Era um livro colorido com gravuras pueris recheado de
palavras e números às vezes saltitantes. Era difícil fechar os quadros. Quanto
é mesmo 2 x 8? Assim, se não soubesse a conta não se poderia continuar a
preencher o próximo balão. Aquele livro, embora colorido e cheio de gravuras,
também continha uma concepção didático-pedagógica de difícil assimilação para
uma criança com dificuldade de aprendizagem lógica, sobretudo se sua
inteligência fosse corporal e mais criativa, e não necessariamente
numérica.
Aquela educação não era compatível com o desenvolvimento
psicossocial da maioria das crianças em idade escolar entre 4 e 7 anos. A
pressão por aprender só tornava as coisas ainda mais difíceis. A sensação de
pequenez, de ser burro e que não adiantaria estudar tornava a hora de aprender
um suplício e uma tormenta. Sebastião olhava para a rua onde os gritos de seus
coleguinhas aturdiam aquelas tardes tórridas correndo atrás da bola sem que
suas pernas pudessem manobrá-la, ziguezagueando os adversários, tentando
ultrapassar a barreira – dois tijolos separados em posição vertical, cujos
furos sustentavam duas hastes de madeira representando as traves –, e que suas
pernas unidas, sentado como estava, tentavam driblar a dura marcação de sua mãe
cobrando-lhe os deveres, quais tinha muito dificuldade em aprender.
Um outro livro colorido agora se encontra sobre a mesa.
Sebastião agora virou homem. Seus livros não são mais brincando com as
palavras, embora seja isso que tente fazer todas as vezes que escreve. A sua
frente, uma menina folheia o livro. Gravuras pueris recheadas de palavras e
números, às vezes saltitantes. Dessa vez, é mais fácil juntar as sílabas,
contar os moranguinhos, associar nomes a objetos. A capacidade de compreensão
maior é nítida, a inteligência é perceptível, o raciocínio idem. O que se pede
nesse livro novo é diferente do outro, separado pelo tempo e por visões
diferentes de educação. A capacidade associativista é maior que a mnemônica.
Correlacionar é mais importante do que decorar, embora memorizar seja o
primeiro passo para aprendizagem.
Na frente não mais um portão grande e cinzento separando a
casa da rua, dos gritos aturdidos de crianças jogando bola. A diversão agora é
outra: canais de televisão pagos com dezenas de desenhos instrutivos, mas que
conferem o mesmo grau de competição com o ato de estudar como no passado.
Divertir ainda é melhor que estudar, sempre. Por vezes, a menina corre a mão
num celular de última geração, touch
pad, mil jogos interativos, até educativos, e sempre mais atrativos que o
colorido livro de gravuras e balões.
Sebastião questiona por que o celular e os canais de TV a
cabo são mais atrativos que estudar. Às favas as regras gramaticais. A menina
enche Sebastião de perguntas sobre o porquê daquela separação silábica, o que é
um dígrafo, por que a letra E sozinha tem som de I. Sebastião incauto briga com
a linguística, questiona quem inventou as regras, as letras. Como é difícil
explicar para uma criança como um símbolo representa um fonema e que existe uma
lógica para escrever quando os rabiscos impingidos na superfície branca do
papel não obedecem regras, sentidos, a não ser a vontade de dar leveza às mãos
dos sentidos existentes na mente ainda sem formato definido, pelo menos para
uma leitura formal.
Ainda assim, é preciso continuar o exercício de ensinar a
conjugar as vogais, somar, multiplicar, pois que para além da brincadeira
despretensiosa dos rabiscos no papel, existe um mundo lógico, o qual
proporcionou a montagem dos desenhos coloridos da tv a cabo, a montagem da
estrutura eletrônica do celular touch
pad e a gramatura do livro
colorido, cuja intenção é ensinar brincando.
O prosaísmo prepara a estrutura didática para ensinar as
crianças a aprenderem, embora a poesia da brincadeira seja uma forma sublime de
suspender a vida para além da seriedade de uma vida depois da ludicidade. Aí,
as crianças brincando aprendem que para além de se divertir existe... Apenas o
se divertir. A diferença entre a menina e Sebastião é exatamente esta: ele já
se esqueceu do que é ser criança.
Henrique, o que está acontecendo com nossos jovens. sou professor de história, e as vezes cai a pergunta, pra que serve à história? a falta de interesse dos nossos alunos se expande dificultando o aprendizado marginalizando a disciplina Historia. estou muito triste
ResponderExcluirmeu caro, isso é reflexo da aceleração do tempo, do esfacelamento das relações sociais e da diminuição da reflexão. uma nova sociedade esta em curso. não sei se pior ou melhor.
Excluirabraços
verdadeiramente a sociedade tendeu ao imediato, individualista, as praticas desonrosas que não meça as consequências desenvolvendo a tirania e a falta de interesse pelas boas praticas.
ExcluirHenrique gostaria de algumas dicas sobre alguns livros sobre:Idade Moderna, Sociedade Burguesa, Brasil Republicano, América Espanhola, Reforma e contrarreforma.se puderes, por favor ajude-me.
ResponderExcluirme manda teu e-mail para eu te passar a bibliografia
Excluirabraços
gostaria de repor minha biblioteca com alguns teóricos nessas respectivas áreas lá vai, rafaella-dxz@hotmail.com.Muito obrigado.
Excluirrafaela, vou te enviar
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