Os
episódios que culminaram no impeachment do presidente do
Paraguai, Fernando Lugo, revelam uma face sangrenta da política na América Latina. Não é de hoje a relação
tumultuada entre democracia e instabilidade política na região. Do México à
Argentina, a América Latina sempre foi palco de lutas sangrentas, golpes,
instabilidade regimental, ditaduras, e muita pobreza.
Eduardo
Galeano, escritor uruguaio, dono de uma vasta crônica sobre a relação entre literatura
e politica, falecido recentemente, no seu célebre livro disparava: México,
tão longe de Deus, tão perto dos E.U.A, (frase do presidente mexicano
Lázaro Cárdenas - 1934-1940), referindo-se ao processo culminante da tomada dos
territórios mexicanos do Texas, Novo México e Califórnia pela grande potência.
Afora a perda territorial, foram-se também importantes minas de ouro. No século
XX, o México adentrou numa revolução, a
zapatista, depois, foi comandado por um Partido que ficou no poder entre 1929
até os anos 2000, O PRI (curiosamente, Partido Revolucionário Institucional) e
hoje o país está mergulhado na guerra dos cartéis de drogas e de
tráfego humano.
Cuba,
a ilha de Fidel, quando conquistou sua independência em relação à
Espanha, pagou caro com a concessão de Guantânamo como base militar
estadunidense. Não chamo americanos pois que americanos somos todos nós que
moramos neste continente.
A música Guantanamera é uma homenagem à mulher de Guantánamo:
brava, resistente, lutadora. Curiosamente, os maiores boxeadores
cubanos saíram de lá.
José
Marti, mártir da luta política no continente, ideólogo do
panamericanismo, quando morava nos E.U.A alertou sobre o nascimento do grande
império e da necessidade de uma unificação política na região com vistas ao
eminente perigo que morava ao lado. Ele e Simon Bolívar não foram ouvidos, logo depois nasciam o
Destino Manifesto, a Doutrina Monroe, o Corolário Polk e o Big Stick (América
para os americanos, política de defesa militar da região sobre o pretexto da
influência europeia). Resultado: Os E.U.A ocuparam o Panamá, tomaram conta do
canal, ocuparam Porto Rico (o grupo Calle 13 Latinoamerica defende a independência desse país).
Depois,
veio a política de segurança da região sobre o pretexto de
não proliferação do não-comunismo na
região. A grande questão era a expansão do grande capital monopolista na
região. Essa política resultou numa série de erupções de ditaduras militares na
região: Brasil, Uruguai, Argentina, Paraguai e Chile.
No
entanto, os E.U.A não são os únicos responsáveis pelos problemas políticos na
região. A multiplicidade de repúblicas autônomas durante o processo
de independência no século XIX, ao invés de uma região unificada como queriam
José Marti e Simom Bolivar, denotam o particularismo de cada lugar, a forma
como os mandatários locais, depois caudilhos, segmentaram qualquer
possibilidade de aliança política, tornando-se mandatários de suas regiões,
sempre com vistas ao interesse e sob a intervenção de grandes potencias e do
grande capital?
A
guinada para a esquerda: Lula (Brasil), Evo Morales (Bolívia), Hugo Chávez (Venezuela), Nestor
Kirchner (Argentina), Michele Bachelet (Chile), Rafael Correa (Equador), além
da aproximação política com Cuba, caso especial de Hugo Chávez, não foi nem de perto bem vista pelos
Estados Unidos e pelo restante do bloco capitalista. A região sempre foi
apanágio de grandes potências, primeiro da Inglaterra que interveio na independência e
depois participou ativamente das decisões das repúblicas e do império
brasileiro ao longo do século XIX, tendo inclusive influenciado na Guerra do
Paraguai, sem esquecer da participação inglesa na Guerra do Pacífico entre
Peru, Bolívia e Chile, na guerra do Chaco (entre Bolívia e
Paraguai), e nas intervenções políticas em vários países do
continente, depois, dos próprios
E.U.A, que promoveram o bloqueio continental a Cuba, hoje em vias de desaparecimento do embargo.
Sem
adentrar na tentativa de golpe contra Hugo Chavez (documentário: a
revolução não será televisionada), nem das nacionalizações de empresas
privadas na Bolívia por Evo Morales, muito menos na política de
combate às drogas na Colômbia patrocinada pelos Estados Unidos, no
entanto, o episódio recente do impeachment do presidente do
Paraguai é para lá de lamentável, e só revela nossa fragilidade, tanto interna,
quanto externa.
Ser
latinoamericano é estar à mercê de uma política instável? Será um traço nosso?
Não. As raízes disso estão nos nossos processos coloniais, na
formação de nossas identidades e nos projetos de nação que nasceram
pós-independência, e permanecem até hoje.
A
primeira crítica recai ao Brasil. Sempre foi imperialista, sempre. Primeiro, ocupando
o Uruguai, depois, participando do massacre ao Paraguai, em seguida, anexando o
Acre, comprando da Bolívia, e hoje exercendo um imperialismo econômico,
via Mercosul, às economias da região e a alguns países da África. No
Uruguai, Argentina, Peru há prevalência de carros, fogões e geladeiras
brasileiras, além de postos de gasolina da Petrobras dominando o cenário. A
desproporção econômica entre o Brasil e as demais nações é
gritante.
Mas
o fato é que nunca nos sentimos latinoamericanos, nunca. Isso nasceu no XIX
antes mesmo da independência. É verdade que somos os únicos a falar
português, como também sempre estivemos de costas para o continente. A classe
média brasileira prefere passear em Miami que visitar a Bolívia, Peru, ou
qualquer país da região.
Chegamos ao cúmulo de chamar os outros países de latinoamericanos,
como se não tivéssemos nada a ver com isso.
O
que nos unifica? O passado histórico colonial, a origem luso-espanhola, a
exploração, a pobreza. Há pelo menos três definições sobre o que identifica a
América Latina. a) Países de origem luso-espanhola, ou seja, colonizados
por Portugal, Espanha, acrescentando os de origem holandesa, francesa e
inglesa. b) Países do continente, grosso modo, do México à Argentina. c)
Uma definição geocultural, ou seja, aqueles de origem latina e caribenha
que tiveram suas origens étnicas em populações ameríndias e
acrescidas do contingente africano.
O
episódio recente do impeachment do presidente paraguaio
Fernando Lugo revela a falta de articulação política. Independentemente da
qualidade dele, ninguém pode ser retirado do cargo numa operação que durou
apenas 36 horas, feito a toque de caixa, sem que nenhum país do continente
desse conta disso. Dá a impressão que é normal neste continente a instabilidade
democrática, que tudo aqui não possui o estatuto do estado democrático de direito, que os
interesses internacionais sobrepujam aos nacionais, afinal, fazendeiros,
agropecuaristas, industriais apoiaram o golpe do impeachment.
Eu guardo uma cena linda quando estava no aeroporto de Lima, vestido com uma camisa vermelha escrita Peru no saguão esperando meu vôo de volta ao Brasil, quando um grupo de mais ou menos 100 argentinos, acompanhados de violão, sentaram no chão e começaram a cantar Mercedes Sosa:
Sólo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.
Que el dolor no me sea indiferente,
Que la reseca muerte no me encuentre
Vacío y solo sin haber hecho lo suficiente.
Sólo le pido a Dios
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Después que una garra me arañó esta suerte.
Que lo injusto no me sea indiferente,
Que no me abofeteen la otra mejilla
Después que una garra me arañó esta suerte.
Sólo le pido a Dios
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.
Que la guerra no me sea indiferente,
Es un monstruo grande y pisa fuerte
Toda la pobre inocencia de la gente.
Sólo le pido a Dios
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede más que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden fácilmente.
Que el engaño no me sea indiferente
Si un traidor puede más que unos cuantos,
Que esos cuantos no lo olviden fácilmente.
Sólo le pido a Dios
Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado está el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente
Eu senti vontade de me juntar a eles, mas estava do outro lado do saguão. Foi emocionante. Encerro com um desejo de José Marti:Que el futuro no me sea indiferente,
Desahuciado está el que tiene que marchar
A vivir una cultura diferente
Canción Por La Unidad Latinoamericana
Pablo Milanés
El nacimiento de un mundo se aplazó por un momento
un breve lapso del tiempo, del universo un segundo.
Sin embargo parecía que todo se iba a acabar
con la distancia mortal que separó nuestra vidas.
un breve lapso del tiempo, del universo un segundo.
Sin embargo parecía que todo se iba a acabar
con la distancia mortal que separó nuestra vidas.
Realizaron la labor de desunir nuestras manos
y a pesar de ser hermanos nos miramos con temor.
Cuando pasaron los años se acumularon rencores,
se olvidaron los amores, parecíamos extraños.
y a pesar de ser hermanos nos miramos con temor.
Cuando pasaron los años se acumularon rencores,
se olvidaron los amores, parecíamos extraños.
Qué distancia tan sufrida, que mundo tan separado
jamás hubiera encontrado sin aportar nuevas vidas.
Esclavo por una parte, servil criado por la otra,
es lo primero que nota el último en desatarse.
jamás hubiera encontrado sin aportar nuevas vidas.
Esclavo por una parte, servil criado por la otra,
es lo primero que nota el último en desatarse.
Explotando esta misión de verlo todo tan claro
un día se vio liberal por esta revolución.
Esto no fue un buen ejemplo para otros por liberar,
la nueva labor fue aislar bloqueando toda experiencia.
un día se vio liberal por esta revolución.
Esto no fue un buen ejemplo para otros por liberar,
la nueva labor fue aislar bloqueando toda experiencia.
Lo que brilla con luz propia nadie lo puede apagar,
su brillo puede alcanzar la oscuridad de otras costas.
Qué pagará este pesar del tiempo que se perdió.
de las vidas que costó, de las que puede costar.
su brillo puede alcanzar la oscuridad de otras costas.
Qué pagará este pesar del tiempo que se perdió.
de las vidas que costó, de las que puede costar.
Lo pagará la unidad de los pueblos en cuestión,
y al que niegue esta razón la historia condenará.
La historia lleva su carro y a muchos nos montará,
por encima pasará de aquel que quiera negarlo.
y al que niegue esta razón la historia condenará.
La historia lleva su carro y a muchos nos montará,
por encima pasará de aquel que quiera negarlo.
Bolívar lanzó una estrella que junto a Martí brilló,
Fidel la dignificó para andar por estas tierras.
Bolívar lanzó una estrella que junto a Martí brilló,
Fidel la dignificó para andar por estas tierras.
Fidel la dignificó para andar por estas tierras.
Bolívar lanzó una estrella que junto a Martí brilló,
Fidel la dignificó para andar por estas tierras.
É sempre muito interessante ler as tuas crônicas; são de uma riqueza de detalhes, de uma sensibilidade ímpar ... Parabéns!
ResponderExcluirobrigado, querido (a) anonima. fico honrado com seus elogios. vou continuar escrevendo. abraços do henrique
ExcluirHenrique, teu texto faz um bom apanhado geral acerca dos problemas nacionais das Américas Central e do Sul. Traz consigo a influência danosa dos ianques. E aponta o problema autóctone da falta de unidade, tão aspirada por José, por Simon e, não esqueçamos, por Sousândrade. Além de emoldurá-lo com essas grandes canções da nossa música (me permita de assim chamá-las de nossa música). Parabéns, meu amigo e aquele abraço.
ResponderExcluirmarcos, tens razão, tinha esqueçido do sousandrade, é verdade, ele propoe um panamericanismo para bandas do sul do continente. obrigado nego, abraços do amigo henrique
ExcluirHerr Borralho dein Text ist gut.Du hast wirklich über den Kontext von Südamerik Geschichte geschrieben... Ah!Brasiliein ist ein Kopie von USA, ist traurig, aber sehr wahr. Sie haben der amerikanische 'Amerikan Way of Life' gekauft. Sie produzieren und sie verkaufen unser Produktion, aber Sie kaufen auch...Was kaufen Sie? Der Konsumismus, z.B Autos, Handys, PCs,... alles sinnlos. Die Autos sind viele und haben kein gut den Verkehr, wie Bus, Zug,... In Europa haben keine Lust von Konsumismus. Sie bezahlen Steuern und Sie haben guten Verkehr und Lebensqualität. Ich denke, jetzt ist Brasilien willkommen in USA, ja klar können Brasilianer die Produktion von USA kaufen... Aufwachen Brasilien...Ich habe auf Deutsch geschrieben, weil ich die Deutschsprache üben, lernen. Grüße :)
ResponderExcluirquerida, joguei teu texto no translator e vi a tradução. parabéns pela escrita em alemão. gostei da pertinencia do comentário. continue treinando. é bom saber que me lés, mesmo de tão longe. abraços do Henrique
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