Os
romanos nos tempos áureos do grande império dominaram a atual Europa,
partes da Ásia e norte da África. A fome por mais terra levou-os aos pontos
mais distantes do seu centro, como também à ruína, corroborada pela
insurreição dos plebeus, pela inconstância política, pela crise
agrícola e pelas invasões bárbaras.
A
atmosfera do imaginário medieval alicerçada na condição pecadora dos homens
durou quase toda a Idade Média.
Os ventos do comércio, das navegações, das grandes descobertas, da ascensão da
burguesia, da revolução na arte e no pensamento com o Renascimento abalaram a
segurança daquele modelo de vida.
A
modernidade vislumbrava uma prospecção de aventura e mudança, de expectativas e
incertezas, trazendo o moderno, em latim, modernitas, trazer o
novo, como horizonte. Essa aventura já dura mais de 500 anos. Estamos
possivelmente no limiar de tal experiência. A bem da verdade, já estamos na esfera
ultramoderna, todas as circunstâncias de tal projeto já foram experimentadas.
Não há nada que o homem moderno não tenha vivenciado, a não ser a superação
desse modelo existencial.
Assistimos
ao longo do século XX ao prolongamento
de várias possibilidades existenciais. As promessas do iluminismo de
felicidade, paz e progresso, pautados no racionalismo sensitista não logrou
êxito, tampouco serão atingidos pelo consumismo, hipertecnicização e
hiperindividualismo.
Os
ventos que balançam o mundo nesse exato momento, cada vez mais fortes, colocam
em xeque um modelo referencial de sociabilidade e convivência, cujo referencial
está assentado no capital financeiro-produtivo internacional.
O
mundo tecnologicamente interconectado abala governos, estruturas
políticas antigas e velhos baluartes. A mudança é um processo endógeno à
história. Os vários movimentos sociais no mundo aparentemente não estão
associados, mas fazem parte de uma mesma condição conjuntural.
Avanços
de países mais voltados à esquerda na América Latina (discutíveis conceitos e
atitudes), o presidente Obama propondo um sistema de saúde financiado em parte
pelo estado, crise econômica na Europa, limites do modelo de crescimento
econômico chinês, primavera árabe, nova insurreição no Egito, crítica ao modelo
econômico do Chile, ampliação do debate ecológico, avanço da democratização da
informação, são alguns exemplos.
Na
Grécia surgiu recentemente um movimento encabeçado por desempregados optando
por moradia alternativa, longe do mercado, vivendo de escambo. Não há
circulação de moedas. Claro que é um caso isolado, apresenta limites, a moeda
quase sempre existiu, no entanto, isto é um sintoma.
Como
europeus, poderiam procurar empregos em outras partes do continente, já que não
existe limite de empregabilidade entre os cidadãos membros da comunidade europeia,
ou mesmo seguirem para os países do Norte: Suécia, Noruega, Finlândia e
Dinamarca, melhores qualidades de vida da terra e longe da crise financeira,
entretanto, optaram por se
refugiar longe da competitividade.
Essa
iniciativa surge como crítica
ou alternativa ao modelo ultramoderno, um sinal de superação da sociedade
decetiva ocidental – “global”, em que nada é capaz de suprir a ânsia por mais
consumo, qualquer que seja ele.
Essa
lógica acelerada nem sempre existiu. Ela se acentuou após o “fracasso do
movimento contracultural das décadas de 60 e 70 do século XX”, depois da queda
do muro de Berlim, quando o sistema capitalista internacional arregaçou as
mangas para recuperar os prejuízos ou a ausência de altos rendimentos
durante o período da polaridade capitalismo-socialismo em que teve que investir
na política de bem-estar social. Agora, ele triunfa reinante.
A
nova lógica social não apresenta grandes perspectivas de mudanças, utopias e/ou
ideologias. Considera a condição de se dar bem a única possibilidade (há exceções, claro), é prática
e pragmática, não acredita em esfera da política, dos jogos do político. Isto
é circunstancial. As pessoas se movem conforme as peças do tabuleiro,
se o panorama mundial mudar, as pessoas mudam. Ou seja, o entendimento acerca
de que a única condição existencial é esta que está posta leva as pessoas a não
visualizarem outras alternativas.
É
uma questão educacional, como também ética. Como não há ética na disputa do
mercado, prevalece a receita de que os melhores são os vencedores, os que
conseguem ultrapassar os outros sem solidariedade, sem fraternidade, são
exemplos para os demais. Os arquétipos ultramodernos são: atingir sucesso, se
dar bem, independentemente dos valores.
O
que quero dizer é que o ultracapitalismo moldou a nova condição existencial. Se
coloca como única possível, a tal ponto que qualquer outra
alternativa se tornou inexorável, inimaginável, como se apresentar qualquer
saída passou a ser inverossímil, anedótico, deslocado. O ultracapitalismo
roubou as esperanças, os sonhos, tornou tudo tábula rasa.
A
competitividade favorece o mercado, mas fenece a igualdade entre as pessoas.
Peremptoriamente, a ideologia moderna de que o sol nasceu para todos é mais do
que nunca uma roupa velha que não nos cabe mais.
No
entanto, nem tudo é desesperança!!! Vem aí uma nova sociedade global, os que
resistem a essa ideia serão lembrados como uma categoria tão antiquada
quanto os senadores romanos da época do império, quanto os reis
do período medieval europeu, quanto os ditadores do século XX.
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