No início,
ainda que não
haja início,
o nada,
o nada
inexiste,
o entre a
vontade e a potência: o eubiótico da criação.
Criação-existência-forma.
A forma de corpo,
o corpo do sentido, o sentido da sensação.
Sensação da percepção,
vontade - expressão.
O hiato
entre a potência e a expressão - o pensamento,
o pensamento
- linguagem, linguagem da fala.
A fala do falante
ouvinte do amante.
A existência
vagando, exprimindo,
descendo aos
recônditos da alma
até onde não
é possível descer mais.
Esqueceu do
começo, se é que houve um começo.
Descendo mais
e mais até esquecer-se de si mesmo,
até não se
caber mais,
até não se
reconhecer mais, até não mais “existir”,
a nadificação
se fazendo sentir.
Múltiplas formas
suprindo o nada;
encetando desejos
de vazio;
escondendo sua
face para não se ver no espelho;
se tornando ora
um narciso às avessas, ora mil medusas.
Bradando contra
a criação, contra si, desejando não existir, e ao desejar percebeu existindo,
criando ilusões,
se vestindo de
ego,
mentindo para
si,
para os
outros,
trajando roupas
que não lhe cabia,
mentindo para
si de novo,
continuou se
iludindo,
desejou de
novo não existir.
Exagerou no
batom, se borrando, limpando rosto, ficando nua,
não gostou
do seu corpo, se vestiu de lua.
Se banhou de
mar, marejou,
Bradou contra
as águas, esbravejou.
Trabalhou demais,
cansou.
Pensou em demasia
Viveu em
agonia
Controlou o
fluxo
Cortou o
pulso
Chorou de
soluço.
Imitou Deus,
gerou vida,
Sentiu-se
embevecida.
Parou de
lutar, desistiu de insistir,
Atingiu o grau
zero da existência,
O ponto onde
só existe o nada, que é tudo;
sem forma,
sem medo, sem passado, nem futuro,
nem ontem,
nem amanhã, nem cavalo preto fugindo a galope,
Sem marcha,
sem rima, sem acorde,
de volta ao
começo,
ao som
inicial,
perceptível,
inexprimível, inconfundível,
ao sopro
primeiro, ao instante entre vontade e potência,
antes da
linguagem, de tudo, de volta para casa, sem forma, sem nada,
sem tempo,
sem espera, sem esperança, sem expectativa, apenas sendo, existindo
sentindo sem
fala, pleno de si,
de volta ao início,
se é que
houve um início
onde havia o
nada,
o nada inexiste.
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