FISICA QUÂNTICA E HISTÓRIA: CONJECTURAS ACERCA DA TEORIA DO CAMPO UNIFICADO
Deus disse: Haja luz, e houve luz
(Gn 1:3). Que relações há entre a narrativa épica bíblica e a teoria do Big Bang?
Qual a comutação entre todas as narrativas acerca da criação do cosmo e o
discurso cientifico? Somos de fato integrados, unos? O que unifica ou separa a
atual Física Quântica e a História? Por que o conhecimento caminhou de uma
perspectiva holística para a atomização do saber? Existe de fato então um mundo
segmentado, sem coerência coexistencial, como afirmou Marcelo Gleiser quando
disse: “não há nenhum projeto da natureza para o homem”. Esta afirmação, vinda
de um respeitável físico, coloca impasses quanto à validade dos saberes, a
noção de caos, a ordem do universo, a relação homem-natureza.
Questões como estas estão longe de ser
novas ou mesmo solucionadas, mas no início deste novo milênio a
hiperespecialização das áreas dos saberes científicos existentes nos mais
diversos segmentos do conhecimento, parece mais do que nunca não só bizarra,
como interconectada ao interesse do grande capital enquanto patrocinador da
ciência aplicada, sem interesse outro ao não ser no pragmatismo dos resultados,
na ausência de criticidade, no ilogismo, posto que a aplicação de recursos se
detém especificamente na obtenção de retorno financeiro. A atomização do saber
cria barreiras para o desenvolvimento de uma ciência emancipadora, integrada,
holística.
Contrariamente à atual etapa em que
se encontram as diversas ciências, as primeiras interpretações acerca do
desenvolvimento do universo foram desenvolvidas pelos filósofos pré-socráticos.
Com a perspectiva de que os quatro elementos existentes na
natureza: terra, fogo, água e ar existentes no éter ou atmosfera
formavam a composição basilar do universo, compactuavam explicação
axiológica embricando filosofia, enquanto preocupação existencial, e a futura
ciência que mais tarde com Aristóteles seria chamada de Física.
Aristóteles, no século III a.C., debruçou-se
sobre o movimento ou a substância que tem em si mesma a sua causa. A Física, de
Aristóteles até o início da Idade Moderna, ficou quase que
inalterada.
Houve uma profunda alteração que a
cognominada modernidade causou na perspectiva de compreensão do homem europeu e
seu papel na construção dos sentidos de interpretação da história da
humanidade, da aceleração do tempo, da modificação do mundo do trabalho, na
mudança das relações entre transcendência e imanência, na compreensão do papel
da economia, e, sobretudo, na revolução nas mentalidades e no imaginário
provocada pela redução do papel da Igreja Católica como
instituição legitimante da codificação do mundo, oriunda do advento da nova
ciência e das novas descobertas, e do papel de cientistas e intelectuais como
Descartes, Bacon, Galileu, Giordano Bruno, Copérnico.
Hannah Arendt conclama a
modernidade como desencantadora do mundo, notadamente as relações de
sociabilidade existentes na Antiguidade, que tinham como eixo
unificador o sagrado enquanto élan de sustentabilidade, coesão e organização
social. A autoridade não se impunha, posto que não se impõe,
ela o é, diferentemente da autoridade na modernidade que se constituiu
culturalmente a partir de novos elementos “artificiais” de congregação social,
como o estado moderno, a economia moderna, gestão planejada, estratégias de
legitimação, entre outras, como bem frisou Michel Foucault.
É no início da época moderna que
ocorre a separação entre Empirismo e Filosofia, por considerar a primeira que
seus experimentos seriam suficientes para se atingir os fundamentos das coisas,
a verdade, ao contrário da filosofia que baseava seus postulados na especulação
metafísica. Cada vez mais a ciência cognominada de empírica se afastaria da
especulação interpretativa das coisas, tendo como postulado máximo desta
preconização Isaac Newton revolucionando a ciência ao afirmar: “em ciência não
basta descrever, é preciso provar”. Era o princípio do Iluminismo e a conotação
do referencial paradigmático de que a partir dos experimentos se poderia chegar à Toca
do Coelho, livres de qualquer especulação, dogma ou crença, quer dizer, da
idade turva, obscura da humanidade. A razão instrumental poderia nos levar à
felicidade, à paz e ao progresso: era a vitória da Física e seu paradigma de
reducionismo lógico; “havia objetivamente uma ordem natural das coisas e a
Física, ciência da natureza, deveria representá-la consistentemente, formulando
as regras de sua descrição”.
A Física, conjuntamente com as
demais ciências naturais, havia colaborado profundamente com o desenvolvimento
da revolução e sociedades industriais com o aperfeiçoamento da descoberta de
novos materiais e tecnologias, como: máquina a vapor, telégrafo, telefone,
fotografia, cinema. Em meados do XIX, Sir Lord Kelvin, codinome do fisico William Thomson, afirmou ser a Física uma
ciência desinteressante, visto que nada mais havia para ser dito ou explicado, era em
suma, uma ciência em obsolescência.
Em 1897, a Europa assistia estarrecida à descoberta
do eletromagnetismo com Henrich Hertz. A ciência mudaria radicalmente a
correlação entre saber e existência cotidiana.
Em 1900, uma nova revolução estava
às portas: a descoberta dos quanta; as formas como os elétrons absorvem ou
emitem energias específicas
e descontinuamente separadas, os movimentos
das partículas e ondas. Nascia assim a Física Quântica.
No ano de 1900, Max Planck, descobridor
da Física Quântica, afirmou: “a energia não é emitida e tampouco absorvida
continuamente, mas sim em minúsculas porções discretas chamada de quanta, ou
fótons”. A Física Clássica estuda o
movimento dos corpos, mecânica ondulatória dentro de certo domínio de aplicação
determinado; a Física Quântica, a
existência de um mundo atômico e subatômico, não visto a olhos nus.
Por exemplo: a descoberta dos raios-X, do eletromagnetismo, dos computadores,
da tomografia, dos supercondutores de energia, dos super ímãs, dos campos gravitacionais, da fibra óptica, deveu-se a
Física Quântica. Esta ciência deu um salto no século passado pela descoberta de
um novo mundo ainda não perscrutado. Segundo Osvaldo Pessoa Jr.: a Física
Quântica é a teoria científica
que descreve os objetos microscópicos, como
átomos, e sua interação com a radiação, luz, por exemplo.
A partir da
descoberta da Física Quântica, um conjunto cada vez maior de cientistas colocava
interrogações sobre a nossa capacidade de entendimento do mecanismo de
movimento de partículas e as impossibilidades de desvelamento da caixa preta do
cosmo, dentre eles se destacam: Warner Heinseberg, autor do princípio da indeterminação na Física,
Neils Bohr, princípio da
complementaridade: “não é possível realizar simultaneamente a descrição
rigorosa do espaço-tempo e a conexão causal dos processos causais”; Albert
Einstein: “é necessário uma corajosa imaginação científica para
reconhecer que o fundamental para a ordenação científica podia não ser
o comportamento dos corpos; mas o comportamento de alguma coisa que se interpõe
entre eles, o campo”; Richard Feynman.
Einstein certa vez declarou:
“somente utilizando o recurso de nossa imaginação poderemos completar a sinopse
de decodificação do universo”. Ele recorria a outros paradigmas como elementos
integrados da chave de interpretação. Era a teoria do campo unificado,
compartilhando da mesma ideia do semioticista Charles Peirce
sobre a interatividade na ciência. Para Peirce não há
indissociação entre História, Psicologia, Física e Literatura.
As questões que intrigavam os
físicos eram sobre a indeterminação do movimento das partículas e ondas. A
mecânica quântica, mecanismo de deslocamento dos quanta, mudava a perspectiva
de análise referencial dos objetos. Descobriu-se que os átomos não eram
indivisíveis e muito menos a menor partícula existente, pois em seu campo
gravitacional orbitavam elementos chamados de fótons ou elétrons que necessariamente
não se deslocavam na mesma direção, sentido, tempo ou unidade, eles davam
saltos. Quando uma bola é arremessada escada abaixo, os elétrons, assim como a
bola, necessariamente não se encontram entre um degrau e outro, eles
simplesmente desapareciam, mas, para onde? Isto é o chamado salto quântico.
Além disto, existe o problema quanto à interpretação de outros mundos, ou seja,
as propriedades que na posição anterior são dadas como potencialmente de fato
existem simultaneamente. Para alguns cientistas, existem multiplicidades de universos que aumentam
simultaneamente. Para estes cientistas, nós mesmos somos múltiplos e existimos de várias formas.
Bem, se nós existimos simultaneamente, então o que nos impede de
enxergamos nós outros, os outros mundos, etc.? Segundo estes cientistas, não é o olho que vê, é o
cérebro, os olhos são apenas lentes que captam as imagens e transmitem a
informação para o córtex cerebral que, a
partir da leitura cultural existente, lê,
seleciona e codifica as informações e cria os sentidos do mundo a partir de nosso julgamento cultural. Além disso, nós só enxergamos
aquilo que está condensado materialmente. A descoberta desta perspectiva
levou o matemático Lewis Carrol, pseudônimo de Charles Lutwidge
Dodgson, as raias da imaginação em “Alice no país das maravilhas”.
A partir de problemáticas como
essas decorreram segmentações dentro da própria Física:
a) Os ortodoxos; que não aceitam qualquer possibilidade de
veiculação com especulação, esoterismo, sobretudo recorrendo a princípios
especulativos, não-científicos e verificáveis, quer dizer, para este segmento a
Física Quântica se encarrega da compreensão dos cálculos das possibilidades de
deslocamento das partículas e ondas;
b) Os que veiculam a mecânica quântica à Biologia (estrutura
do DNA e genética molecular), uma vez que há a possibilidade de que o
funcionamento biológico opere por mecanismos quânticos;
c) Aqueles que correlacionam Mecânica Quântica e
Química (orbitais quânticos);
d) Neuropsiquiatria-Psicologia-Psicanálise. Dentro
deste debate existe uma divergência: os que defendem que a mente depende
exclusivamente da estrutura dos processos cerebrais, e não de sua realização
física, sob esta perspectiva, o computador
possui consciência, sociedades com determinados padrões éticos, também.
Segundo Einserberg (1927): uma
frente de onda espalhada podia ser detectada em uma chapa fotográfica como uma
trajetória quase linear, quando um colapso de onda seria causado pelo ato da
observação. Este fenômeno seria provocado por um ser consciente: O OBSERVADOR. Para os que
discordam da teoria funcionalista, a consciência humana seria a causadora de
uma transição quântica.
Segundo David Deutsch, o cérebro é
um computador quântico mais eficiente de que um computador digital.
Para Hameroff, no nível subneural
ocorrem processamentos de informação, isto quer dizer que células possuem uma
delicada estrutura formada por microtúbulos de proteína, formando um
citoesqueleto, este mecanismo possui uma função cognitiva, ligada à memória.
Cientistas afirmam que o nosso
organismo, apesar de interconectado funcionalmente, cada célula, partícula,
glândula,
opera por mecanismo de autonomia relativa porque possui um conjunto de memórias
que vão se formando com os anos de um determinado indivíduo. Cada célula e
glândula têm um arcabouço de operações químicas ligado às suas memórias.
É que cada célula possui um conjunto de microtúbulos que recebe
a partir do sistema de encaixe, uma enzima ou proteína liberada pelo sistema
nervoso. Como essas enzimas ou proteínas sabem exatamente qual a sensação
liberada pelo sistema nervoso? Cada sensação no nosso organismo está
relacionada ao conjunto dos peptídeos que existem no nosso sistema biológico,
isto quer dizer que para cada sensação, desejo ou fantasia produzida internamente,
existe uma combinação diferente que desencadeia reações químicas. Por exemplo:
os sentimentos de amor, ódio, raiva, alegria, tristeza, etc., estão
relacionados à memória das células e glândulas que buscam conotativo para essas sensações
provocadas pela conexão com os peptídeos. Quando uma célula se segmenta
formando uma outra célula exatamente igual à anterior, a quantidade
de microtúbulos existentes nesta nova célula está ligada aos
anos de vida que o indivíduo produziu em forma de sensações, da vida que
construiu, ou seja, a quantidade de receptores para coisas positivas, boas,
alegres que uma célula terá será menor se ao longo da vida bombardeamos nosso
organismo com sensações ruins, tristes e derrotistas, desanimadoras, pois como dito, no sistema nervoso, os neurônios
constroem teias de relações de longo, curto ou médio prazo. Este é o modelo de
Frölich, ainda em estudo.
Não adiantaria então se alimentar
corretamente, fazer dieta, praticar esporte, fazer plástica, botar botox,
silicone, se internamente a mensagem que seu organismo recebe todos os dias é
que você se acha feia, horrível, ruim, assim por diante.
Segundo Marshall, a Mecânica Quântica explicaria fenômenos de
percepção extrassensorial. Alguns autores, corroborando Marshall, alegam que a consciência
pode exercer influência direta sobre processos naturais evidenciando que um
modelo quântico da consciência daria conta deste e de outros tipos de
fenômenos, incluindo os biológicos.
Sob este ângulo, a teoria da
sincronicidade de Jung, a questão da intuição feminina, o pressentimento,
intuição, deixam de ser coisas absurdas. Ora, se a energia viaja sob forma de
ondas não determinadas e o pensamento opera sob forma quântica, o que impede a
sintonia de pensamento entre duas pessoas interligadas sentimentalmente? A
intuição é um processamento de superposição quântica.
E por último, Física Quântica e
espiritualismo. Autores como Fritjof Capra em obras como O Tal da Física, Ponto de mutação, ou Leonardo Boff, A
águia e a galinha, Hoyle, Bohm, Hawking, são alguns dos que compartilham
desta ideia.
Em uma experiência realizada nas
águas da barragem Fujiwori, no Japão, o Sr. Mastmoro retirou uma porção de água
e a levou para um laboratório. Com o processo de câmara escura, ele bateu a
foto da molécula da água, depois a destilou, em seguida tornou a bater a foto
da composição molecular. Em garrafas diferentes colocou uma porção da água da
barragem. Na primeira, pediu que um monge budista a benzesse; na segunda,
escreveu o “chi do amor’; na terceira, “obrigado’ e, na quarta; “eu odeio você,
eu vou te matar”. Resultado: a composição molecular da água mudou radicalmente
em cada uma das etapas.
Em uma outra experiência realizada
em Washington, capital dos Estados Unidos, várias pessoas do mundo se
reuniram e afirmaram que naquele verão de 1997 poderiam reduzir os índices de
criminalidade. O chefe da Polícia de Washington afirmou que para reduzir tal
índice seria necessário 1 metro de camada de neve. Ao final daquele
verão, os índices de criminalidade haviam sido reduzidos em 25%. Esta
experiência está registrada na polícia de Washington, e ambos os experimentos
estão descritos no filme-documentário “Quem somos nós”.
Se a Física, ou um
segmento dela, ainda que sofrendo duras críticas, começa a sinalizar para a
possibilidade de que a forma como enxergamos o mundo: fractal, segmentada, caótica é um equívoco, pois como concebiam os primeiros
filósofos; o mundo é integrado, harmônico, holístico, a forma como temos
compreendido a história não precisaria ser revista? A ideia de que não afetamos
o mundo, não temos coparticipação nas decisões coletivas, somos seres
desconectados da natureza em sua ampla dimensão, apenas um acidente, de que a
única realidade é a material, pragmática, palpável, a verdadeira ciência é
aquela que possui uma finalidade específica a responsabilidade pelos
percalços decorridos ao longo da história da humanidade não seria uma repetição
dos mesmos princípios que levaram à destruição do conhecimento do mundo antigo
a partir do incêndio da
biblioteca de Alexandria, ou da monopolização
do saber através da Igreja
Católica que impedia o acesso aos livros que
eram guardados pelos monges copistas?
Sob este
aspecto, qual o absurdo da narratividade épica bíblica do “Faça-se luz” e a
teoria do Big Bang? Se a teoria do físico Hubble, contradizendo Einstein, de que o universo não é
estático e ao contrário, está se expandindo levando a ideia de que o universo
estava se contraindo?
A história faz-se a
partir de como homens e mulheres se enxergam e enxergam os outros; se mudarmos a perspectiva
do olhar, mudaremos a história.
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