quinta-feira, 20 de junho de 2013

A primavera brasileira tá virando inverno tenebroso

Eu vou contar uma história que todo mundo já sabe. Na França pós-revolucionária, após a queda da Bastilha, os rumos que o movimento tomou foi chamado de Le Grand Peur (O grande medo), quando os próprios lideres revolucionários, acusados de traição, foram guilhotinados, gerando posteriormente a ascensão de Luis Bonaparte. Contradição, afinal, a revolução que pôs fim ao Antigo Regime permitiu a  chegada ao poder de um ditador. Revoluções são revoluções, inclusive com suas idiossincrasias!!!    

Há dias atrás publiquei um artigo intitulado: A primavera brasileira, por considerar que, após anos de letargia, enfim o povo brasileiro havia acordado. Pois bem, venho dizer que os rumos que os movimentos país afora tomaram cheiram ao clima favorável a um golpe de direita. Vamos aos fatos. 

Proudhon disse que toda propriedade é um roubo. Nesse aspecto, a ideia de usurpação do estado do que é público se torna um roubo à medida que os ocupantes da estrutura burocrática lançam mão do governo para se apropriarem do que é comum a todos, ou seja, o patrimônio público. Nesse caso, a depredação, ocupação, invasão de propriedade pública é legitima, afinal, como bem disse Rousseau: "quando os governantes usurpam a estrutura de poder em benefício próprio, a sociedade tem o direito de quebrar o pacto social, deslegitimando-os de seus cargos". 

Acontece que, afora a condição de usurpação do poder por parte dos governantes, o que de fato  acontece no Brasil, os casos de "vandalismo", depredação de patrimônio público, congêneres, tornam-se ilegítimos, pois todos os governantes foram eleitos democraticamente, logo, não chegaram à condição de governantes de forma ilegitima e nem ilegal, embora nem tudo que seja legal é legitimo.  

Sem falar que, pela vida democrática os representantes foram eleitos para ocuparem temporariamente os cargos e cuidarem do que é publico, logo, o patrimônio não lhes pertence, e sim à população, portanto, tudo  que passa pela condição supostamente legitima da vontade e soberania da sociedade é publico, incluindo o patrimônio, qualquer que seja ela, físico, cultural, espiritual, simbólico. 

Assim sendo, é necessário destituir quem usurpa o cargo, não destruir a representação simbólica da expressão da vontade popular eleita pela via democrática burguesa. É para destruir inclusive a representação simbólica expressa no patrimônio público? Então destruamos tudo o que nos representa simbolicamente, não apenas o patrimônio público material.      

O poder no Brasil é legal, muitas vezes não é legitimo, vide quando os representantes não governam para o bem comum. Portanto, uma vez eleitos para seus cargos e, quando pela própria via democrática não se estabelece as condições de controle, uso e exercício da estrutura de poder, deslegitimar um governo, governante pela via revolucionária, só faz sentido se for revolucionária, caso contrário, precisa ser pela via democrática. 

Sendo assim, faço alguns questionamentos. O que se quer ou se está se desenhando no Brasil é uma revolução ou uma reforma política? Se for revolução, então tudo bem, vamos rasgar a constituição, destituir o parlamento, desapropriar o que for privado, dentre outras coisas. Se é Reforma Politica então temos que ter foco. 

O Movimento Passe Livre já anunciou que vai se retirar das manifestações, a Globo apoia o movimento e foca nos vândalos - uma forma de deslegitimar o que está sendo reivindicado -, depredações e vandalismo tomam e desnorteiam as pautas de reivindicações, não há liderança, fala-se na proibição da participação de partidos políticos, surgem questionamentos sobre o que reivindicar se 11 capitais já reduziram as passagens, gente infiltrada picha prédio público, pedidos de impeachment da presidente Dilma, clamor pela volta dos militares, ascensão de grupos fascistas dentro das passeatas, segmentos da direita sendo pagos para bradar palavras de ordem pelo nacionalismo ufanista e exaltado, divisão entre os manifestantes contra e favor dos rumos do movimento, etc.

Sabe o que se está desenhando? A ideia de que não passa de modismo, de que não há clareza quanto aos objetivos, do que se quer. É claro que quando se ocupa ou se depreda um patrimônio a questão central é o signo, o simbolo que tal objeto representa, logo, ao atacar tais estâncias mira-se no seu significado social e politico, ou seja, o que ele traz consigo. Diante disso questiono: o que está em discussão é a democracia ou os meandros do jogo democrático no Brasil? Repito: se for a democracia enquanto condição e situação representativa de nossos desejos, vontades, aliterações, é necessário rever toda a estrutura que molda tal situação no pais, quer dizer, rever, resignificar todas as instituições. 

O que se quer é a denúncia da barbárie democrática? Do quanto de falacioso ela é? O quanto ilegitimo é a sua condição, ainda que aceita legalmente pela ampla maioria da sociedade brasileira? É bem certo que já algum tempo a falência do estado, a forma representativa eleitoral apontaram seus sinais de esgotamento, do quanto de desumano existe na condição politica montado por uma ideia de estado autorizado e legal. Só não sei se é isso que se está se reivindicando nas ruas. 

O que vejo são condições amorfas, de um lado um grupo bradando contra o aumento das passagens, pelo passe livre, melhoria da condição de transporte público, pela saúde, educação, etc, de outro, um pequeno bando destruindo tudo o que encontra pela frente. Que fique claro que o primeiro grupo quer reformas politicas dentro do jogo do capital e da democracia, logo, não quer revolução, e sim, transformação. Mas, e o segundo grupo? Quer o que? O fim do capital e da forma de representação democrática? Se for, então diga a que veio, porque até agora só aparecem cenas de quebra-quebra, sem carro de som, sem pauta, objetivos e intenções. 

Do outro lado se levantam vozes de pessoas, claro, formadas pela opinião pública operada pela grande mídia que começam a questionar os reais objetivos das manifestações. E ai mora o perigo. O conservadorismo da opinião pública começa a soar como clamor exigindo ações mais enérgicas da presidente, questionamentos sobre porque não realizar grandes eventos esportivos, quem está por detrás de tudo isso. 

Impeachment da Dilma? Para colocar quem? O Michel Temer? Convocar novas eleições? O presidente do Senado, Renan Calheiros? Um novo golpe militar? Essas são temerosidades de um movimento sem liderança, supostamente apartidário, sem pauta de reivindicação programática. 

É claro também que no bojo, no calor das manifestações aparecem segmentos de todos os lados e ordem: anarquistas, petistas, ultra-esquerdistas, direitistas, fascistas, etc. É um movimento compósito, fruto da grande e larga insatisfação social, mas o meu temor é o desenho de um golpe que se trama no seio das manifestações.

Há casos comprovados de que parte dos vândalos estão sendo pagos por partidos de direita, caso da manifestação em São Luis ontem. Ou seja, a mídia edita as imagens, não divulga toda a manifestação e foca apenas no ato de vandalismo e depredação. 

Outra preocupação: o MPL acaba de anunciar que aceita a participação de partidos políticos. Ora, como é democrático o movimento não compete a ninguém impedir ou não a participação de quem quer que seja. Ai está a outra questão: impediam a participação de partidos e não a ação dos vândalos? Muito estranho...Não é uma acusação contra o MPL, é uma critica a ingenuidade politica. Eles sabem exatamente os rumos e as proporções que isso está gerando? São eles os responsáveis? Claro que não, e sim, anos de exclusão social.  

Portanto, sugiro que os lideres da convocações, partidos políticos, organizações, sindicatos, representações politicas de toda ordem façam uma pauta e agendamento de reivindicações claras, convocando toda a sociedade para participar da mudança no Brasil, caso contrário, vamos deixar que as coisas sigam o seu fluxo, sobretudo revolucionário, e vamos ver no que vai dar.                       

12 comentários:

  1. O problema está criado, corremos um perigo eminente, a sociedade que abriu os braços para tentar mudar, agora é ameaçada de estar por dar um tiro no pé... Tio esse dado não por nós mesmo, mas por aqueles que desde o inicio boicotam e aproveitam-se da boa fé dos milhares de brasileiros que hoje vão para as ruas... Quem implantar o temos em nossas mentes, forçar-nos a calar... e o que será feito? calaremos? nos trancafiaremos em nossas casas? Foco é o que de fato precisamos, hoje, mais do que nunca... Não deixemos que nos façam ainda mais de palhaços! Dilma ou Golpe? é chegada a hora de escolher... Escolher? Não, somos filhos de um pais que não é levado a sério... Somos donos desapropriados por uma cambada de corrupto posta lá em cima pelos verdadeiros vândalos deste país! FOCO e sobretudo, PEITO PARA ENCARAR A PRESENTE PROBLEMÁTICA É O QUE DEVEMOS TER!

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    1. Querem implantar o temor em nossas mentes,*(corrigindo)

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    2. Faço minhas(se puder)tuas palavras Flávia.
      É exatamente o que penso.Saquearam nosso país por anos,nos tiraram o direitos como;saúde,segurança,educação,etc...
      Agora querem nos intimidar!!Não mesmo!
      Abraço

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    3. Claro que pode torna-las suas Cristina, afinal somos todos filhos da mesma terra e vítimas dos mesmos golpes diários impostos contra nós por aquela "ruma" de ladrões que estão no poder do município, do governo estadual, no congresso, na presidência do país... CORRUPTOS DESGRAÇADOS QUE TENTAM TOMAR NOSSAS FORÇAS A TODO INSTANTE!

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  2. Só a atitude muda a vida!!!

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  3. Professor Henrique concordo com você em número, gênero e grau. O movimento surgiu, não como um primeiro passo às mudanças, mas como uma "patada" na política em que se fez tremer o chão da apatia, fazendo assim acordar não só aos governantes, como todo o restante do povo também. Só que este movimento está meio sem rumo, e isso é perigoso porque além de cair no vazio, pode cair também em direções totalmente nebulosas. Sei que são muitas questões que os governantes estão em falta para com o povo, mas devemos focar uma coisa de cada vez para poder surtir efeitos. Não vai ser agora que a política vai resolver tudo do dia pra noite, basta ver nos livros, são passos lentos, mas se formos sábios chegaremos lá. Tem que haver organização e sabedoria em que se pede e para quem pedir. Eu ouço o silêncio gritante dos nossos governantes, será que eles não tem nada a dizer? ou será medo do que está acontecendo ou será que estão confabulando em dar um presente de grego ao povo? Já ouvi rumores sobre impeachment de Dilma para colocarem os militares de novo no poder, mas isso não resolverá nada, a ditadura já passou e não queremos isso, acho que as balas de borracha já falam por si só, ou será que querem viver sob esta mira? quem pede por militares no poder é porque não sabem o efeito. Devemos repensar... ou a nossa primavera pode se transformar nas flores do mal.

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  4. "sugiro que os lideres da convocações, partidos políticos, organizações, sindicatos, representações politicas de toda ordem façam uma pauta e agendamento de reivindicações claras, convocando toda a sociedade para participar da mudança no Brasil,"?. Já estamos fazendo isso, inclusive ontem 20/06, ocorreu uma plenária com representantes de movimentos sociais e partidos de esquerda no sindicato dos bancários em que se discutiu uma pauta mínima que iremos defender aqui em São Luís, bem como nossas estratégias nessa conjuntura. Abraços!

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  5. A MUDANÇA É LIGITIMA QUANDO EXISTIR UM FOCO,TEMOS SABER DE FATO O QUEREMOS REVINDICAR...

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  6. As colocações suas Henrique são bem plausiveis,falta foco em relação aquilo q está sendo reivindicado. Devemos ter cuidado que ao meu ver também esses atos de vandalismo não são simples baderneiros querendo bagunçar mais há por traz açoes da direita. Devemos tomar cuidado que por causa de poucos, como ja vi em algumas reportagem estão taxando todos os manifestantes de Facistas, intolerantes e antipartidarios.

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  7. Concordo apenas em parte com o teor desse texto, que, aliás, poderia ter sido melhor escrito, em proveito da clareza, da elegância e, sobretudo, da concisão. Textos tão longos assim, a meu ver, não são adequados a este tipo de suporte, mas... enfim... vá lá! Tem o seu valor, dá o que pensar, o que já é muito bom!!!

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  8. Em minha de aula, sugeri uma pergunta para que meus alunos respondessem: "ao analisar os movimentos ocorridos no brasil, pode-se observar algumas contrariedades, o que poderá tornar esses movimentos efêmeros e tais movimentos poderam perder o sentido e o brilho,qual o ponto de vista sobre motivos que poderam tornar passageiros esses levantes". O movimento até onde acompanhei, não apresentar uma comissão para debater suas propostas de reivendicação, tornando difícil deliberar sobre pautas, tando ao movimento um ar desorganizado. Quando eclodiu estava derminando a cadeira de siciedade Burguesa, confesso que sentir que estávamos na França de 1789, só que na frança foi escolhido auma assembléia que representasse a massa camponesa.

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