Mundos
cruzados. Interconexões. Iberismos. O livro Transversalidades:
Territórios, diálogos e itinerários ibéricos é um primoroso registro
de textos e fotografias sobre as transformações por que passa a sociedade ibérica.
Pautada
no registro mnemônico dos costumes, hábitos da vida campestre, a obra
percorre vilas e lugarejos cuja paisagem durante muito tempo permaneceu quase a
mesma. Algumas ainda permanecem.
Algumas
vilas portuguesas, as chamadas vilas históricas, por conta do declínio
econômico da atividade agrícola, vêm perdendo significativamente vidas para a
cidade, constituindo-se hoje quase regiões fantasmas, sobrevivendo do turismo e
até mesmo da chegada de estrangeiros para a fixação de residências. Existe em
Portugal um processo de êxodo rural, agravado ainda mais pela grave crise que atravessa
o continente europeu.
Esse
processo de esvaziamento demográfico coloca em risco antigas práticas comunais,
velhos costumes do país, assim como na Espanha.
A
obra capta a essência do lugar. Primorosamente fotografado em preto e branco, à
medida que se lê fica a dúvida se o registro é uma espécie de salvaguarda dessa
memória, tentando preservá-lo ou o prenúncio de que ela será, além das memórias
individuais, uma das poucas lembranças desse passado cada vez mais
distante.
Parece-nos
que a velocidade transformando hábitos e paisagens atingiu vilas e localidades
dessa região. A migração de brasileiros para Portugal nos últimos anos até que
iniciou um processo de reversão do êxodo rural, já que estudos sobre o campo
constataram que brasileiros num processo de aculturação são um dos responsáveis
pela fixação de pessoas nessas vilas, adaptando-se às práticas locais,
constituindo matrimônio com portuguesas, gerando durante algum tempo o
nascimento de novas crianças. Não se sabe ao certo o que acontecerá daqui para
a frente quando os dados demográficos apontam que os portugueses desta feita
fazem o caminho inverso, cruzam o Atlântico
em busca de empregos no Brasil. Mundos cruzados.
Se
esse processo se agudizar, a curto prazo não há saída econômica, o mundo se
transforma numa dinâmica cada vez mais veloz, não se sabe o que acontecerá com
esses espaços ibéricos. Se esse processo for irreversível, a obra
Transversalidades será cada vez mais um registro primoroso de como eram essas
paisagens.
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