Viver é com tentar pegar ondas,
no começo as marolas, a arrebentação, a onda grande a sua frente, o difícil equilíbrio de se manter em pé, a queda, o rescaldo.
É preciso aprender a ficar submerso.
Ficar imerso de novo, começar um novo ciclo,
se levantar de novo, entender o movimento das ondas,
ter jogo de cintura,
não brigar com as ondas, fruir com elas, não são adversarias,
são uma forca da natureza e da vida, como os antigos reis havaianos a compreendiam,
não é esporte,
não é competição, é interação,
não há um vencedor, não há o que vencer,
é sobre deixar seguir, não resistir,
saber esperar a onda certa,
olhar para o horizonte,
a sincronia entre céu, sol, mar, onda, corpo, movimento.
Surfar é uma metáfora da vida: há ondas que são suas, há outras que não.
E ao chegar à beira mar começa um novo ciclo,
tudo de novo,
pois como as ondas, a vida não para, sempre ali, constante, rítmica, sinuosa, ciclotimica, selvagem, majestosa, imprevisível, surpreendente, pois cada onda é única, singular, indefectível, plena em si mesma