O
que é contemporâneo? Essa é uma pergunta de difícil resposta, afinal,
moderno/tradição, atual/arcaico, velho/novo, moderno/pós-moderno, compõem um
glossário daquilo que pode arbitrariamente ser chamado de contemporâneo.
O
contemporâneo é uma experiência radical em que tudo pode ser encaixado.
O permanente de hoje, a perpetuação de uma fantasmagoria recalcitrante
como se o ontem, cada vez mais distante, fosse naturalizado. Então, quando o
hoje não apresenta perspectivas futuras, o ontem é presentificado, colocado como uma perspectiva
que, ainda que não atual, coloca-se
como se fosse.
O
cinema, a literatura, as artes plásticas, a fotografia, a música, têm nos
mostrado experiências do que é ser contemporâneo. Fazem-nos sentir sensações novas, completamente
inéditas, ainda que tais experiências no plano da existência já tenham sido
vividas. O que é novo e a percepção sobre elas é viver como se fossem ainda
não-vividas. Isso é uma experiência contemporânea. Giorgio Agambem tem se
debruçado sobre o que é contemporâneo, para ele, uma experiência do indelével.
As
imagens de massacres em escola dos Estados Unidos em que jovens são mortos num
lugar simbólico como a escola é contemporâneo porque dessacraliza um lugar até
então ilibado. As mães nos Estados Unidos precisam levar seus filhos às
escolas, mas ficarão cada vez mais receosas.
Gozar
da sensação de ficar famoso da noite para o dia também é uma experiência
contemporânea, ainda que a fama dure quinze minutos. Muitos dos assassinos dos
massacres em escolas dos Estados Unidos, mesmo sabendo que seriam presos ou
mortos, mataram pela fama.
A
proliferação de paparazzis, de revistas sobre a intimidade das
pessoas, do sucesso do facebook são outros sintomas disso. A
necessidade de exploração de um rosto anônimo é a própria dialogicidade da competição
contemporânea. Em meio à
dificuldade de ser diferente, de dizer algo num mundo cada vez mais exótico e
ao mesmo tempo igual, é o fetiche que leva as pessoas a notabilizarem suas
existências, ainda que a exposição seja cada vez mais efêmera. As pessoas se
cansam cada vez mais do que é diferente e vão em busca de algo mais diferente
ainda; na música, na comida, no cinema, na moda, nas viagens.
Por
isso que consumir poesia é tão difícil. Para ler poesia é preciso
condensação, tempo, e poucas pessoas se dão ao trabalho de se darem tempo; a vida é cada vez mais veloz.
Por
isso também o sucesso de blogs, por exemplos; escrita rápida,
meio cronista, meio jornalística, sem grandes textos. O blog é um
fenômeno contemporâneo, o mp3 também, a internet móvel, tablets, ipods, iphones.
Ser
contemporâneo é como estar numa estação de metrô hipermoderna. Se perder o
próximo carro, trem, vem outro, mas você vai chegar atrasado, ainda que sejam
apenas três minutos.
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