Os
antigos romanos chamavam o atual Portugal de finisterra (fim
da terra), posto ser a última guarnição, o último quinhão de espaço, depois
dele, o mar tenebroso – o perigoso Atlântico –, com o ideário de seus
monstros e seus medos por ele atinados.
Os
portugueses sempre viveram entre a ameaça, primeiro dos romanos, depois dos
sarracenos e, por último, dos espanhóis. Isso, a ameaça constante, marcou todo
o ideário de navegação, possivelmente, o responsável pela criação da
Escola de Sagres (navegar é preciso, viver não). O mar era a vastidão a ser
domada.
Surge
Camões com todo o lirismo bravante de uma língua que nascia pari
passu à necessidade de desbravar o desconhecido, tal como o sentimento
incontido de sentir o indelével: “para passar pelo Cabo Bojador é preciso passar além da dor”. Nascia
uma língua extremamente romântica, aliás, como todas as neolatinas.
Érico Veríssimo, em O tempo e o vento explora
a vastidão dos pampas, de uma terra a ser domada, conquistada, e a literatura
também nesse caso esmiúça o sentimento de pertencimento em relação à terra-terra, a bravura e o
que a fronteira constitui dentro do homem necessitado de transpô-la.
O
cognominado Regionalismo Nordestino também possui as mesmas características: de
novo a questão da terra, só que desta feita marcada pela seca causticante do
Nordeste brasileiro. O imaginário da seca foi o combustível fértil
para a criação das imagens dessa região a povoar o espaço das letras, recriação
do espaço físico.
A
relação que estabelecemos com o tempo e o espaço demarcam a forma como nos
relacionamos socialmente. O tempo sempre foi uma ampulheta a nos vigiar com seu
relógio móvel, que não para a nos mostrar nossa finitude, despertando nossos
desejos de o dobramos. Basta olhar a disputa entre pai e filho na mitologia
grega: Zeus e Cronos. Mesmo derrotado temporariamente, Cronos venceu Zeus
definitivamente.
O
espaço, essa dimensão corporal a desafiar nosso imaginário, sempre nos
impulsionou ao desconhecido. A vastidão do espaço demarca a limitação do nosso
corpo. Não estamos em todos os lugares fisicamente ao mesmo tempo, ao não ser
no pensamento, logo, a limitação física só pode ser suplantada pela doce noção
de tudo pertencer pelo pensamento. Por isso, sempre nos imaginamos em lugares
que nunca estivemos.
Foi
por isso que Fernand Braudel conceituou a noção de múltiplos tempos: curta,
média, longa e longuíssima duração, afinal, somente na dimensão
espaço temporal podemos enfim sentirmo-nos eternos, impávidos, colossais. Se
não podemos domar o tempo, nem estarmos em
todos os lugares ao mesmo tempo, deixemos que a literatura nos leve a todos os
espaços ao mesmo tempo.
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