Era assim como um longa estrada até o destino final. As
faixas amarelas intermitentes indicavam a impossibilidade de ultrapassagem
letargiando ainda mais a chegada ao ponto de encontro. Já não sabia o que era
crepúsculo ou fim da pista, lá ao longe, se confundindo com a penumbra da noite
que caía. Luzes ofuscando, buzinas estridentes, o pé em baixo e o coração em
cima. A paisagem era uma companhia, mudando à medida que avançava, alterando
também a percepção sobre a distância.
O pensamento girando a mil como as rotações do motor. A
indicação dos giros no painel bem que poderiam ser a marcação do pensamento.
Era tudo um ia e vinha, o lá e o cá, um querer chegar e o curtir da saudade. A
distância era o termômetro da espera. As placas das cidades mas confundiam o
desejo de estar perto quando a percepção sobre o espaço indicava ainda um
longe.
A vontade de saber onde estava, em sentido contrário, rumo
ao mesmo destino, era como um empuxo, uma força motriz alavancando o carro como
um cavalo a mais de sua potência. Era só vontade, era só frenesi. Era só distância,
que não acabava, diminuía.
Quando, enfim, ao destino encontrou lá estava também o
vazio. O olhar para pista à procura de quem deveria vir no sentido oposto, mas
não chegara. As chaves na mão, a cama branca, límpida, como um tapete estirado
sem uma rusga do peso de um corpo. A espera.... lenta e angustiante.
A noite escondia os perigos da escuridão, das luzes e
buzinas estridentes, dos perigos de um descuido qualquer a tirar da pista quem
já deveria ter chegado ao seu destino final. Um telefonema. A marcação exata da
distância, um pouco menos pesaroso para quem na cama branca deixara as marcas
de rusgas no lençol mudando a configuração de um tapete liso.
A chegada enfim. O alívio. Uma noite incomum. Corpos
pesados, acelerados, frenéticos e rítmicos da velocidade do desejo, do tempo da
saudade, do espaço da distância. Descanso. Sono.
A luz do dia pela fresta da janela, indicação da separação
dos corpos.
A mesma estrada, agora em sentido contrário. Diferente
também tomam as direções. Os que antes seguiam para o mesmo destino agora se
afastam, na mesma intensidade e velocidade dos giros dos motores. O painel
indica as rotações por minuto, que bem que poderiam ser a da intensidade da
mudança de pensamento sobre o que acontecera na noite anterior.
Cada vez mais distantes, mais longe, só que agora sem
buzina estridente, sem faróis incandescente, com as mesmas faixas
intermitentes, a mesma paisagem, só que na bagagem, a lembrança e de novo a
saudade.
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