E agora, José? A festa
acabou? Por hora sim.
Sempre me quedei perscrutando o que motivou Carlos Drummond a compor versos como os de José? Para onde José quereria ir quando tudo acabasse? Para Minas Gerais? Mas Minas não há mar, mas tem outras coisas.
Sempre me quedei perscrutando o que motivou Carlos Drummond a compor versos como os de José? Para onde José quereria ir quando tudo acabasse? Para Minas Gerais? Mas Minas não há mar, mas tem outras coisas.
A ausência de um mar
salgado pode explicar em parte o “jeito desconfiado dos mineiros”, supostamente
guarnecendo-se das invasões quais eram submetidos por não saberem quem se
escondia atrás das montanhas. Isso mesmo.... Sobretudo na época áurea da
mineração havia o medo constante das invasões em decorrência da riqueza que a
região produzia, portanto, o jeito desconfiado, um pensamento que não se
apresenta de pronto pode estar atrelado a este período. Mas isto é apenas mais
um estereótipo, aliás, como qualquer julgamento e tentativa de classificação e
definição das pessoas.
Outro estereótipo sobre
os mineiros foi vinculado por Otto Lara e reverberado pelo dramaturgo Nelson
Rodrigues, o de que “mineiro não é solidário nem no câncer”. Outro equívoco,
pessoas são pessoas, rótulos são rótulos.
Talvez o que demarque uma
certa resistência e desconfiança em relação aos mineiros deve-se ao fato de que
saíram de Minas Gerais, mais precisamente de Juiz de Fora - cidade onde moramos
até o dia de hoje, temos muito carinho e fomos muito felizes -, os tanques de
guerra, as tropas do exército que deram o golpe militar em 31 de março de 1964
no Rio de Janeiro. Acontece que o golpe foi tramado pela cúpula das Forças
Armadas, apoiado pelos E.U.A, pela família tradicional, pelo empresariado e
amplos setores burgueses, no que hoje é mais correto cognominar de golpe
civil-empresarial-militar, e não apenas Golpe Militar. Logo, Minas Gerais não é
responsável pelo golpe, a sociedade civil-militar-empresarial brasileira o é.
Para além dos
estereótipos, toda impressão é singular, digo, pessoal. Cada um capta o mundo
por suas lentes, filtra as informações e resignifica. Minas Gerais sempre povoou
meu imaginário.
A primeira imagem que
povoou o meu foi um LP de Milton Nascimento, de minha irmã Nelza, quando na
minha tenra infância me mostrou uma capa dourada com desenhos de montanhas e um
trem soltando fumaça feito pelo próprio Milton, era o disco “Geraes”. Sei de
cor todas as faixas.
Montanhas.... Essa é uma
imagem forte de Minas. E quando aqui chegamos foi de súbito o que nos chamou a
atenção. As grafofagias das montanhas, hoje desnudas pelo desmatamento e pela
terrível devastação da atividade mineradora, responsável por uma das maiores
tragédias ecológicas do planeta: o vazamento do tanque de resíduos minerais em
Mariana, logo a primeira capital do estado, onde tudo começou, já não são mais
as mesmas, dizem os mais velhos moradores. Tudo mudou.
Era possível ver ao longe
cruzando as sempre perigosas e sinuosas estradas, cachoeiras, uma relva
abundante, belas cidades e uma paisagem sem igual. Para nós que somos do
litoral, São Luís, cruzar esse estado, quase todo, cada viagem foi um convite a
desfrutar de uma paisagem, para nós, inusitada. Aí entendi porque o falar mineiro
é sempre mínimo, entrecortado de palavras curtas e imagens cheias de "trens": as
montanhas evitam o olhar dos horizontes, ao contrário dos litorâneos com suas
metáforas longas e sem fim... Mas isso também é mais um estereótipo.
Ainda assim foram atrás
dessas imagens que viemos buscar. Viemos em busca da gastronomia, para muitos a
melhor do Brasil, da cachaça que disputa o mesmo título, das cidades históricas
- essas sim sem equivalentes -, da musicalidade, dos queijos, doces, do
artesanato, das panelas de ferro, cobre, pedra, das cachoeiras, cervejas artesanais
e acabamos encontrando um povo fantástico, hospitaleiro, amigo e, contrariando tanto
Otto Lara quanto Nelson Rodrigues, solidário até a alma.
O que melhor se leva de
um lugar são as experiências com as pessoas. Nada em Minas Gerais teria nos
tocado tanto (paisagem, gastronomia, cidades históricas, natureza, cachaça,
musicalidade, etc) se o conotativo de tudo isso, as pessoas, não correspondesse
a tal singularidade.
É difícil deixar um lugar
com suas relações afetivas porque cada parte da gente fica no lugar como se
faltasse algo em nós. Acrescentam-se as vivências, deixa-se uma parte do que
somos.
Como é difícil pegar as
mesmas estradas que nos trouxeram se despedindo de tudo o que viemos buscar
olhando as montanhas que guardo na memória da infância de uma capa dourada, só
que agora vista pelo sol que se esconde atrás das montanhas ouvindo as músicas
dos LP’s “Minas”, “Geraes” e outras, num pen-drive carinhosamente dado por nosso
amigo André Monteiro, poeta. O brilho do sol visto pessoalmente é mais luminoso
do que o da capa, as montanhas são maiores e dá para sentir o cheiro desse
lugar qual o LP não conseguia transmitir na minha infância. Hoje o sei,
sabemos.
Sentiremos saudades até
mesmo das vezes engraçada, anedótica disputa entre cruzeirenses e atleticanos e
a tentativa de nossos amigos de nos fazer torcer por um dos dois times. Todas
as vezes que chegávamos na casa de um cruzeirense eu me assumia como
atleticano, na casa de um atleticano, como cruzeirense, quando não retrucava
gritando: carijoooooooó, sempre que um atleticano em altíssono bradava: galoooooooooooo!!!!! Risos... Galo carijó é o apelido do Tupi, time de Juiz
de Fora, ascenso para a segunda divisão do campeonato brasileiro.
Agradecemos muitíssimo a
Deus por tudo, pelo convívio familiar com Bete, Bira, Júnior, Dedeco e Leleca, aos amigos que deixaremos e levaremos conosco, pelos aprendizados, pelos sabores,
cheiros e gostos, pelo futebol aos sábados e os campeonatos pelo glorioso Futebol Clube Amigos do Botti, sempre ficando em
último lugar, pelos ensinamentos as nossas filhas na escola Equipe, pelo grupo
das poderosas, pelas caminhadas matinais no belíssimo bosque da Universidade Federal
de Juiz de Fora, pelas aulas de motociclismo (inclusive pela carteira - Auto Escola Rosana), e, não poderia deixar de mencionar e agradecer, a Pucheu, o Puxa e ao grupo de Estudos de Poesia Brasileira Contemporânea, da UFRJ, qual faço parte e proporcionou tal jornada, pela poesia, enfim, por tudo o que significou essa
experiência.
Todas
as canções eternamente,
são
viagens de ventania,
sede
de viver tudo,
Por
que sonhos não envelhecem,
coisas
dessa vida.
Eu
era criança,
e
na despedida,
tios
na varanda, jipe na estrada
E
o coração lá
mandaremos noticias do mundo de lá,
porque chegar e partir são os dois lados da minha viagem
a hora do encontro é também da despedida.
mandaremos noticias do mundo de lá,
porque chegar e partir são os dois lados da minha viagem
a hora do encontro é também da despedida.
Quando estava terminado
esta crônica, nosso amigo Marcionilio me trouxe de presente uma camisa oficial
do Cruzeiro....Agora sou mais cruzeiro que atleticano... risos...
Hoje as Minas Gerais ficam mais triste professor, devido a sua partida. Saiba que estaremos ansiosos pelo seu retorno meu nobre amigo.Um grande abraço
ResponderExcluirMeu querido. Tambem vou sentir muito sua falta.foram momentos mágicos, rimos muito juntos. Vou voltar ai com certeza.Voces estão para sempre no meu coracão
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