Ana Cristina Teodoro da Silva
Ontem eu fiquei verdadeiramente
triste com a morte de Eduardo Campos. Apenas hoje pude juntar palavras ao
sentimento, vindas (claro!), de um velho, Cristovam Buarque. Ele, que conta 70
anos, se diz órfão, não tanto da orfandade de um amigo, que gera sensação de
desproteção, mas de orfandade política, que gera a sensação de falta de
esperança.
Buarque teria nesses dias uma
reunião com o candidato morto, Campos queria ouvir como erradicar o
analfabetismo no Brasil. E Buarque (atenção quem acha que todo político não
presta) tinha duas coisas a dizer-lhe: 1) o governo federal deve
responsabilizar-se pelas escolas das prefeituras que não tem como mantê-las
dignamente, enviando para lá professores em um programa federal. Penso: isso
poderia ser o início de uma lenta revolução nesse país. 2) precisamos de um candidato que diga que
enquanto houver uma família necessitada, haverá bolsa-família, mas enquanto
houver essa necessidade eu não descansarei. E o caminho para não termos tal
necessidade passa pela educação.
Buarque não será candidato nessa
eleição, o que só aumenta minha admiração. Diz-se sem entusiasmo, não com a
política, mas com os arranjos políticos atuais.
Mais cedo ouvi um trecho de
análise que considerei muito importante, também. O Brasil tem uma carência de
lideranças que resulta do período da ditadura militar (quem falou? Míriam
Leitão! Acho que Campos é um dos que sabiam que os “bons” não são tão bons, e
alguns “ruins” não tão ruins. Problemáticas são as oposições artificiais com
pólos semelhantes). Quantas potências de vida teriam trabalhado esses anos
todos se não tivessem sido mortas, caladas por um regime moralista e
autoritário?
Enfim, é um alento entender o que
sentimos, percebo que minha tristeza é desesperança, é o peso de nossa herança
histórica, significadas nas mortes de ontem.
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