Há
autores, como Jean Delumeau (A civilização do Renascimento), que
afirmaram ser os primórdios do capitalismo as fases de estabelecimento
do monopólio comercial das cidades italianas, como Veneza, por
exemplo, o princípio de uma concepção acumulativa protocapitalista, vez que,
com a proibição da usura pela Igreja Católica, a prática de incutir nos
contratos marítimos de navegação, o ágio, a sobretaxa, formas iniciais de
acumulação primitiva.
Tal
prática derivou o surgimento das letras de câmbio, das
notas promissórias e da escrita veneziana, conhecida hoje por
contabilidade. Implica dizer que o capitalismo, do ponto de vista do imaginário
e ideário social, surgiu antes mesmo de sua configuração econômica, permeada de
uma atmosfera ainda medieval.
A
onda de protestos ao redor do mundo: Argentina, Chile, Itália, Espanha, Grécia,
Portugal, Eslovênia, quanto à crise econômica, indica não apenas que de fato
ela é global, mas que tal onda sinaliza como o problema da circulação de
mercadorias, serviços e acesso ao consumo é cada vez mais a pauta de sociedades
que gozaram de um certo padrão de consumo, do quanto exigem dos seus estados
nacionais medidas não apenas paliativas, mas sanadoras de tais questões,
de como não admitem não fazerem parte de uma rede de benefícios e serviços, ao
mesmo tempo, aponta uma certa ambiguidade quanto ao movimento sazonal do
capitalismo.
O
capitalismo é cíclico, uma vez estabelecido um alto padrão de consumo
para países europeus, vai em busca de novos mercados com taxas de lucro
ainda maiores ou constantes; agora é a vez da
China. Além disso, tal sistema sempre esteve atrelado ao estado, vide os
socorros constantes que recebeu, por exemplo, dos governos estadunidense depois
do Crash de 1929, também após a Segunda Guerra Mundial quando
os Estados Unidos salvaram da debaclê total Japão e Europa,
depois, crise do petróleo na década de 70, e assim
sucessivamente.
Existe
um certo paradoxo nessa nova onda global de protestos: as sociedades ao redor
do mundo, grosso modo, são capitalistas, ou seja, suas relações estão pautadas
no liberalismo, na livre concorrência, no entanto, os protestos quase sempre têm como alvo os governos de
seus países e não o sistema financeiro e produtivo mundial, como se tais
estados estivessem acima do mercado, responsáveis por uma crise setorizada,
quando na verdade não estão.
Os
governos até podem minimizar uma crise de um setor, mas não darão conta do
problema estrutural da produção e circulação de mercadorias. Em outras
palavras, qual é o papel do estado ante a força do capital? Seu poder de
manobra é muito pouco, cada vez menos. Os estados são espectros do grande
sistema financeiro internacional.
Foi
a circulação de mercadorias que propiciou a partir do imaginário o surgimento
de práticas protocapitalistas em cidades italianas nos séculos XII, XIII e XIV,
uma nova concepção social seria capaz de entender as novas dinâmicas
econômicas. Até lá, não há outra saída a não ser ir às ruas.
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