Da necessidade de desburocratizar a democracia
A democracia brasileira é um
regime extremamente jovem. Ao longo do século XX sofreu vários revertérios. A
Proclamação da Republica em 1889 a partir de um golpe militar derrubando a
monarquia não caracterizou uma democracia, ou até mesmo um regime republicano
stricto sensu, pois o que se assistiu foi uma sucessão de presidentes ligados
sempre aos mesmos grupos políticos, além da exclusão de uma parcela
significativa da população brasileira.
Em 1930, Getúlio Vargas impetrou
um golpe pondo fim a Republica e 07 anos mais tarde decretaria outro golpe
implementando a ditadura Vargas até 1945. A redemocratização, surgida nesse
período, sofreria um revés com o golpe civil-militar em 1964 perdurando até
1985.
A reabertura democrática com a
eleição do primeiro presidente civil, Fernando Afonso Collor de Melo em 1989, derrotando
Lula, sofreria um grande débaclê ao mesmo tempo em que mostrou a força da
mobilização politica-popular: o impeachment.
Tal ação foi ao mesmo tempo sinal de uma decepção, presidente deposto por corrupção e
uma motivação para a necessidade de amadurecimento das instituições democráticas.
Hoje, 2014, as vésperas de mais
uma eleição majoritária, paira certa ressaca moral e um sentimento de descrédito
e desânimo quanto a real possibilidade de mudança na forma de fazer politica,
em parte em decorrência do nosso modelo representativo.
Os partidos, que quer dizer parte,
não representam quase ou nada dos segmentos quais são oriundos; as instituições
jurídicas são encaradas como privilegiadas pela capacidade de decisão e poder
de barganha, além de funcionarem dentro de um esquema extremamente corporativista
não aceitando controle ou fiscalização interna e servindo de atrativo a milhões
de brasileiros pelos altos salários e pelas benesses; a imprensa, apelando para
o discurso enviesado de censura, não aceita que se faça um amplo debate sobre a
democratização da informação sem colocar o dedo da ferida de que no fundo se
trata de uma concessão pública com vista à educação e à informação correta e cidadã,
mas opta pelo lucro do entretenimento despolitizado, vazio e sem profundidade; o
Congresso Nacional, o Senado, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais,
não cumprem seus papeis de colocarem na ordem do dia as pautas sociais, atrasam
votações de interesse nacional, são perpassadas por escândalos de corrupção e
não acompanham a dinâmica das mudanças; O estado em seu amplo espectro não
consegue promover o bem-estar social, está atrelado a interesses privados, a
ideologias dominantes, a concepções elitistas e é utilizado como balcão de
negócios.
Enfim, como pode um cidadão comum,
é preciso problematizar o conceito de cidadania, pois está correlacionada ao
consumo e circulação de privilégios, sentir-se coparticipe de uma noção
idealizada de sociedade se os mecanismos institucionais sustentadores de uma ideia
de democracia são viciados, atrasados, cooptados, distante da noção de
representação social quais os supostos cidadãos não fazem parte?
Prevalece uma conotação de simulacro
na politica, de um mecanismo autorregulador completamente abastado das
estancias sociais que não se sentem representadas nas esferas democráticas.
Todas as vezes que se fala em reforma tem-se em mente a noção de que não passa
de um arranjo e uma necessidade para justificar uma suposta mudança para
deixarem as coisas exatamente como está.
Os políticos são sujeitos
descolados das dinâmicas sociais, encaram a vida e a politica como uma mecânica
cartesiana em que suas supostas ideias pudessem resolver um problema como num
passe de mágica, ou quando muito para solucionar aquele problema, mas não sua
origem. São atores de uma peça sem graça, comprados pelos financiadores de
campanha, assumindo compromissos de tal monta que em quase tudo o que fazem
precisam retirar, roubar recursos públicos para pagarem seus compromissos de
campanha.
O maior prejuízo de tudo isso é a
ideia de que a politica não passa de um miss
en scene, um simulacro, exatamente por não estar atrelada ao computo
social. É uma engenharia própria, embora alicerçada também na desorganização
social e na corrupção de grande parte da população.
Uma das saídas para essa grande crise
de legitimidade e representação democrática é desburocratizar as ações e as
instituições, acabando com muitas delas, com a tecnocracia, estabelecendo a participação
popular direta, como nas assembleias de bairros, das cidades. Isso é assembleísmo?
É melhor que a frieza dos tecnocratas engravatados cujas ações não dizem respeito
às demandas sociais e no fundo são ações de interesses corporativos.
Ou fazemos uma profunda mudança
nas instituições democráticas ou vamos viver como se tudo fosse uma grande
encenação.
5 Comentários:
Muito bom! É a ideia que discutiamos na aula do dia 28/08, quinta-feira, esse simulacro que estamos engajados, que parte do "mundo privado" pra outras instâncias da vida, é que sem duvida invadiu a política de forma devastadora-como o senhor mesmo fala-essa democracia que é tão jovem mais que sofre tanto com esses interesses particulares, esses beneficios mútuos, essa política defasada e sem perspectivas.
Sem dúvida ao contrario dos jovens de gerações anteriores estamos acomodados, mas não por vontade própria ou por aquietações ideológicas, mas por acima disso tudo não acreditarmos que seremos ouvidos, por nossa voz ter sido esquecida, a voz de quem mais tem direto falar, "a voz do povo"...
HENRIQUE, CITEI UM COMENTÁRIO DO SEU BLOG, E NÃO FAZER A REFERENCIA NA NOTA DE RODA PÉ. COMO? AJUDA-ME.
faz o seguinte: BORRALHO, José Henrique de Paula.. O TITULO DO POST, DEPOIS O ENDEREÇO QUE APARECE LÁ EM CIMA (url), depois a data que acessaste.
abraços
A ideia de geração acomodada é polemica. Há quem ache que as formas de lutar mudaram porque a politica e os mecanismos de mudança também. MAs acho que existe um certo desinteresse por questões politicas na atualidade. Concordo contigo: é muito uma consequencia do que especificamente uma escolha...
Valeu brother, e comentando seu artigo, sobre a desburocratização da democracia, um dos fatores que emperra e que alija nossas instituições democráticas são a falta de educação para a maioria da população brasileira, uma educação de qualidade que seja acessível a todos, um uma maior, hoje mesmo estava comentando sobre educação com minha esposa, pensei que seria útil se houvesse um exame nacional para o ensino fundamental, sabemos que essa categoria necessita de grande amparo e que essa mesma categoria prepara o aluno ao ensino fundamental - sem preparo nenhum. o professor Alan Kardec Pacheco, em uma de suas aulas, dize que: o ensino superior brasileiro precisa passar por avaliações constantes assim garantirá sua qualidade. esses fatores também afetam nossas instituições democráticas, devemos pensar claramente essas possibilidades.
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