A
pesquisa é um traço da condição humana. Por ela em parte nos tornamos humanos.
Quando começamos a desconfiar de que não éramos meramente humanoides, que
tínhamos pensamento ascético, começamos a questionar e a utilizar as mãos como
ferramentas, a registrar nosso dia
a dia desenhando nas cavernas, tudo a nossa volta passou a ser objeto de
pesquisa, de busca e de descoberta.
Depois
apareceu a pesquisa sistematizada, a epistemologia do conhecimento, os estudos
sobre a linguagem, o conceito de ciência. À medida que descobríamos coisas
novas nossas mentes se ampliavam no desiderato de perscrutar o indelével, o
não-dito, o não revelado.
As
pesquisas se ramificaram em mil subdivisões, classificações, possibilidades
interpretativas do mundo. Todas válidas no exercício de ampliação sobre o
enigma da existência. Também foi objeto de disputa, de relação de poder,
afinal, como bem afirmou Francis Bacon: “Saber é poder”.
Se
tornou algo tão poderoso que foi instrumento de validação de postulados, de
hierarquização de princípios e de concepção de cultura. Aliás, a conjugação
entre saber científico-verdade-poder
foi e é até os dias atuais um elemento da conotação empiricista, pragmática, neopositivista da cultura. Não ser um
operador de certos saberes é colocar-se no patamar das restrições burocráticas
e pragmáticas de instâncias
e instituições.
Não
há como negar os avanços que a pesquisa, as pesquisas, em seus mais diversos
ramos trouxeram a nós. A
cada nova descoberta a alimentação do desejo por mais novas descobertas. Ela
possui pelo menos dois vórtices: um social, outro subjetivo.
O
caráter social da pesquisa consiste na publicização dos seus resultados, na
aplicação prática de suas descobertas, no acúmulo de informações e conhecimentos colocados a serviço da comunidade, quer
seja acadêmica ou não. O conhecimento avançou porque novas teorias, novos
postulados, novos questionamentos ocupam as mentes de pesquisadores espalhados
mundo afora.
Há
também o caráter subjetivo da pesquisa. Há um conceito utilizado pela escritora
argentina Josefina Ludmer, o de narratário. Narratária é a condição da existência da escrita
em si mesma, a vontade da palavra de ser e de conotar para além de suas
interpretações.
A
questão é que o narratário pré-existe
à condição do escritor e da recepção. Ele, que também pode ser chamado
de vontade, insight, busca aquelas pessoas conectados com o
universo em busca de respostas. Ao encontrar essas pessoas, o narratário sopra
informações, intuições e começa um processo de elaboração de um tipo de
questionamento, uma pesquisa.
Acontece
que as pesquisas estão intrinsecamente relacionadas com seus pesquisadores.
Toda pesquisa é em última instância
uma resposta pessoal sobre si mesmo que os pesquisadores querem solucionar.
Toda problemática, por mais abrangente que seja numa pesquisa, contém um
elemento subjetivo da condição ontológica de cada um.
Os
temas e problemáticas não nos aparecem aleatoriamente. Por vezes, desistimos de uma temática porque
inconscientemente a resposta já foi alcançada; neste instante, aparecem novas indagações.
Também acontece de desenvolvermos certas pesquisas por influências e/ou forças das circunstâncias: um
convite de um professor, uma oportunidade de bolsa, um financiamento. Mas
quando percebemos que tais pesquisas nos dizem muito pouco, ficamos com a sensação de que algo nos
falta, não nos envolve por completo.
Nas
Universidades pouco se fala das relações entre pesquisa e subjetividade. O
caráter social ocupa o imaginário do universo acadêmico;
em parte isso é fruto do iluminismo empirista que abnega a intuição, a
sensibilidade e privilegia a pragmática dos resultados. Nem todo resultado tem
que necessariamente ter uma aplicação imediata. Por vezes, passam anos e aquela indagação enfim
encontra seu significado.
As
pesquisas são de várias formas e sentidos. Uma pergunta que não quer calar em
nossas mentes, uma curiosidade é uma indagação a ser perscrutada.
Estamos
aqui para descobrirmos quem somos, às vezes, quase sempre, o passado ajuda a
esclarecer. Feita uma descoberta, partimos para outra. O milagre é a pesquisa
ainda não elucidada, depois de revelada, vira ciência.
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