Nas noites escuras em Magred quase sempre é um risco sair à
noite. Mas quem pode se furtar de curti-la nessa cidade que pulsa? Nem mesmo os
ladrões, beneficiários da vida frenética, usuários da noite veloz.
Certa feita, caminhava um grupo de jovens alegres e distraídos,
cantarolando e sorvendo a intrepidez de não se preocuparem com os perigos. Sem
se darem conta, no fluxo contrário, vinham três homens aparentemente inocentes
que se aproximaram lentamente. Num átimo de segundo, os três sacaram três
lanças pontiagudas e grandes em direção ao grupo. Tratava-se de um assalto. Sem
reação, todos entregaram suas carteiras, documentos, mas Marval, o maior de
todos, conseguiu fugir deixando para trás sua amiga Nania.
Desesperado, correu como um lince à procura de ajuda. Sua
respiração ofegante não condizia com a velocidade muscular de suas pernas que
mais lembravam um tropel de cavalos selvagens fugindo de uma caça. O raciocínio
lhe fugia à cabeça, a vista escura, o coração a saltar pela boca. Seus olhos
percorriam por todos os lados à procura de alguém que pudesse ajudá-lo, quando
sua mente se lembrava o que poderia estar acontecendo com Nania.
Dobrando a esquina da rua Alcate, encontrou um grupo de
policias de plantão. Quase sem conseguir falar, esbravejou seu medo e pediu
desesperadamente que corressem em busca de sua amiga e dos ladrões. Subiram no
carro e foram atrás, com muita sorte conseguiriam encontrá-los. Depois de
percorrer becos e vielas, encontrou o grupo acuado e os ladrões com suas lanças
em riste apontadas para eles, inclusive uma delas para Nania.
Os policiais deram voz de prisão, resistiram, um deles
sacou da arma e disparou em direção a um dos assaltantes ferindo-o na perna. Os
outros fugiram.
Marval, ofegante, estende suas mãos para Nania tentando
levantá-la, consolá-la por nada de pior tê-la acontecido. Nania não conseguia
disfarçar a decepcão com Marval, não olhava nos olhos dele. Até a casa de Nania
reinou um silencio sepulcral, nenhuma troca de olhares, nem um comentário,
nada.
Ao chegaram à porta da casa de Nania, ela comentou que na
noite anterior havia sonhado com três cobras embaixo de sua cama e que também
no sonho Marval não conseguia protegê-la; para ela, um sinal.
– Três
cobras, três homens, três lanças Marval, e você sempre por perto, sempre
fugindo. Adeus Marval. Bateu
a porta.
Numa linguagem rápida, dotada de ação, permite ao leitor acompanhar o texto de forma também ágil, afinal, entre a ação e o desfecho existe sentimentos não definidos entre Nania e Marval. Meteforicamente é a história do enfretamento contemporâneo das escolhas ou das das indecisões postas diante da agilidade do mundo caótico. Parabéns, Henrique, por nos brindar com essa "escritura", para mim, no sentido lacaniano.
ResponderExcluirfátima, nem havia pensado nisso quando fiz. mas concordo contigo, há de fato algo de lacaniano, bem lacaniano. quando te encontrar te conto porque
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