A relação homem-natureza nem sempre foi de estranhamento.
Houve época e em determinadas sociedades, como as africanas, as aborígenes, as
pré-colombianas, as indígenas brasileiras, por exemplo, que os sujeitos
pertencentes a tais conjunções sociais se sentiam extensões da natureza,
derivados dela, pertencentes, unos, integrados.
À medida que o avanço urbano, fruto da expansão do
deslocamento humano, das condições econômicas, das relações político-sociais,
seguiu seu curso de controle sobre a natureza, fomos incorporando hábitos e
motes de pensamento abastardando habitat natural e artificial, como se
o meio-ambiente servisse única e exclusivamente aos interesses da produção de
consumo humano, e não agente integrado do espaço.
A ruptura mais radical deu-se com o advento da modernidade
europeia. A concepção de ciência oriunda desse período priorizou uma razão
instrumental colocando a natureza como objeto de investigação científica, e a
reverberação econômica, extensão desse modelo de percepção e sensibilidade,
tomou-a como matéria-prima para o desenvolvimento da conturbada, atomística,
segregadora concepção de progresso. Estávamos inventando uma segunda natureza
humana.
As cidades se tornaram por excelência o espaço da reprodução
do capital em larga escala. O capital, ainda que fruto das relações sociais e
invenção humana, perverteu o sentido de
integração e interação homem-mulher-natureza. Aceleramos tudo: o tempo, os
sentimentos, a percepção sobre as sociabilidades. Os corpos foram afetados. Os
corpos, cada vez mais robustos e alterados, adaptaram-se à lógica da dinâmica
econômica, coadunada pelo frenesi da informação e da tecnologia.
O planeta adoeceu. Dantes, e é preciso deixar claro que
sempre houve exploração da natureza, a sobrevivência humana é fruto de tal
relação, a destruição dos recursos naturais era menor que sua capacidade de
recuperação. Neste aspecto podemos falar em “equilíbrio”. Agora não, a
capacidade de retirar e destruir o planeta atingiu patamares estratosféricos.
Homens e mulheres também adoeceram.
A destruição de Gaya (planeta) alterou sensivelmente a
condição humana. A alma humana adoeceu, vive imersa em ilusões e quimeras de
que a modificação, a substituição e o deslocamento do controle econômico
mundial de um país para outro, de uma região da terra para outra, levará à melhor qualidade de vida de
seus habitantes no plano global. Mera ilusão!!! O que tem que ser substituído é
a concepção predadora de exploração, de modelo econômico, da noção de acumulação.
Natureza e condição humana são elementos da mesma face, um depende do outro.
Quando ocorre este tipo de disfunção, todo o sistema de vida na terra entra em
perigo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário