sábado, 1 de dezembro de 2012

A esperança como utopia

A vida é uma invenção, não biologicamente falando, mas discursivamente. Nem sempre existiu a compreensão de respeito à integridade física em relação ao outro, ou mesmo quanto a concepção de que a vida deveria ser respeitada. 

Entretanto, à medida que a humanidade foi se constituindo enquanto um amálgama de significados ilativos, tais como: união, solidariedade, amizade, liberdade, dentre outros, estes sentidos foram se corporificando enquanto projetos de humanismo, característica pletora da existência da condição humana. A partir destes sentidos fomos moldando os conceitos de cultura, sociabilidade, comunicabilidade, interação.

Vivemos tempos de derrocada das metanarrativas, dos projetos e sonhos de igualdade, das utopias. O século XX constitui-se enquanto laboratório de grandes experimentos e esperanças, também de frustrações. O século XXI já se inicia com propaladas pitadas de desesperança, niilismo, ceticismo. 

É certo que o discurso otimista, travestido na literatura de auto-ajuda, constitui-se enquanto uma ferramenta do mercado, um instrumento de arrecadação de vultosos capitais a partir da publicidade e promessa de vida melhor ante o caos social, ou seja, a "onda do otimismo" se transformou num fetiche, numa lógica de consumo. 

Por outro lado, o discurso pessimista também segue a mesma lógica, quer dizer, se transformou numa percepção auto-referenciada, um instrumento de consumo, afinal, também virou moda ser pessimista, considerar que não há saída, além do caráter ideológico e do favorecimento do capital não oferecer alternativas ao capitalismo. Virou um habitus, no sentido de Bourdieu.  

Ainda assim, o niilismo e o ceticismo enquanto críticas ao que está posto, ao que não serve, são melhores que o otimismo alienado, sem reflexão e criticidade social, mas existem limites. 

Precisamos enxergar movimentos ao redor do mundo que sinalizam mudanças, tais como: o movimento ambientalista, o slow food, slow scienceslow travel, a crise econômica europeia que faz emergir uma nova juventude que repensa o lugar do consumismo, a primavera árabe, o avanço da esquerda na América Latina (esquerda na América Latina não é a mesma coisa que na Europa), a democratização da informação via internet, a revolução da produção cinematográfica, a ampliação do mercado editorial, os limites da sociedade ultramoderna, altamente decetiva e que não consegue se sentir bem apesar da esfera e circulação de mercadorias, o surgimento de espaços alternativos de discussão, de movimentos sociais, tais como hip hop, a música de protesto na América Latina, a emergência de novos países enquanto atores econômicos, dentre tantas outras questões.

A esperança precisa ser uma utopia constante porque o tempo não para, a história é dinâmica e somos capazes de superar essa fase hiperindividualista. 







2 comentários:

  1. Bobo e alienado para mim, é o cara ver tudo que vem acontecendo ao seu redor e não parar para pensar e refletir sobre tudo isso...
    Pensar num mundo melhor e principalmente em como faze-lo ser assim não é ser bobo, muito menos alienado, mas sim uma grandiosa peça chave para o início ou crescimento de um pensamento que deveria ser mundial!
    Vejo todos os dias oque descreves em texto, dentro do próprio meio acadêmico, um individualismo sem fim, onde uns passam por cima de outros, sem almenos se importar se aquilo será bom ou ruim, é como meu pai sempre diz, hoje as pessoas vivem no discurso: "O que importa sou eu, o resto que se dane"!
    Que se dane os amigos e os inimigos...
    Que se dane essa droga de democracia disfarçada que vivemos...
    Que se dane a fome no mundo, minha barriguinha está cheia, isso que importa...
    Que se dane o pobre,que não tem dinheiro para gastar em nossas lojas...
    Que se dane a vida, pois em breve o mundo capitalista encontrará a formula da imortalidade!!!

    E é assim que hoje vivemos... e enquanto assim for, tadinho desse mundo...
    prefiro viver uma utopia da esperança do que morrer sem sonhar, lutar, acreditar... e espero verdadeiramente que a sociedade um dia acorde e perceba isso também...
    Abrir tal discussão na internet é um começo, e um bom começo, esse é o caminho!

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    1. obrigado por sua indignação, bem-aventurados os que tem fome e sede de justiça, eles serão saciados.

      abraços

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