Não existem mais
armazéns como antigamente. Os supermercados e seus conglomerados nacionais e
internacionais dominam o cenário econômico dos mercados atacadistas e
varejistas. Os supermercados e suas gôndolas cheios de novidades, tudo muito clean, organizado, rápido e
impessoal. Contato com alguém somente na hora do caixa, para pagar.
Antes não, eram de domínio dos armazéns,
quitandas. Quitanda em Portugal quer dizer uma coisa, no Brasil quer dizer
pequeno comércio. Às vezes, as quitandas ficavam ao lado dos armazéns.
Quem não se lembra dos grandes caminhões chegando de várias
partes do Brasil abarrotados de mercadorias? Os homens com seus dorsos
delgados, às vezes na cabeça carregavam quase o dobro de seu peso. Eram sacos
de toda ordem: açúcar, café, farinha, etc.
Depois que as sacas de cafés eram descarregadas, meia saca
era colocada sob o balcão junto com a máquina de torrar e morrer, pronto para
ser servido. As pessoas compravam uma quarta, meio quilo, tudo feito sob um
medidor de alumínio, boca alargada, “pontiagudo-arrendondado” e uma alça
por onde o dono do armazém segurava o produto, muitas das vezes com um lápis
preso na orelha e um bloco de anotações de tudo que chegava e saía.
O café torrado no balcão exalava o ambiente. Cheiro de
café: aroma de café, que só o café tem.
E o fumo de corda pendurado logo atrás do balcão? Seu
cheiro ainda era mais forte. Os mais velhos sempre compravam fumo de
corda.
A variedade imagética de um armazém era inconfundível. Tinha
sempre alho poró exposto, farinha d’água, corda de sisal, corda de nylon,
barbante, cachaça, sabão em barra, uma balança antiga e tudo era embalado num
bom e velho papel grosso, meio pardo, cujas dobras somente os vendedores sabiam
fazer. Hoje não, tudo é jogado em sacolas de plásticos que levam 1 milhão
e meio de anos para se decompor, além de poluir o meio-ambiente.
Os vendedores conheciam seus clientes, chamavam-nos pelos
nomes. Entre um comprinha e outra colocavam-se os assuntos em dia e uma
cachacinha para abrir o apetite.
Os motoristas que dirigiam os caminhões por sua
vez país afora também contavam suas histórias. A chegada para descarregar as
mercadorias era tempo de descanso e também de lazer, de se divertirem.
Mas esse tempo não volta mais. Hoje, basta pegar um
carrinho de supermercado, fazer a seleção do que se quer, pagar no caixa, pegar
sacolas plásticas e repetir esse hábito toda semana sem se quer sabermos o nome
do caixa que nos atende.
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