Quando Paulinho da Viola compôs Sinal Fechado, ainda na década de 60, anunciava a démarche da vida no século XXI: passaríamos mais tempo dentro de um carro que andando ou fazendo qualquer outra coisa. A música dispensa comentários de tão forte e significativa que é; narra a história de dois amigos que se encontram e conversam exatamente durante um sinal fechado. Além da crítica a vida moderna, Sinal fechado é uma metáfora ao período de exceção que o Brasil atravessava.
Esse modelo de urbanização, idealizado por Le Corbusier, privilegia o carro em detrimento do pedestre, ciclista, congênere. Isso deve-se, é claro, ao fato de a cidade ser por excelência o lugar de exercício e desenvolvimento do capital, da lógica industrial, do desenvolvimento do comércio, da atividade burguesa.
Na virada do séc. XIX para o XX o carro ganhara as ruas das grandes cidades estadunidenses, tornando-se símbolo de prestígio e opulência. A vida alterava seu curso natural para possivelmente nunca mais voltar a ser o que era.
Em uma cidade como São Luis do Maranhão, com 1 milhão de habitantes, possui 300.000 veículos circulando nas ruas, para uma malha viária de dar dó. Engarrafamentos são constantes até de noite, a vida virou um caos. Somos vitimas e reféns de uma concepção equivocada de transporte urbano.
O tempo que se perde no trânsito fatalmente poderia ser gasto com nossos filhos, estudando, brincando, estando com amigos, com qualquer coisa mais prazerosa que a irritabilidade de ficar parado respirando monóxido de carbono.
São Luis carece de ciclovias. Bordeaux, cidade francesa, estreitou as vias publicas para dificultar o acesso de carros e privilegiar as bicicletas. Roterdã tem mais bicicletas que carros e pode-se andar nelas em qualquer lugar da cidade. Para andar no centro de Londres paga-se pedágio.
Aqui no Brasil adotamos o modelo estadunidenses e hoje pagamos um preço altíssimo. Com a força do lobby das montadoras não acredito que esse modelo possa ser revertido.
Então, é ter paciência e esperar encontrar algum amigo num sinal fechado na esperança de desejá-lo que sua vida seja uma grande avenida aberta.
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