terça-feira, 13 de novembro de 2012

Os efeitos da crise econômica em Lisboa

Os efeitos da crise econômica por toda a Europa, sobretudo em países como Grécia, Espanha e Portugal são notórios, fruto do retraimento da economia mundial, do "fenômeno" BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), como também do modelo de desenvolvimento integrado, qual países mais pobres da comunidade europeia foram submetidos. As nações citadas acima, integrantes da zona do Euro, sentem a desproporção econômica em relação à Alemanha, à França e à Inglaterra, este último não adotou o Euro.

A Comunidade Européia adotou um padrão monetário entre os países membros, a livre cidadania, o fim da guerra fiscal, a possibilidade de livre trabalho aumentando a migração interna, as trocas comerciais.

Países mais pobres como Grécia, Espanha e Portugal já entraram na comunidade européia com endividamento, afinal, era necessário equalizar problemas de infra-estrutura, de saneamento, de desenvolvimento logístico, portanto, receberam vultosos euros para a solução desses problemas, agora a conta está sendo cobrada, na verdade, já algum tempo.

Portugal recebeu uma leva massiva de europeus do antigo bloco socialista à procura de trabalhos não tão bem remunerados, serviços em geral, não pode competir com as indústrias alemã, francesa e inglesa, sua economia está assentada no setor primário (azeite, vinho, queijo), teve sua produção industrial desacelerada nos últimos anos,  não tem como pagar a dívida. Aliado a tudo isso, sofre um processo longo de decréscimo e envelhecimento populacional aumentando o esvaziamento de zonas inteiras do pais, sobretudo o campo.

Ao chegar em Lisboa no dia 12 de novembro eu não reconheci a cidade. Vi pela primeira vez mendigos nas ruas, pedintes, muitos pedintes em metros, calcadas, restaurantes vazios, os preços de tudo baixaram, placas de greve geral espalhada por toda a cidade anunciada para o dia 14 próximo, reclamação de taxistas sobre a situação do país, muita pichação em locais antes jamais pichados, e, muitos protestos contra a visita da Premiere alemã, Angela Merkel.

Os jornais de Lisboa estampavam: "a mulher que todos odeiam manda em Portugal". Foi montado um forte esquema de segurança, exatamente no dia em que cheguei, regiões inteiras da cidade foram bloqueadas, protestos em todos os lados e a imprensa fazendo enquetes sobre o futuro de Portugal. A imprensa deu ampla cobertura para a visita da Premiere.

No entanto, também há o consenso de que a situação de Portugal não é igual ao da Grécia. O rombo da divida publica grega é 10 vezes maior, lá houve redução de salários em massa, aumento de impostos e, para piorar a situação, o turismo, setor importante da economia, caiu bastante. 

Apesar de tudo isso, o pais que já dominou uma parte da América, da África, e da Ásia sustenta suas tradições como forma de apego e certeza de que a saída virá, afinal, Portugal é o país do fado, logo, de um imaginário de crise e tristeza, mas também de superação.

Ainda estão sobre as mesas dos restaurantes os bons vinhos, o pão duro e seco, crocante, sem bromato, de sabor inconfundível, o queijo fresco de derreter na boca, azeitonas e o inigualável bacalhau. 

Tentei entende de onde vem a certeza da superação, não foi difícil achar. Letras espalhadas pelos seus espaços, em cada canto as marcas históricas de sua gente: Camões, Eça, Pessoa, a força da língua subjugando a própria crise e mostrando que outras já foram superadas. No metro a frase de Erasmo: "quem quer provar o mel, precisa enfrentar as abelhas". Nas ruas panfletos convidam para o festival de contos, na televisão um documentário sobre os 10 anos da independência do Timor Leste e o papel que Mário Soares, ex-presidente desempenhou nesse processo. 

No carisma e simpatia dessa gente portuguesa o desiderato de dias melhores.             

    

4 comentários:

  1. Vc vai com frequência a Lisboa, Portugal? A forma como vc escreveu pareceu.

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    1. Essa é minha segunda vez. A primeira, fiquei 16 dias, depois cruzei o país de Oeste a Leste até a fronteira com a Espanha, andando de cidade em cidade, parando e conversando com as pessoas. Dessa vez vou ficar mais 8 dias em Lisboa, mais 4 no Porto, cidade que não conheço.

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  2. nem tudo o que parece é. estamos realmente a receber ajuda economica,mas a crise na maior parte só sentem aqueles que eram da classe media baixa e os que já eram pobres. eu acho que vai passar a existir só ricos e pobres. mas também há muitos chicos espertos que se aproveitam da crise para justificar tudo e mais alguma coisa.quanto a greve geral de hoje não concordo com ela porque 1 dia parado traz muitos prejuizos para todos nós e vamos acabar por pagar mais esta factura. e falando de coisas mais alegres se puder pode visitar no porto, o museu de serralves, a torre dos clerigos, a estação de são bento, a universidade do porto, a baixa da cidade com as igrejas e quanto a comida não pode deixar de provar a francesinha. boa estadia em portugal.

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    1. Sandra, estive hoje na greve e fiquei estarrecido com os comentários dos portugueses. a manifestação foi gigantesca e todos estavam muito assutados. concordo que apenas 1 dia de paralisação é muito pouco, porém, na Europa quando os trabalhadores param seus salários são descontados, no Brasil não, primeiro precisa ser julgada pelos TRT's para saber se são abusivas ou não. Agora concordo contigo, a crise aumentou a diferença entre ricos e pobres, o consumo de luxo aumentou.

      Vou aproveitar sim teu país, amo Portugal,

      abraços do Henrique

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