Começo a me quedar na história da literatura contemporânea os
conotativos, as semelhanças e similitudes da acepção agambeniana de superação e
potência e vejo como em autores como Fernando Pessoa, Camus, Kakfa, Virginia
Woolf, Clarice Lispector, Florbela Espanca, Drummond, Gullar, dentre tantos
outros, há um preludio da desconfiança dos dispositivos contemporâneos e uma
aposta na busca do eu-coletivo.
Por dispositivo, Agambem toma
a conotação linguística que se refere
aos conceitos operantes dos sentidos na construção de logicidades,
emanações sociais, uma ponte entre uma concepção para se chegar à elaboração de
conjunções sociais. Por exemplo: um dispositivo eletrônico é um aporte, uma
ferramenta para se processar algo, atingir um fim a que se quer chegar. Um
dispositivo jurídico é uma ferramenta administrativa que dá sentido e
concatenação à semântica jurídica, ao ordenamento da lei. Um dispositivo
linguístico é uma operação semântica, uma artimanha do conceito para estruturar
um ordenamento mental, visando à compreensão de uma dada condição social.
Pois bem. Os dispositivos contemporâneos norteadores de uma
ideia de equilíbrio social, de felicidade, de segurança, de bem-estar, fracassaram e com isso todos os apetrechos contemporâneos
que prometeram dar subsídio
ao vazio humano também, como consumo, interatividade, interconectividade,
agilidade, simultaneidade, equilíbrio, dentre outros.
Todos esses elementos não estão desconectados de sua
referencialidade política,
ou seja, das instituições, dos discursos, das instâncias consagradoras e legitimadoras da ideia
de modernidade e contemporaneidade. Quando tais instâncias e instituições não conseguem mais
alavancar a perspectiva de bem-estar e procuram fazer arranjos, consertos e não
substituição dos dispositivos contemporâneos aumentam consequentemente o vazio
e a solidão das pessoas.
É como se os dispositivos enchessem as pessoas de
penduricalhos, cada vez aumentando a dependência dos dispositivos, inclusive os
eletrônicos, reverberando e criando uma dependência autorreferenciada, um ciclo vicioso de difícil
desdobramento.
Somente enxergando a sombra da contemporaneidade é possível
sair deste labirinto. O problema é que as pessoas,
embora advoguem a noção de independência, de autonomia individual, de
descrenças na política e nas instituições, muitas não conseguem se livrar dos
dispositivos eletrônicos e institucionais, tais como celular, facebook, democracia, sucesso,
fama, e estes instrumentos, por sua vez, não conseguem suprir o descolamento do efêmero, do
esvaecente, como diria Kierkegaard, em que viver, ousar, ser um indivíduo no
mundo, ser a si próprio, experimentar o
deserto, é necessário.
Ser sozinho não é desprezar e desconsiderar o outro, é
compreender que os dispositivos não interligam, que as redes sociais conectam
desconectando o eu de mim mesmo, que a saída não é dependência do outro, a
dependência doentia, qual propugna a noção de popularidade, de sucesso,
causando ainda mais estrago quando a popularidade e o sucesso não chegam ou vão
embora.
No entanto, como tudo na vida,
existem dois ou mais lados, a crise dos dispositivos abre um flanco, uma porta
para suas superações, ou seja, a solidão contemporânea é ao mesmo tempo sintoma e uma
oportunidade de emancipação dos dispositivos e uma grande chance de nos
conectarmos conosco.
As vezes essa modernidade me faz lembrar um grande túnel onde muitos carros com grandes luzes e efeitos se destacam na escuridão. Não há salvação no final, existe apenas grandes xenon's que se apresenta por toda lataria,em cima embaixo , por dentro , por fora do carro há luz, um farol que não norteia a si próprio.Lá dentro quase que imperceptível é possível enxergar um olhar cansado e frio . Destruído pelo estress dos canhões de luz, cansado do ritmo frenético do freio, embreagem, a aceleração, da embreagem, a aceleração e o freio, em um ritmo continuo, mortífero e taciturno. Acelerar é preciso, porem é um suicídio. Afinal de contas, do que vale a vela se não o fogo, do que vale o fogo se não o calor, do que vale o calor se não a vida. Que haja vida.
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