terça-feira, 2 de outubro de 2012

África: a origem de tudo

Quando os arqueólogos encontraram a Lucy (possivelmente a primeira hominídeo do mundo – ouviam Lucy in the sky whit diamonds, dos Beatles), pensavam ter encontrado o elo perdido. E de fato encontraram. A África, o continente mãe, atravessado por três grandes influências culturais, a cognominada triple heritage; a autóctone, a muçulmana e a europeia, vem passando desde o período moderno ocidental por problemas de ingerências e interferências de toda ordem que dificultaram o desenvolvimento daquele continente. 

Na época moderna europeia, o contato entre Europa e África acarretou a implementação do capitalismo comercial, consubstanciado pela ocupação do continente americano, fundamentado no trabalho escravo africano, transladando daquele continente para o americano nada mais, nada menos que 35 milhões de almas durante 300 anos. Os resultados foram catastróficos para a África. 

Depois, em pleno século XIX, a colonização é reeditada sob o pretexto do “fardo do homem branco” – o neocolonialismo. No fundo a questão era a constituição do capital monopolista europeu que precisava de novos mercados. O resultado disso, além da Partilha da África, 1888, foi a I Guerra Mundial. 

No século XX, os prejuízos do neocolonialismo são patentes na constituição social e cultural africana: divisões territoriais artificiais, conflitos interétnicos, subdesenvolvimento humano. Após os longos, duradouros e terríveis processos de emancipações políticas de suas metrópoles, as feridas abertas pelos longos períodos de colonização e neocolonização deixaram marcas de difícil superação a curto prazo. Existe um enorme desafio para a reconfiguração social em todos os países daquele continente.

No entanto, a África continua a nos ensinar. Desde a predicação de que não havia separação entre homem-mulher-natureza, a cognominada cosmologia africana, passando pelo processo de armazenamento de informações dos ancestrais de uma tribo pelos guardiães, quer da genealogia (Griots – termo francês), quer do sagrado (Domas – termo também francês), quer pela valorização da amizade e do sentido da existência, os africanos nos mostram que o individualismo exacerbado ocidental nos levará à ruína, como de fato está, além da sinalização de que a vitória da técnica só faz sentido somente se estiver à disposição e a serviço da humanidade, não a controlando.

A África nos obriga a olhar para o passado e recuperarmos nosso elo perdido, a refletir sobre quando quebramos o vínculo com a natureza, perdemos o elã com a nossa natureza, e a resposta começa com Descartes e Bacon, depois com o empiricismo e iluminismo. 

Sob a acusação de que o continente negro era atrasado, o Ocidente deveria assumir parte da responsabilidade pelo atraso econômico e técnico desse continente e se perguntar o que deixou de aprender com os africanos, e o que os africanos poderiam dizer sobre os ocidentais capitalistas sedentos de destruição. 

Parece ironia do destino que os brancos tenham encontrado a primeira mulher do mundo quando ouviam os Beatles. Beatles em inglês quer dizer besouro, escaravelho, ou seja, nós ocidentais, sedentos na destruição da mãe-terra, Gaya, o princípio de tudo.                             










2 comentários:

  1. Olá Henrique, muito bom o post!De fato a África tem muuito a nos ensinar. Todavia, a nossa pretensa superioridade, jamais nos deixará abrir portas para tal relação, pois ainda temos este continente como local de atraso e barbare. Em nosso país ainda ovacionamos tudo que seja branco-europeu-moderno, como diz um importante pensador latino, Ramon Grosgoguel, temos uma mente colonizada, vivemos sob esse manto da colonização. Precisamos de uma descolonização do pensamneto, quem sabe assim poderemos nos aproximar e aprender com a mãe áfrica...

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    1. Querida Tati, que bom que gostaste. Sabe, minha primeira opção por mestrado foi em África, mas como não sabia falar inglês não pude ir, no entanto, esse continente povoa meu imaginário. um dia vou lá

      ein, não esqueçi as músicas de césaria evora não.
      beijão

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