Como é difícil viver em tempos de acumulação consumista e
abrir mão de certos “princípios” da propaganda capitalista, tais como: “acontecer”,
“se dar bem”, “ser famoso”, “ter” (o que quer que seja), “esbanjar”, “ostentar”.
Isso não nasceu agora, é fruto de um longo processo histórico
de solapamento das antigas relações de sociabilidade; pautadas na confiança
mútua, na credibilidade da palavra oral, substituídas pela crescente vitória da
competitividade, da burocratização dos espaços e instituições sociais, calcadas
na jurisdição da sociedade reflexiva burguesa.
Os estandartes burgueses assumiram uma espécie de segunda
natureza humana, tornando-se hoje, a primeira. É como se a cada nova geração,
distante de antigos processos de lutas e sonhos, o único horizonte possível
fosse acumular, se dar bem, não construir qualquer projeto de solidariedade ou
mesmo utopias.
É cada vez mais comum a lógica do consumo espraiar-se a todos
os segmentos humanos: do afetivo ao intelectual. Estamos perdendo a capacidade
sensitiva de ter sensibilidade. Tudo se relaciona a uma ideia canhestra de que
lutar é perda de tempo, de que as pessoas não mudam, de que qualquer sonho de
igualdade é antiquado, que pessoas que ainda empunham bandeiras de fraternidade
são chatas e ultrapassadas.
Construímos projetos de vida como se fossem nossos, ainda que
muitos não saibam ao certo quando e como tais projetos nascem e como são
reproduzidos de forma naturalizada, acreditando piamente que tais modelos são
os únicos possíveis, de que não há outra saída.
Ainda assim, notícias e exemplos de angústias, depressões,
neuroses, escleroses, obsessões, só se
avolumam. O capitalismo, via consumo, não foi capaz de apascentar nossos
espíritos, tampouco de nos tornar mais felizes, muito pelo contrário. O físico
brasileiro Marcelo Gleiser disse que quando ele pensa na ultramodernidade
(atual contemporaneidade) o que lhe vem à cabeça é: velocidade e
dispersão.
Velocidade para quê?
Acumular mais para quê? A
gente de fato precisa de tudo o que almeja ou que consome? Será mesmo que o
volume crescente das demandas subjetivas em busca de mais dinheiro, fama,
poder, etc., não são fugas para o vazio que, quando nos damos ao luxo de ouvir
nossas vozes internas ao silenciarmos e pararmos de vez em quando, damos conta
de que tanta correria não trouxe a felicidade?
Tudo bem que felicidade é um conceito subjetivo, cada um é
feliz ao seu modo, no entanto, existem elementos que indicam que o caminho que
estamos percorrendo, ao invés de nos levar à felicidade, ainda que seja
individual e subjetiva, está nos levando para a infelicidade. Estes sinais são:
angústia, depressão, irritabilidade, aceleração, dispersão, competitividade,
egolatrismo, individualismo.
Mas aí,
como parar o projeto que levamos anos buscando e reconhecer que o caminho pode
ter sido errado, diante de um mundo que nos cobra “sucesso” o tempo todo?
É preciso coragem para reconhecer que durante anos demos vozes e ouvidos
aos outros e nos abandonamos, deixamos de lado o que de fato importava. É
preciso coragem para reconhecer que um modelo, projeto de vida, pode ter dado
certo até certo ponto, mas já não serve mais.
Às vezes, perder é ganhar. Abandonar um modelo de vida que só
traz infelicidade é o melhor caminho para uma nova trajetória. Viver um dia de
cada vez é mais importante que idealizar uma vida inteira pela frente,
sobretudo, quando o futuro não está sendo construído no agora. Se a gente não consegue
desfrutar do agora, seremos capazes de aproveitar, viver no futuro?
Henrique não me leve a mal, mas com todo esse pandemônio ocorrendo em nossa Capital, seu comentário, sábio, seria útil.
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