Entre a balança e a ferroada, ele deslinda ora com a
cabeça, ora com o estômago. Do estômago expõe a visceralidade, com a cabeça, a
necessidade de não pesar só para um lado do prato da balança, levando a moça de
olhos fechados a retirar as vendas e reequilibrar os pesos. Sempre usou mais o
estômago, para tudo. Agora num dos pratos ele se encontra com seu ferrão. Se a
balança pender para o seu lado o animal sobe, passa para o outro e ferroa a
moça da balança. O que será dela ferroada? Talvez perca o julgamento
sensato, o controle, o falso equilíbrio. Talvez passe a ser visceral,
estomacal, noiada com a vida, evite pré-seleções. Talvez enxergue aqueles que
busquem o equilíbrio, mas só conseguem ser o que são: ferroados, feridos,
viscerais, dionisíacos. Mas não à-toa ele está lá. Ele mede seu peso. Talvez o
que atraia seja o delicado equilíbrio, por isso procurou a moça de
olhos vendados, exatamente para saber de sua medida. Talvez para testar sua
sedução em ferroar quem não se deixa ser. É uma dança da balança, um álter sem
chão, uma profusão de liberdade por estar flutuando, apesar de seu peso. O
engraçado é que na outra ponta não há ninguém, a não ser o reflexo do seu
desejo de ferroar. É ele quem no jogo do sobe e desce, da ascensão e descenso,
precisar medir até onde é pulsão, desequilíbrio, desmesura. O
controle não é dele, não está no controle, e sim, da moça de olhos vendados,
que mesmo enxergando o delicado equilíbrio da balança decide por ser
ferroada, por inteiro.
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ResponderExcluirObrigado D. Lima. estou tentando ser poeta
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