As mãos
destreinadas e não hábeis desenham traços ilegíveis,
são
movimentos sinuosos em busca de um traço,
que não
veio porque não há nenhum
a não ser
a vontade de ser, já sendo,
quanto
mais as mãos espalham a massa arenosa
mais
se parece com nada
a não ser
a vontade de parecer com alguma coisa;
quem sabe
um desejo de um artista,
um salto
pela falta de destreza em já sendo alguma coisa,
De longe
um painel, uma moldura de um quadro,
de perto,
apenas desenhos ilegíveis, rabiscos sem sentidos
a não ser
a vontade de ser alguma coisa, já sendo: um traço de moldura,
um espaço
seu, uma marca de um desejo de um artista sem a destreza querendo ser alguma
coisa
Mas
aquelas mãos destreinadas pincelando amarelo ocre naquela massa arenosa
impingiam
digitais numa parede que já passou a ser uma moldura, um espaço seu,
um lugar
de identificação, um dos poucos, talvez o único naquele lugar,
que de
longe parecia um quadro, de perto, apenas traços indecifráveis
Quanto
mais latas de massa mais se revelava a falta de treino, porém, mais desejo de
ser, já sendo,
já não
importava o resultado final, o acabamento, as leituras, pois aquilo não era uma
simples textura
era a
vontade de ser, de fincar um lugar naquele espaço, de ser alguma coisa,
de tentar
dizer que estava tentando,
era uma
forma de tentar, do seu jeito,
pura e
simplesmente uma forma de tentar
Hoje, não
há mais amarelo ocre,
uma
camada branca encobre o que um dia foi um traço de moldura,
para se
saber se um dia foi textura é necessário chegar bem perto
e
reconhecer os antigos traços indecifráveis,
o que um
dia foi a vontade de ser,
o que um
dia foi a forma de dizer que queria ser
o que
durante algum tempo foi
Nenhum comentário:
Postar um comentário