Eu
achei legal porque dá pra ver tudo lá de cima, dá para ver nossas casas, e
quando eu estou nela eu me divirto muito. Dá para ver todos os brinquedos lá de
cima, de cima do mundo.
Essas são as palavras de minha filha Lucía na nossa
primeira experiência numa roda gigante: eu, ela e minha filha caçula Milene,
sentada no meu colo como um bicho-preguiça, sem me soltar para nada, no parque
de exposições agro-pecuária, Expoema, hoje à tarde.
Engraçado porque o relato de minha filha de apenas 4½ anos se parece muito com minha primeira
experiência numa roda gigante.
Eu sempre esperava o mês de junho no bairro da Cohab, onde
nasci e cresci, para as chegadas dos parques de diversões. Eram pobres, hoje eu
o sei; brinquedos obsoletos, enferrujados, pouco atrativos, baratos, mas eu os
adorava.
Ficava fascinado com o carro de bate-bate, embora nunca
tivesse dinheiro para ele, era o mais caro. Na espingarda de ar-comprimido, eu
nunca acertava o patinho, muito menos a caixa de fósforo.
Os parques sempre ocupavam as praças do I e II Conjunto,
quando não do C.S.U. (Centro Social Urbano). Foi num parque instalado no C.S.U.
que a avistei pela primeira vez. Era grande, gigantesca, assustadora. Jamais
entraria nela sozinho, tinha medo. Foi difícil, meus amigos me
convencerem a subir nela.
Como rito de passagem de um menino para um garotinho, eu
não poderia refutar ao desafio de subir e ser chamado de covarde, “frouxo”.
Lembro-me dos primeiros passos até chegar à cadeirinha. Certifiquei-me
de que a barra de ferro não iria soltar. Olhei ferros corroídos de ferrugem,
tarde demais, não dava mais para refugar.
Cadeira presa, começa a subida. Friozinho na barriga, frison, medo e estupefação.
Vi as luzes do meu bairro, dava para ver as nossas casas, e
quando eu estava nela me divertia muito. Deu para ver todos os brinquedos lá de
cima, de cima do mundo.
Amava os velhos parques. Nao me dava conta do perigo...
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