quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Anáguas

Para Nélson Sanches Martinez Junior, meu amigo e irmão, onde quer que estejas. Saibas que o único lugar onde não estais é no vale do esquecimento.

                            "A memória é uma velha louca que guarda trapos coloridos e joga comida fora" Austin O'Malley



São como dobras do tempo,
são vestais.

Cada camada uma geração inteira de dor, esperanças, frustrações.

São intermitentes, ainda que transparentes, quando sobrepostas acumulam-se os anos de espera, aí, ficam espessas, pesadas.

As mãos dão voltas grandes para carregar tamanho peso das vidas acumuladas em cada cosedura.

Livrar-se de cada folha que cobre o corpo dorido é irresoluto e necessário, mas livrar-se também é ficar despido, transparente, como se as vestais ao invés de cobrirem a nudez, descobrem a vergonha da vida marcada pelas dobras do tempo.

São uma espécie de segunda pele, a epiderme da alma. Como um corpo sobreposto ao outro, uma dobra do espírito que necessita de tantas camadas para não se enxergar, não se ver, cego na urdidura de tantas amarras, ilusões, decepções, frustrações de si mesmo.

Se vestir assim não é aprender com o tempo, é se perder nele, pois as camadas são os labirintos por onde a vida escolhe para atingir o escopo das descobertas.

Ria do tempo anáguas, rasgue as vestes e em cada rasgo costure com linhas de ouro, pois quem se rasgou assim é mais bonito, já que possui uma história para contar.     
        

















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