Edgar
Morin, em Amor, poesia, sabedoria, aventa o quanto estes três elementos escondem
inteiramente todo enigma e complexidade da vida. E mais, questiona se na
modernidade é possível encontrarmos a sabedoria.
A
resposta é difusa e complexa, mas penso que sim. O que nos abastardou da
sabedoria na modernidade? A não capacidade de olharmos para dentro de nós
mesmos questionando o que de fato nos faz felizes.
Na
Antiguidade, a sabedoria era uma busca,
o próprio sentido da existência, na modernidade, apenas uma
qualidade, uma característica para se atingir um objetivo, qualquer
que seja ele: dinheiro, fama, sucesso, etc.
O
que Edgar Morin analisa é a cissiparidade de nós mesmos, a nossa mutilação,
nosso fracionamento, nossa capacidade de não enxergamos as sombras no fundo da
caverna. Esse movimento de diapasão, de expandirmos nossos eus na modernidade é
o refluxo do logos, ou sua astúcia em nos levar a um
caminho para descoberta por nossos próprios meios de que a única maneira de
saber e viver é amar.
Vivemos
em tempos de desconfiança, de hiperindividualismo, de ceticismo. É o
retraimento da razão, não a iluminista, e sim, aquela que conjuga reflexão e
sensibilidade. A vida de longe observa esse movimento humano sabendo que
é necessário se perder para se encontrar. O verdadeiro amor nasce da
contradição.
Os
sentidos das existências se encontram pelo caminho. Os que alcançam
ou pensam ter encontrado um sentido para sua vida, colocam sua experiência a
serviço do outro. Não que sua trajetória sirva para o outro, mas somente quem
ama é capaz de estender a mão, colocar a sua sabedoria, leia-se, suas
trajetórias a disposição de quantos queiram nela espreitar com o fito de alguma
aprendizagem.
Por
isso existe a poesia. Segundo Morin: “o estado segundo, nos invadindo de
fervor, maravilhamento, comunhão e exaltação”. Ela nos retira de uma vida sem
vida nos projetando para uma terra prosaica onde certamente o amor faz
morada.
Por
que precisamos de amor, poesia e sabedoria? Porque a vida é fruto do primeiro,
dela derivou, e foi exatamente o primeiro que se travestiu de poesia e
sabedoria como estratégia de ensinamento sobre qual o sentido da vida, qual
seja: amar.
Emocionar-se
com a poesia é amar sentindo o voo do poema. Quando enfim levitamos
nesse bater de asas, quando sentimos a brisa leve do encantamento nos
arrebatando, conseguimos como uma águia olhar de novo para baixo, vendo as
atitudes de outros que ainda não conseguiram alçar voo. Aí, por amor, pousamos para ajudar outros a
voarem também, isso se chama sabedoria.
A
vida é mais, nos coloca num voo do poema para atingirmos a sabedoria. Isso é
amar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário