Defendo
o princípio de que a invenção do romantismo se deu com William
Shakespeare, não com Jean-Jacques Rousseau. No processo de transladação entre o
medievo e a modernidade, exatamente quando se assistiu à debaclê dos princípios cristãos
ortodoxos e ao nascimento
da desconfiança cartesiana, Shakespeare “inventa” o
amor romântico entre um casal no processo de desfalecimento do amor e
da proteção divina religiosa de Deus para com os homens, na verdade, do
princípio de salvação coletiva pregada pelo catolicismo, para a invenção da
privacidade e da nova subjetividade. Romeu e Julieta são os arquétipos da nova
subjetividade e do novo conceito de amor.
Quando
anos mais tarde Rousseau advoga o princípio do romantismo, penso que já vinha
na atmosfera de crença de um novo homem e de uma nova concepção de existência
iniciada com Shakespeare.
O
movimento em si surgido no século XVIII e que ganhou força no Brasil no século
XIX – exatamente o romantismo –, como concepção racionalista antideísmo e antiexacerbação racionalista
iluminista, teve na Alemanha sua mais forte expressão, quer na música com
Mozart e Beethoven, quer na literatura com Goethe, quer na geração filosófica
alemã, quer na história com Humboldt e Ranke.
Os
alemães tiveram no romantismo sua ideação de um ethos fundante
de sua germanidade. Foram buscar nos primórdios da cultura germânica os traços de
sua identicidade. A história contribui poderosamente para o processo de
unificação alemã e foi buscar através do romantismo os elementos constitutivos
de um passado brioso, de uma elã sustentador daquela nação.
No
Brasil não foi diferente. A invenção da nação brasileira foi uma
operação romântica, quer na literatura, quer na história com o IHGB
(Instituto Histórico Geográfico Brasileiro). Na literatura basta falarmos da
Escola de Niterói e do grande e maior poeta romântico brasileiro, Antônio
Gonçalves Dias. Na história basta mencionarmos o fato do IHGB buscar na
Alemanha dois historiadores para a escrita da história brasileira: Spix e Von
Martius.
Os
alemães recorreram ao princípio
do Comitatus, da lenda de Thor e
Odin, do arianismo como esteio da germanidade. Nós, brasileiros, inventamos
um índio idealizado que não já existia mais –
um índio aimoré do século XVI –, um guerreiro medieval para a criação
de um brasileiro. Claro, não poderia ser o negro o tipo ideal brasileiro,
afinal, era escravizado; nem
o índio do século XIX, que estava sendo dizimado.
O
romantismo como movimento valorizador do sentimento, da intuição, da predileção
pelos grandes valores (liberdade, politica, arte, moral), da ideia
de síntese universal, de pátria, acabou por encapsular algumas ideais
acerca da ideia de uma nação. Hoje, essas ideias além de desmitificadas, não se
sustentam mais.
Nós saímos do
grande projeto da nação, da pátria enquanto pai, para os discursos
singularizados, individuais e sectários.
O
que sustenta hoje os projetos das nações?
Nenhum comentário:
Postar um comentário