domingo, 1 de dezembro de 2013

O que dirão de nós no futuro?


Para Jorge Teixeira



No século XIX, quando não havia ainda nem rádio, nem cinema, televisão, a imprensa escrita era a principal forma das pessoas se aquinhoarem das informações do país e do mundo. 

Os folhetins, romances recortados, estimulavam a vivacidade crítica de seus leitores projetando-os em outros mundos.

As crônicas constituíam um repertório do cotidiano das cidades, as palavras ligando as pessoas. Por serem também nuances de seus narradores, eram um grande mosaico do modus vivendi dos habitantes do país. É possível imaginar o que os brasileiros imaginavam, ansiavam, queriam naquele período lendo tais estilos prosaicos.

Mas, o que as atuais crônicas mostrarão para os futuros leitores? Há quem diga que as edições de cinema são as melhores formas de contar uma história, já para outros, quem melhor faz isso é a literatura. 

As crônicas de hoje são rapsódias da velocidade da vida frenética, dos embates entre Black Blocs e Black Friday, dos apelos por um rosto a ser conhecido nas milhões de páginas de face's, das mentiras dos telejornais, dos textos curtos dos blogs, dos embates entre aqueles que ainda acreditam na política e militam sempre projetando um mundo melhor e aqueles que acham que isso é utopia, perda de tempo. 

As crônicas de hoje contam a disputa entre papparazzi e vida privada, popozudas, mulheres-frutas e magrelas, helicópteros-cocaína, projetos de poder, o desencantamento pelo futebol, a fifafização (FIFA) do Brasil. 

Os leitores do futuro saberão que, nestes tempos de agora, inventou-se um novo idioma, o internetês, de como devastamos a Amazônia, como Karl Marx previu o futuro ao dizer que no capitalismo tudo vira mercadoria, até mesmo os sentimentos mais compungidos, tais como a fé, a sensibilidade, o amor.

As crônicas de hoje lidas no futuro dão conta de um fim de um tipo de homens e de mulheres e o surgimento de outros tipos. Quais? Comecemos a escrever agora, pode ser que ainda possamos mudar o roteiro.    

3 comentários:

  1. Ao tratar da figura do narrador e como ela sobrevive capenga na contemporaneidade, lembro-me da crise postulada por Benjamin e, atualmente tanto o romance quanto a informação também são vítimas do seu distanciamento. Preocupa-me muito viver uma liberdade que se resume ao consumir, em que minha condição de cidadão está ligada ao que eu posso ou não ter. Desculpe: Compro, logo existo! Não aguento mais essa conversa de Black Friday, como se minha vida durante todo o ano dependesse de um desconto!
    As nossas crônicas deixam de ser subjetivas para serem alimentadas de uma superficialidade factual das últimas notícias. O que dirão de nós no futuro? Que criamos meios mais rápidos de nos distanciarmos, que nossa escrita está condicionada por aplicativos, que passamos mais tempo no engarrafamento do que dormindo.
    No teu relato percebo que a decadência da referência da experiência nos condiciona a procurá-la nos noticiários, em vídeo-locadoras ou mesmo baixar na internet. Onde até a experiência narcisista de se exibir é condenada por pudicos de esquina que arrotam moral e se devassam na pornografia.
    Às vezes tenho medo de perder o tato com as pessoas, mas ao ler esse texto me sinto acolhido por você que é um verdadeiro mestre no sentido mais amplo da palavra e de poder compartilhar mesmo virtualmente desta leitura. Minha promessa deste fim de ano é: desprender-me do que deve ser cumprido ainda este ano e lhe encontrar nem que seja para minutos de prosa!

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  2. Henrique desculpe por usar esse blog para expor minha mera opinião, como Marx já havia previsto " a Religião é o ópio do povo", mas cá entre nós, não está na hora de acreditarmos em certas profecias bíblicas? será que o homem já não se tornou ganancioso a ponto de vender seus próprios princípios? as mulheres em busca do corpo divino se submetem à horas de arriscadas cirurgias? será que a falência da compaixão do homem se esfacelou entre o egoísmo? poucos são os que se importam pela desgraça alheia, o que dita a sociedade hoje são os consumos exagerados, o entretenimento medíocre, as humilhações de reality shows os escândalos de corrupção as invasões de privacidades enfim, o homem em sua essência perdeu a identidade de amar, sendo o único dentre os animais com essa capacidade, só um recado ,não quero ser prosélito, mas o mundo jaz no no poder iníquo. revelação

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    1. olha, o que posso te dizer é: nos tornamos simulacros de nós mesmos, ou seja, representação da representação de homem, que por sua vez, também foi uma invenção humanista. Invenção essa que nos acostumamos com a ideia de que ser solidário é melhor que ser egoista, a paz é melhor que a guerra, o amor é melhor que o ódio. não acredito que o mundo jáz no poder do iniquio, o inimigo somos nos mesmos, mas nada está definido, podemos mudar nosso rumo, basta querermos. um dia a gente cansa desse consumismo futil e frivolo

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