O termo pós-moderno não é o mais
correto, afinal, pós-moderno implica supressão, ultrapassagem da
modernidade, e isto acredito não ser o mais lógico, mas sim, ultramoderno, ou
seja, uma etapa avançadíssima da modernidade.
Debates acerca do conceito de
pós-moderno – tal termo surgiu na década de 1930 dentro do campo da arquitetura para diferenciar
etapas estilísticas dessa área – atravessou o século XX permeado de
trincheiras ideológicas de quem os defendia e de quem os atacava. Ambos os
lados estavam certos por caminhos diferentes. Considero que pós-modernos e
neomarxistas criticavam a mesma coisa, só que de formas distintas.
A crítica dos pós-modernos recaía
sobre o projeto moderno de civilização: razão, progresso, felicidade, a crítica
dos marxistas e neomarxistas era sobre a falta de perspectiva de mudanças dos
pós-modernos sobre a falência do modelo burguês de felicidade. Um
dos equívocos dos pós-modernos foi desconsiderar que tudo que era
derivado da modernidade: estado moderno, luta de classes moderna, razão
moderna, havia desaparecido, consequentemente, o panegirico disso, a ideologia,
também.
Acalmadas as águas turvas das
velhas trincheiras armadas de ambos os lados, os novos atores sociais,
independentemente de suas posições dentro dos campos, se marxistas ou não, têm
recolocado velhos debates pós-modernos de forma muito interessante, casos de
Zizek, Lipovetsky, Boaventura de Sousa Santos, Marilena Chauí,
dentre outros.
Um dos debates ainda em
voga diz respeito à questão da forma de representação da política na
democracia, o velho lema do papel do estado, bem-estar social, o aparelhamento
do judiciário, o papel da mídia, os sentimentos, os laços efetivos, e
sobretudo, as identidades sociais e coletivas em tempos de superexposição
midiática.
É claro que não há dissociação
entre capital, mercadoria e seu referente presentificado nos sujeitos sociais
redefinindo a questão da subjetividade, no entanto, os pós-modernos tratavam do
nômeno, ou seja, da relação entre capital e subjetividade já em seu estado
latente, reificado, quer dizer, como fenômeno, não estavam preocupados em
discutir como derrubar o capital e constituir uma sociedade igualitária, e sim,
o que o capital fez com as pessoas. Destarte, boa parte do construto teórico
pós-moderno se voltava à crítica sobre os novos sujeitos sociais, o que nos
tornamos, como chegamos até aqui.
Por seu turno, os marxistas e
neomarxistas estavam voltados para a crítica ao capital e o que ele havia feito
com questões como cidadania, estado, pátria e congêneres, mas ambos estavam
criticando sim o que havia acontecido pós-triunfo do capital.
Os marxistas estavam corretos, a
história não acabou e velhas questões foram retomadas: militarismo, república,
democracia, a questão racial, a questão sexual, imperialismo, mercado de
capitais, ou seja, algumas antigas bandeiras necessitam de novos olhares, novas
estratégias de abordagem, afinal, o capital continua triunfante.
No entanto, há uma questão que une
neomarxistas e pós-modernos: o problema do simulacro. O capital constituiu uma
nova subjetividade redefinindo a relação entre sujeito, espaço,
tempo, família, política, sexualidade, dentre outras questões. Os pós-modernos
apontaram o prognóstico, mas descuidaram do diagnóstico, os neomarxistas,
alguns, acertaram o diagnóstico, mas se esqueceram de aprofundar com tanta
propriedade quanto os pós-modernos alguns sintomas da nova subjetividade,
exceções de Marilena Chauí, Zizek e Lipovetsky, dentre alguns outros.
Um novo homem e uma nova mulher já
surgiram deixando para trás velhos paradigmas modernos. Algumas condições
ônticas e ontológicas dos sujeitos da forma como foram se reconfigurando na
ultramodernidade necessitam de novas reflexões, novos olhares e a conjugação
entre diagnóstico e prognóstico devem apontar uma nova perspectiva. A questão
é: qual prisma vamos (re) colocar o debate sobre a condição humana? Penso que
não outro que não o da dignidade, das condições de acesso, da democratização da
informação e do consumo, portanto, da equidade e igualdade humana.
Se o capital foi capaz de
redimensionar o paradigma da natureza humana, agora o desafio é traçar novas
perspectivas desses novos homens e mulheres. A perspectiva de crítica ao
capital deve unificar setores e campos adversários, deixando de lado rótulos de
escolas, antagonizando teoremas que falam da mesma coisa, só que de formas
diferentes.
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