sexta-feira, 24 de maio de 2013

De olhos bem fechados?

Entre a balança e a ferroada, ele deslinda ora com a cabeça, ora com o estômago. Do estômago expõe a visceralidade, com a cabeça, a necessidade de não pesar só para um lado do prato da balança, levando a moça de olhos fechados a retirar as vendas e reequilibrar os pesos. Sempre usou mais o estômago, para tudo. Agora num dos pratos ele se encontra com seu ferrão. Se a balança pender para o seu lado o animal sobe, passa para o outro e ferroa a moça da balança. O que será dela ferroada? Talvez perca o  julgamento sensato, o controle, o falso equilíbrio. Talvez passe a ser visceral, estomacal, noiada com a vida, evite pré-seleções. Talvez enxergue aqueles que busquem o equilíbrio, mas só conseguem ser o que são: ferroados, feridos, viscerais, dionisíacos. Mas não à-toa ele está lá. Ele mede seu peso. Talvez o que atraia seja o delicado equilíbrio, por isso procurou a moça de olhos vendados, exatamente para saber de sua medida. Talvez para testar sua sedução em ferroar quem não se deixa ser. É uma dança da balança, um álter sem chão, uma profusão de liberdade por estar flutuando, apesar de seu peso. O engraçado é que na outra ponta não há ninguém, a não ser o reflexo do seu desejo de ferroar. É ele quem no jogo do sobe e desce, da ascensão e descenso, precisar medir até onde é pulsão, desequilíbrio, desmesura. O controle não é dele, não está no controle, e sim, da moça de olhos vendados, que mesmo enxergando o delicado equilíbrio da balança decide por ser ferroada, por inteiro.          

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