quarta-feira, 18 de julho de 2012

três lanças

Nas noites escuras em Magred quase sempre é um risco sair à noite. Mas quem pode se furtar de curti-la nessa cidade que pulsa? Nem mesmo os ladrões, beneficiários da vida frenética, usuários da noite veloz. 

Certa feita, caminhava um grupo de jovens alegres e distraídos, cantarolando e sorvendo a intrepidez de não se preocuparem com os perigos. Sem se darem conta, no fluxo contrário, vinham três homens aparentemente inocentes que se aproximaram lentamente. Num átimo de segundo, os três sacaram três lanças pontiagudas e grandes em direção ao grupo. Tratava-se de um assalto. Sem reação, todos entregaram suas carteiras, documentos, mas Marval, o maior de todos, conseguiu fugir deixando para trás sua amiga Nania. 

Desesperado, correu como um lince à procura de ajuda. Sua respiração ofegante não condizia com a velocidade muscular de suas pernas que mais lembravam um tropel de cavalos selvagens fugindo de uma caça. O raciocínio lhe fugia à cabeça, a vista escura, o coração a saltar pela boca. Seus olhos percorriam por todos os lados à procura de alguém que pudesse ajudá-lo, quando sua mente se lembrava o que poderia estar acontecendo com Nania. 

Dobrando a esquina da rua Alcate, encontrou um grupo de policias de plantão. Quase sem conseguir falar, esbravejou seu medo e pediu desesperadamente que corressem em busca de sua amiga e dos ladrões. Subiram no carro e foram atrás, com muita sorte conseguiriam encontrá-los. Depois de percorrer becos e vielas, encontrou o grupo acuado e os ladrões com suas lanças em riste apontadas para eles, inclusive uma delas para Nania. 

Os policiais deram voz de prisão, resistiram, um deles sacou da arma e disparou em direção a um dos assaltantes ferindo-o na perna. Os outros fugiram. 

Marval, ofegante, estende suas mãos para Nania tentando levantá-la, consolá-la por nada de pior tê-la acontecido. Nania não conseguia disfarçar a decepcão com Marval, não olhava nos olhos dele. Até a casa de Nania reinou um silencio sepulcral, nenhuma troca de olhares, nem um comentário, nada. 

Ao chegaram à porta da casa de Nania, ela comentou que na noite anterior havia sonhado com três cobras embaixo de sua cama e que também no sonho Marval não conseguia protegê-la; para ela, um sinal.

  Três cobras, três homens, três lanças Marval, e você sempre por perto, sempre fugindo. Adeus Marval. Bateu a porta



2 comentários:

  1. Numa linguagem rápida, dotada de ação, permite ao leitor acompanhar o texto de forma também ágil, afinal, entre a ação e o desfecho existe sentimentos não definidos entre Nania e Marval. Meteforicamente é a história do enfretamento contemporâneo das escolhas ou das das indecisões postas diante da agilidade do mundo caótico. Parabéns, Henrique, por nos brindar com essa "escritura", para mim, no sentido lacaniano.

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    1. fátima, nem havia pensado nisso quando fiz. mas concordo contigo, há de fato algo de lacaniano, bem lacaniano. quando te encontrar te conto porque

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