Ela saiu apressada da taberna. Olhar desconfiado com quem
furtivamente foge ou vai ao encontro de um crime. Entre uma corrida e outra
olhava para trás para ver se ninguém a seguia. Avistou de longe o local do
encontro. Ainda que quisesse passar despercebida, seus passos pesados
cadenciados pela plataforma de um Luís XIV denunciava que alguém apressadamente
subia pela escada, segurando os babados do longo vestido branco.
Ele candentemente subia a rua ao encontro. Calça preta,
barba bem feita, espádua avantajada, chapéu de abas largas cobrindo o rosto
esguio, longilíneo. Sem chamar muita atenção subiu os mesmos degraus que ela,
mas fazendo o barulho típico dos passos de um homem alto, com botas pretas,
solado de madeira, fazendo toc, toc, toc.
Foi até o quarto 1166. Deu três batidas na porta. Não
tardou e ela se entreabriu. De súbito puxou-o para dentro do quarto para que
ninguém no corredor o visse, beijou-o ardentemente e selvagemente começou a
despi-lo, primeiro o chapéu, depois o grande casaco ainda com gotículas de uma
noite fria, muita fria, quase beirando a temperatura abaixo do zero, depois as
botas pretas pesadas. Levou-o para cama, jogou-o por cima das fronhas ainda
intactas das não descobertas das cobertas que faz sobre os corpos. Começou a
cavalgar louca e freneticamente. Seu olhar era a própria expressão da volúpia,
do desejo, da paixão.
Sônia parou de cavalgar em Alfredo. No ápice, ela ficou
inerte, paralisada, atônita.
– O que foi, perguntou Alfredo?
– Acabo de ver, de imaginar como seria uma noite de sexo
perfeita conosco. Eu, vestida de branco, saindo de uma taberna numa noite fria,
desconfiada, entro num quarto do hotel à tua espera. Logo depois, tu entras com
tua calça preta, tuas botas pesadas e te jogo na cama te amando loucamente.
– E nessa visão eu também te amo, pergunta Alfredo?
– Secreta e silenciosamente sim. Tua boca estava o tempo
todo fechada, mas teus olhos diziam tudo.
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