum tempo pinçada numa perspectiva apenas de mais exploração do capital, pois ampliou as possibilidades de consumo, de publicização mercadológica. Hoje, essa dimensão não preenche e não basta. A mundialização das informações aproximou povos também pelos laços de identificação de exploração e miséria, logo, tornaram suas bandeiras amplificadas. Questões indígenas em um país passaram a ser as bandeiras de lutas em outras regiões porque a dimensão de um problema ecológico, social, étnico, é cada vez mais interplanetário, já que as possibilidades de destruição são cada vez maiores.

Não duvidemos, o mundo está passando por mais um ajuste. E assim será enquanto existirmos.  


quarta-feira, 10 de julho de 2013

Uma magrela e uma pimentinha

Saudades da magrela e da pimentinha,
daquelas de doer como uma dor latejada como quem deixa escapar um tijolo de seis furos
e cai no pé, inchando, futricando, moendo o pisante,
como quem procura no vazio da casa a briga entre as petizes arrancando cada uma o braço da Barbie,
como quem acorda e mesmo sem nada nos braços, vazios pelos pesos ausentes, descreve um colo acolhedor todas as manhãs quando carrega ainda sonolentas as mais belas criaturas que eu fiz,
de sentir uma dor no peito procurando o riso inocente de alguma paspalhice feita,
de quem ainda precocemente já sabem os caminhos das diatribes ao gozar de quem as protege,
de quem cuida ao serem cuidadas, de quem ama ao serem amadas, de quem briga ao serem chamadas à atenção,
das que fazem piruetas e rodopios no banco de trás, trazendo sempre o desafio da gravidade e a elasticidade como se estivessem num palco, num teatro absurdo de brincadeiras e traquinagens,

Saudades de quem ao telefone contam das aventuras no rio,
das novas amiguinhas e amiguinhos,
de tudo quanto é novidade,
da viagem encantadora que só aumenta a dor latejada,
que se preocupa com as correntezas provocadoras de aventuras,
a distância se transforma nos nós apertados dos coletes salva-vidas,
bem apertados, arrochados, que é pra não soltar,
pra proteger as petizes de vozes infantes,
suaves, doces,
e telefone apenas ameniza, mas não estanca a vontade de apertar a magrela e morder a pimentinha....

     


quinta-feira, 4 de julho de 2013

Uma partida de futebol entre duelo de gigantes


 Bem amigos do Gigante Adormecido que Acordou, falamos ao vivo direto do palco da partida entre os Engavetados de Brasília e Forças Conservadoras. O estádio está completamente lotado, afora os 2 milhões de pessoas que não entraram e gritam exigindo democratização e transparências nas regras do jogo, além de ameaçarem invadir o estágio. Vamos direto ao gramado falar com o repórter Zé Guela e obter novas informações dos bastidores da partida. – Fala aí, Zé Guela.

–  Boa noite, Narigudo e caros telespectadores. O clima aqui embaixo é bastante tenso. Eu vou tentar falar com a treinadora Silma da seleção dos Engavetados para falar da expectativa dela e qual foi a estratégia que ela utilizou para vencer o adversário...

 –  Peraí, Zé Guela, peraí, invasão ao estádio por todos os portões, a polícia não consegue conter os torcedores ensandecidos que gritam pelo fim da cartolagem, pelo passe livre, quer dizer, ingresso livre para estudantes... Meu Deus!!! Quanta confusão!! Cartaz dizendo “Cala a boca, Galfão”, uma referência a um narrador da emissora adversária, pela transparência no futebol, pela redução dos salários milionários dos jogadores, de privilégios. Ó Meu Deus!! Eles invadiram o estádio, corre-corre, gritaria. Os dois times acabam de correr para os vestiários com medo da reação dos torcedores. É uma multidão que agora toma conta de todo o gramado do campo, Narigudo. Eu nunca vi nada igual.

– Mas Zé Guela, o que eles reivindicam? 

– Olha, vou tentar falar com um dos torcedores!!!

–  Torcedor não, agora queremos ser jogadores da seleção também. Chega de ficar na arquibancada, como meros receptores da informação. A gente quer a maior mobilidade urbana, transporte público decente, tarifas mais baratas, uma polícia decente que saiba tratar as pessoas como gente e não como bandido descendo a porrada. Que Absurdo!  Eles usam aquele spray de pimenta em todo o mundo indiscriminadamente. Mete no c...  da mãe para ver se é bom meu... E tem mais, mano, fica esse bando de cartola engravatado aí, enchendo o bolso de grana, sem entender os anseios dos torcedores, sem dialogar com a sociedade, achando que são uns tecnocratas, uns tais. Acabaram com o futebol, com a alegria das pessoas. Ninguém aguenta mais isso, tanta roubalheira, cachorrada, desvio de recursos. Tem um imbecil que propôs que as comissões internas da confederação ficariam impedidas de investigar os crimes dos cartolas, onde já se viu isso. Eles fazem votação secreta, decidem tudo entre eles, não dá. E quanto aos jogadores, vai um alerta: se liguem, manos, as coisas mudaram, ninguém é mais trouxa não, já passou a época que vocês faziam migué que jogavam bola, aproveitavam a convocação só para se darem bem, ficarem ricos, e aproveitarem a janela de transferência para ir para fora, quer dizer, transferir a grana que eles roubaram aqui para outros bancos. Tem até ex-jogador dizendo que não se faz copa do mundo com hospitais e sim com estádios, onde já se viu isso? Claro, tá milionário, não precisa de hospital público.

– Zé Guela, eu tô vendo daqui muito tumulto, os PM’s estão usando de muita violência contra os torcedores, batendo o cassetete indiscriminadamente. Quando é que o jogo vai ser retomado?

– Narigudo, olha, a técnica da seleção, quer dizer a professora, como gostam os jogadores de falar, está ainda nos vestiários e até agora não se pronunciou.

– Mas ela está demorando demais!!!

– Olha, a informação que chegou aqui é que ela vai propor uma consulta geral aos torcedores perguntando o que eles querem que mudem nas regras do jogo. Mas sabe como é, né, tem muita gente contra esse negócio de consulta popular, temem as consequências porque sabem como isso começa, mas não sabe como termina. Vai que o negócio radicaliza? Além do mais, os torcedores já não confiam tanto assim na treinadora, nem nos jogadores. Os próprios jogadores da seleção também não querem a consulta popular, afinal, sabem que vão perder seus privilégios. Esse negócio de plebiscito pode abrir a caixa preta do estatuto do torcedor e mexer com tudo, não apenas na questão da representação.

 – E os torcedores lá fora, será que dá para ouvi-los? Vamos tentar falar com o repórter Abelhudo.

– Abelhudo, Abelhudo... O que tá acontecendo aí?

 – Olha Narigudo, o clima é tenso... Muito tenso, eles dizem que não vão sair das ruas enquanto não foram ouvidos pelos cartolas e mudarem as regras do jogo. O problema é que entre os torcedores também há muitas divergências, controvérsias, eles não se entendem. Usam o face, twitter, para postarem e colocarem suas opiniões. Uns querem a total radicalização, falam em fim de futebol, que isso é coisa para coxinha alienado, outros querem que a copa do mundo que será aqui ano que vem não se realize, que é muito gasto, outros pedem a demissão da técnica da seleção, outros que ela apenas mude a escalação do time, enfim, os pedidos são tão diversos, difusos que não dá para agrupá-los.

Quem eles querem que saia da seleção?

Olha, eles pedem a substituição da reforma política emergencial pelo plebiscito, um atacante atrevido, extrovertido que pode driblar a defesa adversária. Outros acham que o atacante plebiscito é muito enrolation, cai-cai, é um cala-boca para a torcida, uma forma de conter os ânimos.

Meu Deus! Aqui na cabine estou perto de outras tribunas também ouvindo opiniões de comentaristas, especialistas que divergem também dos torcedores. Muitos acham que a técnica tá certa em escalar o atacante plebiscito, que ainda não é hora de radicalizar e acabar com o futebol, embora haja um movimento global pipocando em vários lugares do mundo, resto da América Latina, Turquia, e no Egito, vejam vocês, o técnico de lá foi deposto, quer dizer, demitido e quem assumiu foi uma junta militar. Que Loucura!!! Que tempos são esses?

Pois é, Narigudo, e a imprensa internacional não fala de outra coisa, que aqui tá tudo revirado, que o país do futebol não é mais o mesmo, que a copa do mundo tá ameaçada, que os torcedores vão impedir as delegações e torcedores de entrarem nos estádios...

– Mas a seleção não ia bem? Inclusive não acaba de golear a Espanha, melhor seleção do Mundo?

– Olha, para alguns torcedores isso foi uma manobra da FIFP (Federação Internacional de Futebol de Pelada), já que para essa organização aqui nada é sério mesmo, tudo é bagunçado, mais parece um jogo de várzea, para poder acalmar os ânimos, já que a final entre os Engavetados de Brasília e a Espanha foi cercada de muita polêmica, muito disse-me-disse, muita agitação e a competição esteve ameaçada o tempo todo. Além disso, segundo alguns torcedores, a FIFP não passa de uma empresa privada, visando  lucros, aliada do grande capital internacional, cujo foco, matéria de lucro é o futebol, portanto, escolheu o Gigante Adormecido, agora acordado, única e exclusivamente para lucrar com obras superfaturadas, destruir estádios prontos e arrecadar milhões de dólares.

– E o time da reação conservadora, Zé Abelhudo?

– Continua nos bastidores, quer dizer, vestiário, esperando a escalação dos Engavetados. Eles já se articularam, já se coligaram com a mídia nacional para chamar de vândalos e baderneiros os que invadiram o estádio, já encaminharam algumas mudanças emergenciais nos contratos e estatutos, mas ainda assim o Gigante que Acordou não aceita. Os torcedores querem mudanças radicais. O problema é que estamos recebendo notícias de que os caminhoneiros que transportam as peças para os estádios também pararam, e os médicos que iam atender os torcedores também estão fazendo piquetes e passeatas protestando contra a importação de outros médicos para atender os torcedores mais distantes, exatamente aqueles que nunca assistiriam a uma partida ao vivo. Olha, eu nunca vi isso... Meu Deus, que loucura!!

– Onde isso vai parar, Zé Abelhudo? Olha, Narigudo, sinceramente não sei... Do jeito que o clima tá quente, acho que a partida não será retomada, a não ser que torcedores e comissão técnica cheguem a um consenso ou pelo menos se retome a partida e se interrompa na hora em que não se concordar com uma tática, estratégia, ou mesmo substituição. Pelo andar da carruagem, uma partida de futebol nunca mais será a mesma daqui para frente.  

– E o juiz, quer dizer, o trio de arbitragem?

– Por enquanto o único pronunciamento foi que desse jeito a partida está prejudicada.  

– Não é estranho que os torcedores não tenham tocado na arbitragem? Pois é, alguns até já falaram, mas o foco mesmo está nos dois times escalados, como se a partida não dependesse do que os juízes deliberam.

– Recebo notícias agora, Zé Abelhudo, que um bando de torcedores fez protestos em frente da sede da Rede Nojo de Televisão. As notícias que nos chegam é que protestaram contra o monopólio de transmissão de partidas, os acordos políticos com os Engavetados de Brasilia, a forma como ela edita as imagens das partidas e influencia parte dos torcedores a se comportarem.

– Bem amigos do Gigante Adormecido que Acordou, pelo andar da carruagem, parece que aquilo que era para ser uma mera partida de futebol vai tomando conta de todo o país em todos os setores, como se de repente a política do pão e circo não fosse suficiente para conter a imensa desigualdade social, a opressão, a fome, e todas as nossas mazelas. Quando a nossa expressão cultural, o futebol, é alvo de protestos, pois sempre foi utilizado como estratégia de manobra, é sinal de que as coisas mudaram. Destruíram os antigos castelos, estádios de futebol, e ergueram suntuosos palácios onde a população não pode mais ver o espetáculo. Quando um esporte não é mais suficiente para satisfazer os anseios da população, é sinal de que a emancipação do espírito está a caminho.            



















  

quarta-feira, 3 de julho de 2013

O facebook e as manifestações no Brasil

O mês de junho já se foi. Não podemos falar em rescaldo porque as possibilidades de desdobramentos das passeatas ainda estão em aberto, e vão ficar por muito tempo. Pelo menos uma coisa já é certa: o pedido de encaminhamento de plebiscito do palácio do planalto para o congresso nacional já é, sem sombra de dúvida, uma das maiores vitórias do movimento.

Movimento esse que se articula a um mal-estar global por conta dos desdobramentos do capital. A panaceia de um mundo estagnado, sem grandes perspectivas de mudança, escondia sub-repticiamente uma insatisfação generalizada ante a falência da politica, a crise do humanismo, a barbárie do estado, a indicação de que os modelos democráticos tangenciavam cada vez mais uma opressão da máquina trituradora de sonhos, limitadora da liberdade de expressão!! Isso mesmo!! Os aparelhos midiáticos reduzidos cada vez mais a pequenos grupos econômicos tangenciavam um modelo de vida como se qualquer outra possibilidade  de sociabilidade, de critica ao modelo imposto, era automaticamente encarado como ultrapassado, démodé.

O facebook foi uma dessas ferramentas midiáticas de expressão da ditadura do belo, do bem viver, dos arquétipos de vida feliz. Não é difícil entender seu sucesso. Ante a velocidade das informações, a incapacidade de incorporar milhões de anônimos ao grande estrelado, ter uma página pessoal de grande circulação imediata foi uma arma eficientíssima de simulacro dos encontros, das possibilidades de ser aceito, visto, cultuado, ainda que por apenas lapsos de segundo. 

Na outra ponta, a grande mídia, aparelhada pelo grande capital, por grupos políticos, já temiam desde os anos 2000 o avanço das redes sociais e por razões obvias: não há controle de seu conteúdo, elas representam a verdadeira expressão democrática de liberdade, possuem a capacidade de comunicabilidade instantânea, dentre tantas outras coisas, agora acrescida de um fenômeno nem tão novo, mas profundamente assustador: a capacidade de mobilização política.

O mês de junho no Brasil revelou uma nova forma de articulação politica: o facebook e as ruas, as duas conjugadas simultaneamente na velocidade de não-entendimento do corpo politico partidário brasileiro e das demais instituições. 

Mas, nem tudo são flores. Se por um lado as passeatas conotaram a falência de uma forma de fazer politica, do modelo representativo, indicaram a participação direta, cognominada de democracia direta, a capacidade de mobilização sem lideranças, a revelação de golpes, de tramoias, do movimento das elites brasileiras, por outro, revelou pelo seu aliado, o facebook, exatamente a multiplicidade do que fazer e como, só sobrou o porque. O porque está claro: crise das instituições democráticas, no entanto, o que constituir pós-crise ainda está em construção. 

Além disso, o facebook revelou também uma das poucas "fragilidades/forças" das passeatas: a compósita forma de fazer politica, do que expressar, como fazer. O que está claro é que daqui para frente o Brasil será sacudido por grandes manifestações, já descobrimos o poder de mobilização e seus efeitos imediatos no palácio do planalto e congresso, mas as divergências e a direção do que queremos não está. 

Como o facebook se transformou num instrumento politico contra a grande mídia, era consultado imediatamente após grandes passeatas para saber de suas extensões. Foi ai que as contradições emergiram. Face"s pagos por instituições politicas serviram e ainda estão servindo para dissuadir, enganar as pessoas reverberando e plantando noticias falsas, caluniosas e catastróficas. Como é um instrumento de rápida circulação, em questões de segundos uma mentira se espalha feito rastilho de pólvora.

Esse é um dos problemas do face, na verdade de muitos dos seus usuários. Sem leitura, sem criticidade, sem a devida calma e atenção, muitas pessoas curtem e compartilham informações que poderiam ser evitadas apenas com uma maior acuidade. 

Estamos reabilitando uma velha tática de grupos e pessoas do século XIX, quando ofensas, mentiras, blagues, chistes e ironias eram publicadas em jornais, jornalecos, folhetins todos os dias, a cognominada troca de ofensas, a diferença é que no XIX o estado tinha o poder de fechar uma tipografia, com o facebook não. Esse é seu poder discricionário. Mas não só. 

Desmentir uma informação da grande mídia, revelar bastidores da politica, contra-atacar uma ideologia, são algumas de suas características revolucionárias. O mundo mudou. Por outro lado, denota a fragilidade politica das pessoas por compartilharem informações de forma simultânea sem grande reflexão, esse um  dos problemas da instantaneidade. Isso sinaliza a esquizofrenia contemporânea em se fazer presente, mostrar sua cara de qualquer jeito, forma e com o velho problema da repetição: basta uma figura de expressão publicar algo no seu face e rapidamente centenas de pessoas curtem e compartilham. 

O face expressa o problema da falta de criatividade e profundidade das informações. A questão é que tudo é muito novo e estamos experimentando novas formas de fazer a cena politica. Há um modelo em xeque da politica e outro sendo construído. 

Seus benefícios, contudo, são imensuráveis. A primavera árabe não aconteceria sem as redes sociais, ou até aconteceria sem sua grande expansão, da mesma forma com os desdobramentos da crise politica na Turquia e, mais recentemente no Brasil. 

A midia falou em confronto entre manifestantes e policia militar em São Paulo e chamou de vândalos os que quebraram as estações de metrô, mas quem postou as fotos e videos da truculência da policia foram os usuários do face. A dimensão da violência só foi percebida pela circulação das imagens não exibidas na televisão. 

Já no Maranhão, mais especificamente em são Luis, terra distante de tudo, os desdobramentos da primavera brasileira ainda estão por serem melhor entendidos. Passado o mês de junho, a força das mobilizações perde seu impeto a cada dia cedendo espaço para reivindicações localizadas de moradores que descobrem o poder de mobilização e reivindicação perante a prefeitura. Perdemos o foco do movimento nacional e não estabelecemos uma agenda de reivindicação. Os grupos que ainda persistem terão uma árdua tarefa de remobilizar. 

Parabenizo a atitude de fazer ressurgir o Movimento Passe Livre em São Luis e a convocatória para uma Assembléia Popular para o próximo sábado. São tentativas de arregimentar aqueles que estavam nas ruas e não se sentem mais representados.

Que engraçado!! O movimento nasceu contestando a representação da classe politica e agora as pessoas em sua grande maioria não querem sair às ruas porque desconfiam dos rumos do movimento, exatamente pela forma como os lideres das convocações se comportam no face e nas ruas.   .            


    
             

Entrevista com Arton, de Sirius. Parte II

  Entrevista realizada no dia 14 de fevereiro de 2024, às 20:00, com duração de 1': 32'', gravada em um aparelho Motorola one zo...