domingo, 9 de dezembro de 2012

A aurora de um novo tempo: vem ai uma nova sociedade global

Os romanos nos tempos áureos do grande império dominaram a atual Europa, partes da Ásia e norte da África. A fome por mais terra levou-os aos pontos mais distantes do seu centro, como também à ruína, corroborada pela insurreição dos plebeus, pela inconstância política, pela crise agrícola e pelas invasões bárbaras.

A atmosfera do imaginário medieval alicerçada na condição pecadora dos homens durou quase toda a Idade Média. Os ventos do comércio, das navegações, das grandes descobertas, da ascensão da burguesia, da revolução na arte e no pensamento com o Renascimento abalaram a segurança daquele modelo de vida.

A modernidade vislumbrava uma prospecção de aventura e mudança, de expectativas e incertezas, trazendo o moderno, em latim, modernitas, trazer o novo, como horizonte. Essa aventura já dura mais de 500 anos. Estamos possivelmente no limiar de tal experiência. A bem da verdade, já estamos na esfera ultramoderna, todas as circunstâncias de tal projeto já foram experimentadas. Não há nada que o homem moderno não tenha vivenciado, a não ser a superação desse modelo existencial.

Assistimos ao longo do século XX ao prolongamento de várias possibilidades existenciais. As promessas do iluminismo de felicidade, paz e progresso, pautados no racionalismo sensitista não logrou êxito, tampouco serão atingidos pelo consumismo, hipertecnicização e hiperindividualismo.

Os ventos que balançam o mundo nesse exato momento, cada vez mais fortes, colocam em xeque um modelo referencial de sociabilidade e convivência, cujo referencial está assentado no capital financeiro-produtivo internacional.

O mundo tecnologicamente interconectado abala governos, estruturas políticas antigas e velhos baluartes. A mudança é um processo endógeno à história. Os vários movimentos sociais no mundo aparentemente não estão associados, mas fazem parte de uma mesma condição conjuntural.

Avanços de países mais voltados à esquerda na América Latina (discutíveis conceitos e atitudes), o presidente Obama propondo um sistema de saúde financiado em parte pelo estado, crise econômica na Europa, limites do modelo de crescimento econômico chinês, primavera árabe, nova insurreição no Egito, crítica ao modelo econômico do Chile, ampliação do debate ecológico, avanço da democratização da informação, são alguns exemplos.

Na Grécia surgiu recentemente um movimento encabeçado por desempregados optando por moradia alternativa, longe do mercado, vivendo de escambo. Não há circulação de moedas. Claro que é um caso isolado, apresenta limites, a moeda quase sempre existiu, no entanto, isto é um sintoma.

Como europeus, poderiam procurar empregos em outras partes do continente, já que não existe limite de empregabilidade entre os cidadãos membros da comunidade europeia, ou mesmo seguirem para os países do Norte: Suécia, Noruega, Finlândia e Dinamarca, melhores qualidades de vida da terra e longe da crise financeira, entretanto, optaram por se refugiar longe da competitividade.

Essa iniciativa surge como crítica ou alternativa ao modelo ultramoderno, um sinal de superação da sociedade decetiva ocidental – “global”, em que nada é capaz de suprir a ânsia por mais consumo, qualquer que seja ele.

Essa lógica acelerada nem sempre existiu. Ela se acentuou após o “fracasso do movimento contracultural das décadas de 60 e 70 do século XX”, depois da queda do muro de Berlim, quando o sistema capitalista internacional arregaçou as mangas para recuperar os prejuízos ou a ausência de altos rendimentos durante o período da polaridade capitalismo-socialismo em que teve que investir na política de bem-estar social. Agora, ele triunfa reinante.

A nova lógica social não apresenta grandes perspectivas de mudanças, utopias e/ou ideologias. Considera a condição de se dar bem a única possibilidade (há exceções, claro), é prática e pragmática, não acredita em esfera da política, dos jogos do político. Isto é circunstancial. As pessoas se movem conforme as peças do tabuleiro, se o panorama mundial mudar, as pessoas mudam. Ou seja, o entendimento acerca de que a única condição existencial é esta que está posta leva as pessoas a não visualizarem outras alternativas.

É uma questão educacional, como também ética. Como não há ética na disputa do mercado, prevalece a receita de que os melhores são os vencedores, os que conseguem ultrapassar os outros sem solidariedade, sem fraternidade, são exemplos para os demais. Os arquétipos ultramodernos são: atingir sucesso, se dar bem, independentemente dos valores.
O que quero dizer é que o ultracapitalismo moldou a nova condição existencial. Se coloca como única possível, a tal ponto que qualquer outra alternativa se tornou inexorável, inimaginável, como se apresentar qualquer saída passou a ser inverossímil, anedótico, deslocado. O ultracapitalismo roubou as esperanças, os sonhos, tornou tudo tábula rasa.

A competitividade favorece o mercado, mas fenece a igualdade entre as pessoas. Peremptoriamente, a ideologia moderna de que o sol nasceu para todos é mais do que nunca uma roupa velha que não nos cabe mais.

No entanto, nem tudo é desesperança!!! Vem aí uma nova sociedade global, os que resistem a essa ideia serão lembrados como uma categoria tão antiquada quanto os senadores romanos da época do império, quanto os reis do período medieval europeu, quanto os ditadores do século XX.






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