sábado, 2 de agosto de 2014

Sentido




Adonay Ramos Moreira


Apenas por um instante, apenas, nada além disso.
Depois, a noite,
o medo,
a pouca luz,
a pouca fé,
o pouco amor.
Depois o corpo de outro corpo se afastando,
pondo entre eles um vazio profundo,
uma prece, às vezes iludindo-se,
sonhando com a luz,
inimaginavelmente simples,
banal.
Depois, o suspiro prenhe dessa grande madrugada,
a ânsia e a espera,
as flores que morrem em nossas mãos e nada dizem.
E é difícil essa espera,
essa dor profunda,
essa falta e necessidade de amor,
essa rosa.
É estranho esse mar que jamais se aproxima,
essa luz que jamais cessa,
essa pequena roda do tempo que range,
que range, despertando, nessa longa noite pobre, a
flor sombria,
o sonho,
o delírio,
a dor.
Às vezes, melancólico, com o olhar repleto de todas
as distâncias e uma vaga (mas real) dor
na alma,
às vezes, por entre noites clandestinas, sonho,
não vivo,
mas sonho ser o rei de todas as terras,
o que é feliz e canta,
o que ama e ri,
o soldado fardado,
o dia em flor,
a noite prestes a morrer,
o sol,
sobretudo o sol.
Talvez porque há em nós todos os homens que
admiramos,
todas as mulheres que possuímos,
todas as misérias que olhamos,
todas as mortes que morremos.
Ah, e depois acordar. Olhar que a vida
(não a grande vida, mas a vida)
se encontra do outro lado da rua,
repleta de desejos e sonhos,
plena de suas gloriosas fraquezas,
cheia de tumulto,
de cantos,
de dores,
de lagrimas.
Afinal (tristes de nós, que temos sentimentos!), a vida
é feita dessas pequenas coisas,
desses detritos,
dessas raras imagens,
desses silêncios,
dessas muitas falas,
dessa necessidade de sermos, como as coisas, perfeitos,
sóbrios,
inalteráveis,
incorruptíveis.
Contudo, mesmo a noite vindo, é preciso viver,
sim, é preciso,
uma eterna necessidade, um desespero, um constante
(ah, assaz constante) aperto de mãos ao longo dessa grande estrada.        

Adonay Ramos Moreira é estudante do Curso de Filosofia da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e autor dos livros Sentimentos e Poemas, ambos de poesia.


4 Comentários:

Às 17 de agosto de 2014 às 18:39 , Anonymous Anônimo disse...

profundamente simples e sensivelmente profundo! Alma de artista é diferente, realmente.
e por isso deixo aqui minha angústia

Angústia (Martírio)

Sentimento urgente cadente crescente

Preso ileso . Por fora? Vomitar?

Cresce e não sai…

Cada gesto ,penso.

Por onde? Começar

O negrume da mente ou coração?
Cada ser pensante ,Na forma de canção não há de por

E dor e cor e compor e pensar que poderia…

Ah! Agonia presente como uma freio irrefreável , cor de purpura

Vermelha

Sangue

Corroendo a expressão à beira do papel

e ali se esvai se perde se desencontra e

reaparece no vazio. Vazio do tempo vazio

vazio,

fugaz lembrança retorna. Expressão outrora vem como inspiração,

mas vai e vai e não volta.
e vai

e vai

e vai

Presa num grande armazém, numa garrafa fechada . Minh’alma poética

Ex-iste
aonde ?que vão colossal reside?

Despede-se e não volta, se volta , vai e reside e reside e enterra.

Ré-enterra reenterro o sopro curvado do tempo

o medo sereno e torto

Desmedido e além. Sobre patas , ando! me perco num pensar. Irracional.

Figura abstrata do ser , universal. A sina corrobora , luta fatídica diária.

O que precisa ser? Certamente a incerteza do não ser, sabe que é.

E a poesia flui, cresce e morre refluxo
desvão esconde-se no armário velho fechado . Teias o prendem.

Como pincéis prendem a arte num centro de centros
todos juntos.

afãs
afãs

afã
desejo mútuo corpo e alma
prol
papel
poesia
música
sons
concreto.

Nada, como o sonho vão que não se acaba e se prende, une-se visceralmente. Nas entranhas

e vai e

fecha e

joga a chave

fora

 
Às 18 de agosto de 2014 às 11:17 , Blogger Henrique Borralho disse...

Caro anônimo adorei teu poema gostaria de publica-lo no versura? Eu adoraria. Me escreva autorizando

 
Às 18 de agosto de 2014 às 18:03 , Anonymous Anônimo disse...

muito lisonjeado! Sim, afinal conheço-o, fui seu aluno semestre passado.

 
Às 18 de agosto de 2014 às 20:37 , Anonymous Anônimo disse...

Porém gostaria que publicasse com o nome " De Moraes" na autoria...
http://dispersosetal.wordpress.com/

 

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