quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Dual univoco

Reconheço ao longe tua toponímia, teu gigante de pedra a guarnecer a tua baía, tuas montanhas, mar e relva, tua gente outrora mais descolada, hoje, bem mais apressada.  Reencontrar-te é sempre me reencontrar. É como pressionar uma tecla do meu controle interno escrito: “lúdico”, acessando meus canais sinestésicos. É como escrever literatura no sentido proposto por Simone de Beauvoir: abrir mão de si mesmo, dar vazão ao que não é seu, deixar fluir o que está sem si, mesmo sem ser seu.

Estar em ti é reconhecer a cissiparidade em mim; de um lado, um texto fluídico, solto, leve; de outro, saber que se entrei é porque não sou daqui, logo, a lembrança do outro texto consistente, claro, profundo, um outro lugar, às vezes menos poético.

É como se duas literaturas existissem no mesmo homem dividido por dois textos compostos por metáforas, sinédoques, metonímias distintas. Os dois coexistem, precisam um do outro, se reconhecem nas ausências, exatamente quando estão em lugares distantes.

São cidades grafofagias de tessituras urbanas análogas. Cada rua, uma pontuação. Lá, a asserção, aqui, exclamação!!!!! Às vezes se confundem: lá, asserção e exclamação, aqui, indignação!!  Depende da posição que a palavra quer me levar: se aqui por querer ser mais leve, se lá, por ter o que falar. Lá, me obrigo a sempre ter o que dizer. Ainda não atingi a condição existencial de Kierkegaard: ser o que se é independentemente das circunstâncias e lugares.

Uma coisa sei: quando aqui estou assumo uma literatura como a de Marguerite Duras: lá, escrevo sobre o que sei, aqui, sempre falo do que não sei!

      



         

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