Inventaram uma categoria chamada de... Tempo. Não que ela não
exista, apesar de ser uma invenção sociocultural, afinal, de que tempo, ou
tempos, fala-se tanto? O tempo do relógio, do trabalho, do labor, dos compromissos,
não são os mesmos do amor, da dor, das lembranças. Aqueles são frutos das
reminiscências de uma época em que o próprio tempo se esqueceu o que era não se
preocupar consigo mesmo. Ele começou a crescer e se tornar mais importante que
a própria ideia de viver, como se viver fosse sinônimo de ganhar tempo e não a
aprender a lidar com ele.
Os anos se passam e a sensação de coisas não vividas vão se
acumulando nos ombros como um feixe de toras de madeiras que um lenhador
carrega ao voltar para casa. Os possíveis fracassos financeiros, do mundo do
trabalho, amorosos, pesam na conta e a favor do tempo. É como estar sempre em
dívida com o dono da venda; a gente nunca
encerra a conta.
Chegam os natais, aquele clima de fim de ano, a lembrança das
marcações na folhinha da parede nos pontua que mais um ano se vai e é preciso
virar a página. Os cabelos brancos cintilam dentre a relva escura, a densidade
muscular perde seu vigor, as marcas no rosto são como pontuações de um enredo
de um filme em que cada ruga é como uma cena que não volta mais, mesmo que se
rebobine a fita a sensação já não é a mesma.
Talvez o maior problema está nesta sociedade
ultracontemporânea que impõe a ditadura do novo, como se o tempo da depuração
de um vinho, de um queijo parmesão, de um azeite balsâmico, fosse menos
importante que a embalagem e sua logomarca.
... Mas, que nada!!! A grande vantagem de se aprender com o
tempo é passar a entendê-lo, sentir que ele não é inimigo, que correr é
importante no tempo de correr, que acumular só serve para depois ser dividido,
que saber só ganha seu verdadeiro significado quando gera outros saberes, e
que, o tempo, esse enigma no qual estamos imersos, é um relógio interno,
subjetivo, individual, que cada um acerta os ponteiros de um jeito, olha a
chegada de uma nova estação pela fresta da janela, observa a paisagem pelo vidro
do carro, estabelece seus projetos e sonhos, prioriza aquilo que com o passar
do enigma passa a considerar mais importante.
Para que serve o tempo? Para percebermos se soubemos
desenigmatizá-lo.
Excelente reflexão!!! :)
ResponderExcluirobrigado débora. abraços
ExcluirA angústia que também compartilho do Tempo está na incapacidade de compartilhar minhas experiências!
ResponderExcluirA ausência da troca me deixa nebuloso e cansado, principalmente, como pontuaste bem, em datas como o Natal que nos alerta para o término de algo que, sinceramente, ainda nem começou! Sinto falta das pessoas, sinto falta de você meu amigo, sinto falta de ouvir histórias e poder contá-las! E no meio disso tudo ver se desfazer o tempo.
querido alexandre. quão bonitas tuas palavras. já que não dá para desfazer o tempo, vamos viver o tempo que for possivel
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