Há uma estreita ligação
entre a introspecção e a descoberta de mundos. As descobertas do que existe
fora de nós, como se fosse possível existir o fora, ou como se o fora não fosse
extensão do que há dentro enquanto projeção, enquanto vibração, ou ainda enquanto
soma das coisas que somos nós, são reencontros. Não que sejamos a medida de
todas as coisas, e sim que as coisas são mediadas, atravessadas para serem
percebidas, ainda que existam independentes de nós.
Mediadas, aquilo que
media, meio, existente por ser nem começo, nem fim, processo, instante
eterno-fugidio, eterno-fugaz, eterno-volátil, presente-ausente. O que media,
conecta. O que conecta, liga, o que liga, cria pontes, ilaça. As pontes tocam
extremos, servem de passagem ao mesmo instante em que são em si passagens.
Somos pontes, somos
meios, somos passagens e estamos de passagem. Somos eternos, mas nem sempre
existimos. Como pode algo ser eterno mesmo sem nunca ter sempre existido? Talvez,
pela razão de que algo, depois de criado, passando a existir, para sempre exista, ainda que pereça.
A ideia de mesmo nunca
ter sempre existido para algo existir é em si paradoxal, preexiste enquanto
força, ideia, potência, vontade, desejo. O existir é o desdobramento do que
preexiste. O que preexiste antes do existir é, então, uma potência de si, necessitando
de algo que, pelo desejo, o torne real. Desejo e potência do que preexiste,
ainda que não sejam a mesma coisa, passam a ser, pois que, depois de efetivado,
o que passa a existir é uma ação do desejo.
A introspeção cria
mundos, ou os mundos se revelam pela introspecção. Se aquilo que é imaginado
passa a existir, então somos cocriadores de mundos, ou os mundos se apresentam a nós pelos nossos desejos de (re) encontrá-los. Os desejos são as potências da
criação e, ao mesmo tempo, as vontades manifestas dos mundos de continuarem
a existir em nós, por nós e em nós.
Os nós são os laços que
nos afetam e nos atam ao desejo de sentir o que é existir. Existir, então,
passa a ser uma forma mais elaborada do preexistir, pois o existindo tem a
necessidade de se expandir, criando coisas novas, preexistentes dentro de nós,
a tal ponto de não sabermos mais
o que é preexistente do existente.
A introspecção cria
mundos ou é criada por eles? Se os mundos são criações das introspecções, então
só existem dentro de nós, e, no entanto, existem em nós e além.
Por que introspectar?
Porque talvez seja a melhor forma de encontrar outros mundos para além do que
enxergamos, ou porque os mundos existem dentro de nós e só podem ser acessados
olhando para dentro. Um grande enigma, talvez, repouse nisto: os mundos se escondem dentro de nós mesmos,
sendo espacialmente infinitamente maior que nós. Como pode o macro caber no
micro? Como pode aquilo que foi criado antes se esconder dentro de nós? Porque
os nós atam dois mundos: o do desejo e o da ação, sendo os mundos ações dos desejos.
Pelos desejos criamos
mundos e os mundos são as nossas moradias, dentro e “fora”. Por que precisamos
de mundos para morarmos? Porque o desejo do preexistir necessita da forma
manifesta para a efetivação de suas extensões, uma vez que a ação manifesta
reverbera o desejo e porque uma vez dentro eles querem se expandir.