quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Antes do 4º badalo dos sinos

Tempos eflúvios. Nuvens por sobre a cabeça. De onde elas vêm? E se estão dando voltas por sobre a terra desde os tempos imemoráveis? E se elas sempre passam observando quem as observa? Elas se dissipam? Desaparecem? Se desaparecem, o que acontece com os pensamentos confidenciados a elas? 

Em cima do telhado, Sebastião todas as tardes subia para contemplação dos céus. Era uma atitude estranha, afinal, lá embaixo crianças na rua, normais, brincavam de bola, chuta-lata, pegador. Coisas que crianças mormente fazem.

O tempo, essa atmosfera de bolha, esse amálgama que a tudo devora, era uma preocupação de Sebastião. Ao longe ele ouvia os badalos dos sinos da igreja, começavam sempre ao meio-dia. Era uma forma das pessoas saberem que horas eram. Olha que engraçado!!!! As pessoas já se guiaram das horas a partir dos sinos... Quanto tempo...

Já houve tempo em que os sinos das igrejas além de marcarem as horas determinavam o momento das pessoas rezarem, a bem da verdade, o tempo das orações é que dividia o dia das pessoas. Cada badalo, tempo de uma oração. Mas isso Sebastião só foi saber muito depois.

De uma em uma hora os sinos tocavam. Às vezes se confundiam com a sirene da escola marcando o fim de uma aula e o começo de outra; às vezes a sirene era para dizer que havia acabado o recreio. O barulho das crianças brincando no pátio era algo familiar. Gostoso de ouvir.

Sirene da escola, crianças no pátio, brincadeiras na rua, as nuvem que passavam, tudo num só tempo que necessariamente não se confundia com o de Sebastião. Ele estava ali no telhado, lugar aberto, amplo, sensação de liberdade, corpo nas telhas e o pensamento dele nas nuvens. Era como se quisesse que as nuvens o levassem consigo.

Somente uma coisa conseguia o tirar daquela sensação absorta: os badalos dos sinos. Quando tocavam três vezes indicando a terceira hora da tarde sabia que dali a poucos instantes teria que descer do telhado e pôr os pés no chão, já que no telhado estava solto e leve como os pensamentos sempre nas nuvens. Estar ali em cima era uma forma de dar leveza aos pés, fazê-los acompanhar a bruma. O chão era duro demais para pés pequenos como aqueles que sempre pensavam como a cabeça.              











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