segunda-feira, 15 de outubro de 2012

Resumo de uma vida

Edgar Morin, em Amor, poesia, sabedoria, aventa o quanto estes três elementos escondem inteiramente todo enigma e complexidade da vida. E mais, questiona se na modernidade é possível encontrarmos a sabedoria. 

A resposta é difusa e complexa, mas penso que sim. O que nos abastardou da sabedoria na modernidade? A não capacidade de olharmos para dentro de nós mesmos questionando o que de fato nos faz felizes. 

Na Antiguidade, a sabedoria era uma busca, o próprio sentido da existência, na modernidade, apenas uma qualidade, uma característica para se atingir um objetivo, qualquer que seja ele: dinheiro, fama, sucesso, etc. 

O que Edgar Morin analisa é a cissiparidade de nós mesmos, a nossa mutilação, nosso fracionamento, nossa capacidade de não enxergamos as sombras no fundo da caverna. Esse movimento de diapasão, de expandirmos nossos eus na modernidade é o refluxo do logos, ou sua astúcia em nos levar a um caminho para descoberta por nossos próprios meios de que a única maneira de saber e viver é amar.

Vivemos em tempos de desconfiança, de hiperindividualismo, de ceticismo. É o retraimento da razão, não a iluminista, e sim, aquela que conjuga reflexão e sensibilidade. A vida de longe observa esse movimento humano sabendo que é necessário se perder para se encontrar. O verdadeiro amor nasce da contradição.

Os sentidos das existências se encontram pelo caminho. Os que alcançam ou pensam ter encontrado um sentido para sua vida, colocam sua experiência a serviço do outro. Não que sua trajetória sirva para o outro, mas somente quem ama é capaz de estender a mão, colocar a sua sabedoria, leia-se, suas trajetórias a disposição de quantos queiram nela espreitar com o fito de alguma aprendizagem. 

Por isso existe a poesia. Segundo Morin: “o estado segundo, nos invadindo de fervor, maravilhamento, comunhão e exaltação”. Ela nos retira de uma vida sem vida nos projetando para uma terra prosaica onde certamente o amor faz morada. 

Por que precisamos de amor, poesia e sabedoria? Porque a vida é fruto do primeiro, dela derivou, e foi exatamente o primeiro que se travestiu de poesia e sabedoria como estratégia de ensinamento sobre qual o sentido da vida, qual seja: amar.

Emocionar-se com a poesia é amar sentindo o voo do poema. Quando enfim levitamos nesse bater de asas, quando sentimos a brisa leve do encantamento nos arrebatando, conseguimos como uma águia olhar de novo para baixo, vendo as atitudes de outros que ainda não conseguiram alçar voo. , por amor, pousamos para ajudar outros a voarem também, isso se chama sabedoria. 

A vida é mais, nos coloca num voo do poema para atingirmos a sabedoria. Isso é amar.       


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