quarta-feira, 27 de abril de 2016

O desafio final



Ashee-Tee-Ram era um mestre versado nas ciências do pensamento e comportamento social, bem como um profundo conhecedor do deslocamento e funcionamento dos corpos celestiais. Compunha a Sociedade Real dos Altos conhecimentos em Pleias, planeta pertencente à Constelação de Andrômeda.

Responsável pelo ensinamento aos mais jovens, estava sempre atento ao desenvolvimento do cosmos estudando a relação entre este e o comportamento dos planetas e humanoides. Certo dia foi convocado para uma reunião do conselho planetário de Pleias tratando do andamento das invasões de humanoides de outros orbes em planetas em fase de desenvolvimento, como a Terra. A reunião na verdade se tratava de um convite, uma espécie de convocação a todos aqueles que voluntariamente se dispusessem a ajudar os planetas em perigo. Detalhou-se o processo de criação embrionária de uma raça humanoide na Terra executada pelos Anunnaki. Aquilo mexeu e perturbou Ashee-Tee-Ram profundamente. Fora dado um breve espaço de tempo àqueles que se voluntariaram.

Dormindo mal com a decisão que teria que tomar, suas aulas passaram a ser dispersas e sempre ao final do dia subia ao monte Carmaram sozinho refletindo sobre o que teria que deixar para trás, caso decidisse partir. Do alto do monte avistava a tessitura de seu planeta, ruas geometricamente perfeitas, bem delineadas, as gentes lá embaixo e a segurança de um lugar que, superado os períodos tenebrosos de guerra, fome e divisão, teria que enfrentar situações difíceis, a maldade e arrogância dos Anunnaki e os agouros de um planeta em gestação, cujo processo de desenvolvimento foi entrecortado pela interferência de outros seres.

Dias se passaram até que enfim tomou a decisão. Partira para a Terra, provavelmente por tempo indeterminado. Em Pleias foi saudado com herói juntamente com os demais que tomaram a mesma postura. Foi incumbido da responsabilidade de guiar a nave até uma colônia de preparação na órbita da Terra. Vestiu seu uniforme de gala: um vestido azul-gôndora, um elmo doirado em formato de um portal deixando apenas os olhos descobertos e uma abertura que ia por cima do nariz até abaixo da boca, o símbolo de Pleias bem na altura do plexo solar representando a união de todos os povos da Constelação de Andrômeda.

Na colônia passou por um período de preparação, estudo sobre a história da Terra, na verdade, Gaia, a dificuldade que teria em baixar sua densidade vibracional de 6ª para a 3ª dimensão, incluindo a perda de habilidades e memória em decorrência da baixa densidade da Terra que ocorre no processo de encarnação. Teria que contar apenas com sua intuição, sua bondade, e ensinar os seres humanos terráqueos o processo de evolução e reconexão com o cosmos e desvelar as mentiras que os Anunnki, adorados como deuses, contaram. 

Iniciou então o processo reencarnatório. Juntamente com o conselho espiritual da Colônia, decidiu o lugar que nasceria, a família, suas provações, bem como desafios e missão. Tudo foi meticulosamente programado até começar a decrescer em tamanho dia após dia, a retroceder em conhecimento, a perder a memória das coisas que aprendera até então, ficar do tamanho de um embrião e ser atraído para o útero de uma terráquea.

Nasceu na antiga Suméria, lugar de adoração dos Anunnaki. Como era esperado, interessou-se pelas antigas astronomia e astrologia tornando-se um sacerdote do templo Antu, mas não se lembrara de quem era e nem de onde viera. Ainda assim, era muito comum ver o agora jovem Ahtar, nome que seus país lhe deram, olhando para os céus, admirando as estrelas e procurando corpos celestiais. Seu desafio era o desenvolvimento do conhecimento para o bem, não pendendo a fornecê-lo para aqueles que dominavam a cidade utilizando-o para o mal. Enfrentava essa refrega todos os dias, sobretudo à medida que seu conhecimento se avolumava, sempre com o risco de cair em mãos erradas.

Reencarnação após reencarnação o antigo Ashee-Tee-Ram distanciava de seu intento inicial incorporando hábitos e costumes terráqueos, bem como as suas vicissitudes. Já não se recordava de sua missão, mesmo após cada morte retornando para a colônia fazendo um balanço de sua vida pretérita. No entanto, o acúmulo de práticas terráqueas, a densidade de Gaia, cada vez mais pesada, o envolvimento com doutrinas ilusórias, a consumação de alimentos densos e pesados, acrescentado da chegada de outra raça humanoide, os reptilianos, executando serviços a mando dos Anunnaki, que partiram em busca de ouro em outras galáxias, aumentando o processo de exploração, enganação iniciada pelo Anunnaki, Ashee-Tee-Ram não era nem a sombra de um antigo mestre ascensionado. 

Assim, o tempo foi se passando e apenas uma fulgura esperança de conhecer outros mundos alimentava seu desejo. A emancipação de Gaia já era um projeto perdido em sua memória. Reencarnou no Egito, Grécia, Roma, África, América, como mulher várias vezes, como membro das altas cortes europeias, foi nobre, depois escravo, pobre, voltou a ser rico, num ciclo vida após vida. Seu processo de retomada de consciência começou quando reencarnou na França do século XVIII sendo um filósofo da Revolução Francesa. Morreu na cela assassinado pelo seu colega de cárcere na véspera de sua decapitação. Esse episódio o marcou profundamente, a tal ponto que na colônia tomara a decisão enfim de, dali em diante, retomar seu projeto inicial.

Pelo que foi dito pelas altas odes celestiais, a restauração definitiva de Gaia aconteceria no século XXI. Antes disso, tomou a decisão de reencarnar no Brasil, o coração de Gaia restaurada, segundo a Confederação Galáctica, responsável pela expulsão dos reptilianos e impedindo o retorno dos Anunnaki,. Desta feita, nascera no final do século XIX e morreu em meados do século XX sendo um grande escritor e exercendo também a função de um jornalista denunciando conchavos, golpes, artimanhas e falando de questões espirituais.

Deu-se um intervalo de 40 anos entre sua penúltima reencarnação e sua derradeira, nascendo em fins do século XX. Na colônia decidiu pela resolução de todos os seus conflitos e pendengas, sabendo do grau de dificuldade para sair definitivamente da roda de Samsara. Optou de novo pelo jornalismo onde começou a escrever artigos sobre política, denunciando golpes, conspirações, conchavos entremeando com questões espiritualistas. Foi nesta última reencarnação que tomou conhecimento de que fora Ashee-Tee-Ram e que na verdade o seu desejo de vir para a Terra significava o seu processo evolutivo, o que ele precisava enfim para sua emancipação. Tudo o que passou representava antes de mais nada seu encontro consigo mesmo, oportunizado por Gaia.

As coisas recrudesceram no Brasil, um profundo retrocesso quanto à questão democrática e o avanço do fascismo. O povo brasileiro mostrara sua face mais preconceituosa, raivosa, excludente. O clima de medo, paúra, torpor e incerteza tomou conta do país. Nos bastidores, ele soubera das articulações para essa situação e, por mais que escrevesse artigos no seu jornal pouco crédito ganhava.

Foi então que seus antigos amigos da Constelação de Andrômeda entraram em contato com ele e com todos os milhares de reencarnados na Terra oriundos de outros planetas há 13.000 anos atrás avisando que o sinal da mudança dos ventos ocorreria exatamente quando as coisas mais retrocedessem.  Os noticiários do mundo inteiro davam conta de um mundo em caos, perdido, em que há esperança havia cedido lugar a descrença.  Esse era o alerta: os reptilianos, juntamente com os híbridos e a elite mundial, sabendo que seu período de dominação chegara ao fim, decidiram partir para o ataque definitivo controlando, manipulando as mídias, os judiciários, as políticas e, sobretudo, a economia global.


Que fazer, pensou Ashee-Tee-Ram? Exatamente aquilo para o qual reencarnou 83 vezes; viver, evoluir, informar, lutar e amar uma Terra, Gaia melhor, com uma diferença desta vez: sabendo enfim quem era, saberia o que fazer e confiar na vitória final, afinal, esse é o destino de todos os planetas, evoluir, assim como todo mundo, assim como ele.                            

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