Reconheço ao longe tua toponímia, teu gigante de pedra
a guarnecer a tua baía, tuas montanhas, mar e relva, tua gente outrora mais
descolada, hoje, bem mais apressada. Reencontrar-te
é sempre me reencontrar. É como pressionar uma tecla do meu controle interno
escrito: “lúdico”, acessando meus canais sinestésicos. É como escrever
literatura no sentido proposto por Simone de Beauvoir: abrir mão de si mesmo,
dar vazão ao que não é seu, deixar fluir o que está sem si, mesmo sem ser seu.
Estar em ti é reconhecer a cissiparidade em mim; de um
lado, um texto fluídico, solto, leve; de outro, saber que se entrei é porque não
sou daqui, logo, a lembrança do outro texto consistente, claro, profundo, um
outro lugar, às vezes menos poético.
É como se duas literaturas existissem no mesmo homem
dividido por dois textos compostos por metáforas,
sinédoques, metonímias distintas. Os dois coexistem, precisam um do
outro, se reconhecem nas ausências, exatamente quando estão em lugares
distantes.
São cidades grafofagias de tessituras urbanas análogas.
Cada rua, uma pontuação. Lá, a asserção, aqui, exclamação!!!!! Às
vezes se confundem: lá, asserção e exclamação, aqui, indignação!! Depende
da posição que a palavra quer me levar: se aqui por querer ser mais leve, se
lá, por ter o que falar. Lá, me obrigo a sempre ter o que dizer. Ainda não
atingi a condição existencial de Kierkegaard: ser o que se é independentemente
das circunstâncias e lugares.
Uma coisa sei: quando aqui estou assumo uma literatura como
a de Marguerite Duras: lá, escrevo sobre o que sei, aqui, sempre falo do que
não sei!
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