A aceleração das relações sociais,
a pressa nas cidades, o conturbado movimento de trabalhar cada vez mais,
aumentando a mais-valia relativa ao trazermos trabalho para casa, a necessidade
de respostas para tudo full
time, projetou-nos para o hiperespaço em que somente a velocidade
da informação é capaz de suportar tanta ferocidade.
O tempo virou um espectro simbólico
apenas demarcatório dos objetivos a serem alcançados, não mais uma suspensão,
uma aprendizagem e ensinamentos da vida. Até a história sucumbiu à centrifugação
dos fatos;
é impossível refletir sobre o que nos acomete.
A nossa aceleração precipitou a
terra também num processo acentuado de seu movimento, mais rápido, segundo
o físico alemão W. O. Schumann (a metodologia que aplicou sobre a
aceleração da terra se chama ressonância Schumann). A terra passou a
movimentar-se mais rapidamente, portanto, não é apenas uma percepção sensitiva,
é real, hoje, começa a movimentar-se mais lentamente.
Movimentos como slow food, slow science, e outros
congêneres, apontam no horizonte a preocupação com a nossa capacidade de
produzir, produzir, cada vez mais ao ponto que o nosso corpo precisa ser
automatizado para suportar a densidade das transformações e da
velocidade.
A pergunta que não quer calar? Para
que mesmo a aceleração do tempo? Conquistas? E depois das conquistas, faz-se o
que com elas? Sorve-se, aprende-se ou vai-se em busca de mais conquistas, vide
que nada nos preenche?
A nossa percepção sensorial foi
afetada, fazemos várias coisas ao mesmo tempo, mas me questiono se temos de
fato a capacidade de selecionar o que de fato é importante para nós. Aliás,
ainda é possível julgar o que é importante e/ou supérfluo?
Por essas e outras razões que a
poesia perdeu parte do seu sentido enquanto consumação, não enquanto
significação. Não há mais tempo para ler, sobretudo, poesias. O tempo urge.
Para ler poesia é preciso ter tempo, não ter pressa, é preciso
ser sensível. Não dá para ser sensível num mundo acelerado e altamente
competitivo. É preciso romper com esse tempo.
Cortar o tempo
Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias,
a que se deu o nome de ano,
foi um indivíduo genial.
Industrializou a esperança, fazendo-a funcionar no limite da exaustão.
Doze meses dão para qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos.
Aí entra o milagre da renovação e tudo começa outra vez, com outro número e outra vontade de acreditar que daqui pra diante vai ser diferente
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