segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O Romantismo como invenção da Nação

Defendo o princípio de que a invenção do romantismo se deu com William Shakespeare, não com Jean-Jacques Rousseau. No processo de transladação entre o medievo e a modernidade, exatamente quando se assistiu à debaclê dos princípios cristãos ortodoxos e ao nascimento da desconfiança cartesiana, Shakespeare “inventa” o amor romântico entre um casal no processo de desfalecimento do amor e da proteção divina religiosa de Deus para com os homens, na verdade, do princípio de salvação coletiva pregada pelo catolicismo, para a invenção da privacidade e da nova subjetividade. Romeu e Julieta são os arquétipos da nova subjetividade e do novo conceito de amor. 

Quando anos mais tarde Rousseau advoga o princípio do romantismo, penso que já vinha na atmosfera de crença de um novo homem e de uma nova concepção de existência iniciada com Shakespeare. 

O movimento em si surgido no século XVIII e que ganhou força no Brasil no século XIX – exatamente o romantismo –, como concepção racionalista antideísmo e antiexacerbação racionalista iluminista, teve na Alemanha sua mais forte expressão, quer na música com Mozart e Beethoven, quer na literatura com Goethe, quer na geração filosófica alemã, quer na história com Humboldt e Ranke.

Os alemães tiveram no romantismo sua ideação de um ethos fundante de sua germanidade. Foram buscar nos primórdios da cultura germânica os traços de sua identicidade. A história contribui poderosamente para o processo de unificação alemã e foi buscar através do romantismo os elementos constitutivos de um passado brioso, de uma elã sustentador daquela nação. 

No Brasil não foi diferente. A invenção da nação brasileira foi uma operação romântica, quer na literatura, quer na história com o IHGB (Instituto Histórico Geográfico Brasileiro). Na literatura basta falarmos da Escola de Niterói e do grande e maior poeta romântico brasileiro, Antônio Gonçalves Dias. Na história basta mencionarmos o fato do IHGB buscar na Alemanha dois historiadores para a escrita da história brasileira: Spix e Von Martius.  
  
Os alemães recorreram ao princípio do Comitatus, da lenda de Thor e Odin, do arianismo como esteio da germanidade. Nós, brasileiros, inventamos um índio idealizado que não já existia mais – um índio aimoré do século XVI –, um guerreiro medieval para a criação de um brasileiro. Claro, não poderia ser o negro o tipo ideal brasileiro, afinal, era escravizado; nem o índio do século XIX, que estava sendo dizimado. 

O romantismo como movimento valorizador do sentimento, da intuição, da predileção pelos grandes valores (liberdade, politica, arte, moral), da ideia de síntese universal, de pátria, acabou por encapsular algumas ideais acerca da ideia de uma nação. Hoje, essas ideias além de desmitificadas, não se sustentam mais. 

Nós saímos do grande projeto da nação, da pátria enquanto pai, para os discursos singularizados, individuais e sectários.   

O que sustenta hoje os projetos das nações?  




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