Para o povo de Picos, Piaui
A
juventude nem sempre foi a mesma, conforme a sociedade, a época, foi mudando a
concepção sobre esta etapa da vida. Nas primeiras sociedades ocupava uma
posição secundária, a de destaque estava reservada aos mais velhos, os
guardiões da sabedoria. A juventude era destacada como elemento de vitalidade,
sobretudo para os trabalhos braçais e para a guerra.
A
hierarquização social era elemento que dificultava a possibilidade de
mobilização ou mudança do status quo, nem
por isso passava despercebido rapsódias de rebelião, rebeldia, futuramente associada
à ideia de juventude, como por exemplo, a revolta dos plebeus na Roma antiga (497
a.c) pelo direito do casamento entre estes e os patrícios.
A
construção de uma noção de juventude, tal como se concebe atualmente, surge
segundo Philipe Áries, na época moderna e por uma mudança na redefinição dos
papéis sociais. Pela primeira vez fica mais nítido a diferença entre as três
fases: infância, maturidade e velhice. Durante o período medieval a criança era
concebida como um adulto em miniatura, não havia o olhar especial sobre este
segmento. A concepção de proteção, de um
olhar específico surge com a redefinição do papel da educação.
O
conceito de modernidade - trazer o novo - se associou a uma pletora sensação de
realização pessoal ligado à satisfação, realização; o velho, incorporado como antiquado,
aquilo que deveria ser ultrapassado cada vez segmentava a relação entre novo e
antigo. A modernidade foi ao mesmo tempo uma dimensão espiritual, como bem
disse Norbert Elias (O processo civilizador), sensação, desejo de pulsão, fruto
de seu aspecto ideológico, moderno enquanto necessário, o novo - o capitalismo -
sobretudo, e o que havia ficado para trás.
Toda sociedade é moderna a sua
época, mas somente nesta fase a diferença entre o hoje e o ontem atingiu um
patamar tão radical. Shakespeare e a invenção do amor moderno contribuíram para
isso, afinal, com o processo de obsolescência da transcendência, restava a
imanência, o amor entre os jovens Romeu e Julieta.
A
dinâmica da vida se coadunou com a velocidade, a possibilidade de renovação das
ideias de revigoramento. A mudança dos paradigmas se atrelou à transformação da
política, da percepção do espaço, até os limites da metamorfose dos corpos. Um
exemplo clássico disso é a invenção da festa de debutante. A sociedade de corte
exibe a filha virgem propicia ao casamento.
Com
o desenvolvimento da sociedade industrial a noção de juventude fica mais nítida
e evidenciada. Passa a ser correlacionada a dimensão produtiva, sendo
demasiadamente valorizada, coexistindo também uma positivação desta fase,
coadnuda pela reverberação da longevidade.
O
corpo, antes rechonchudo, sinônimo de saúde, beleza, foi paulatinamente
substituído pelo corpo viril, consequência de horas de trabalho, da
substituição das anáguas pelo macacão.
Aparecem
a moda, a fotografia, o cinema, a propaganda. A agressividade do consumo tem
como eixo essa faixa etária. Até chegarmos ao século XX e a desconfiança dos
princípios balizadores da felicidade, do capital e da seguridade a partir do
paradigma iluminista moderno. Contra o desencantamento do mundo a arte aparece
como salvação da vida.
A
arte moderna é extremamente jovem enquanto paradigma. Na literatura: Mallarmé,
Victor Hugo, Rimbaud, Edgar Allan Poe; a literatura russa com Dostoievski,
Maiakovski, Gogol, celebravam a pletora condição de anunciar um mundo novo.
Nas
artes plásticas Camile Claudel, na pintura Renoir, o surgimento da arte
modernista como ativação de um elemento politico. Não há dissociação entre arte
e politica, toda ação artística é em última estância uma ação politica, porque
toda arte é um manifesto da vida. Vide novamente os casos dos escritores russos
perseguidos pelo czarismo enviados para a prisão da Sibéria.
Ao
se tratar da literatura uma grande expressão foi sem dúvida Baudelaire,
conotando o amor da juventude como encantamento trazido pelos ventos da vida
moderna, desejosa de suas paixões ao ar livre, encantada pelo belo, abertura
dos Boulevards.
Depois
da grande crise geradora do fim da Belle
époque o movimento musical associado à contestação politica: o rock
enquanto critica ao american way of life.
Elvis Presley, Beatles, Woodstock, movimento beat, são das expressões disso e
da contracultura.
No
Brasil a Bossa nova, a jovem guarda, a tropicália, a música de protesto, Geraldo
Vandré, Chico Buarque, são alguns dos exemplos da conotação entre juventude,
arte e politica.
Arte
passou a estar vinculada ao ato politico, as letras de protesto no Brasil, o
Movimento Parangolé, o Rock Brasileiro dos anos 80: Legião Urbana, Plebe Rude,
Ultraje a Rigor, todos os filhos da geração de oprimidos da ditadura militar que
viram na reabertura politica um moto, um viés de contestação social. Mangue
Beat em Recife, Movimento Hip Hop, grafitagem em grandes centros urbanos são
alguns desses exemplos.
As
jornadas de junho e julho deste ano, qual cognominei de Primavera brasileira,
são a máxima expressão da dissociação entre uma forma de fazer politica e a
capacidade de dialogar com a sociedade, notadamente a juventude. O movimento
que nasceu em 2006 em São Paulo, Movimento Pelo Passe Livre,
conclamou pelas redes sociais uma multidão insatisfeita não só com o aumento
das passagens, mas, sobretudo com as formas de representação politica.
A
falência do modelo politico-partidário, corroborado pela crise da direita
brasileira, deram mote a uma forma de manifestação que dizia nitidamente que as
estâncias burocráticas perderam a capacidade de dialogar e até mesmo entender
os anseios das novas configurações sociais, expressas, por exemplo, nas redes
sociais, apanágio das novas sociabilidades.
A
rápida comunicação via facebook possibilitou uma nova organização e forma de
convocação antes feita pelos partidos e sindicatos, quando não pelos movimentos
sociais. Além disso, a arte colocada nas ruas durante os protestos também
sinalizaram que o modelo de controle de financiamento deste setor precisa ser
revisto. O processo de burocratização, de exercício de poder do estado sobre as
artes não atende a necessidade comunicativa que se faz a todo o momento em
vários lugares e partes do país. A democratização da informação operada pelas
redes sociais é um processo verdadeiramente inovador e revolucionário e obriga
as velhas instituições democráticas a repensarem suas formas de atuação.
É
necessário repensar o conceito de juventude, não se trata de uma faixa etária,
é um estado de espirito, por isso ao longo da história todas as transformações
estavam associadas a um grupo contestador das condições sociais.
Por
que a dimensão da mudança se traveste em arte? Por que a vida prosaica em sua
dimensão isolada é insuportável. A arte é o que escapa ao rodo opressor
cotidiano.
Por
que a relação entre juventude, arte e politica? Porque a mudança, operada pelo
espirito brota a arte. Ela recoloca aquilo que foi retirado do mundo
e devolve de outra forma.
É
inescapável uma mudança não operar transformações no campo politico. A arte é a
capacidade de enxergar, antecipar um mundo ainda não visualizado. Ela suspende
a vida obnubilando pela capacidade de ver o belo onde este não mais existe.
HENRIQUE AINDA ESTOU ESPERANDO A LISTA DOS LIVROS, NÃO ME LEVE A MAL.
ResponderExcluirMeu caro amigo,
ResponderExcluirA cidade Picos e a organização do FECULT ficou lisonjeada com a sua presença. Não é todos os dias que temos a oportunidade de assistir conferências tão esclarecedoras e revolucionárias! OBRIGADO!
Abraço,
Agostinho Coe
Querido Agostinho. sou eu quem agradeço. foram dias maravilhosos. obrigado, do fundo do coração
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