Onde Clio e Calíope se fundem: a
metáfora da farinha d’água[1]
texto originalmente publicado em:
BORRALHO, José Henrique de Paula Borralho. Onde Clio e Caliope se fundem: A metáfora da farinha d'água. in: Alberto Pucheu, Flavia Trocoli, Sonia Branco. Teoria literária e suas fronteiras. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2014, 172 p. pp. 25-40.
texto originalmente publicado em:
BORRALHO, José Henrique de Paula Borralho. Onde Clio e Caliope se fundem: A metáfora da farinha d'água. in: Alberto Pucheu, Flavia Trocoli, Sonia Branco. Teoria literária e suas fronteiras. Rio de Janeiro: Azougue Editorial, 2014, 172 p. pp. 25-40.
José
Henrique de Paula Borralho [2]
A
literatura não nasce no vazio, mas no centro de um conjunto de discursos vivos,
compartilhando com eles numerosas características; não é por acaso que, ao longo
da história, suas fronteiras foram inconstantes. Senti-me atraído
por essas formas diversas de expressão, não em detrimento da literatura, mas ao
lado dela.
(Todorov,
Literatura em Perigo)
Quando
a apresentação do Professor Fábio Akcelrud Durão[3],
durante o VIII Simpósio de Pós-Graduação em Ciência da Literatura, acerca do
axioma da teoria literária enquanto multiplicidade de significados e das
possibilidades interpretativas da literatura colocou a teoria literária em
risco, um pouco no sentido proposto por Todorov (Literatura em Perigo, 2010),
eu me senti contemplado, compartilhado acerca do que penso sobre os rumos de
uma epistemologia rica em possibilidades de significações, interpretações, e
quanto à proposição da crise da cultura, das teorias, metanarrativas e
paradigmas referenciais do pensamento.
Fábio
Durão, brilhantemente, a partir das questões da teoria e da crítica literária
estadunidense mostrou como no país da América do Norte os manuais sobre teoria
já não trazem mais o predicativo “literário”, posto que os condicionantes de
uma crítica necessariamente já não dizem respeito às questões perpassadas pelo
âmbito da teoria literária, mas de outras áreas próximas e afins. Também evidenciou
o quanto a ideia de multiplicidade interpretativa sobre o significado da
literatura já se tornou um jogo de auto-referenciação do pensamento, uma espécie
de metalinguagem, preocupada na tergiversação do sentido ampliado, não
necessariamente com o objeto em questão, e sim, com a própria referenciação da
multiplicidade, cada vez mais distanciada de qualquer possiblidade de dizer
qualquer coisa sobre qualquer objeto, transformando, portanto, o pensamento
numa lógica de automação de sua existência pautada na reprodutibilidade dos
múltiplos sentidos interpretativos.
A
necessidade de dizer algo novo sobre o que poderia ser “literário” deita raiz numa
operação mercadológica, numa lógica em que a espera de supostos neologismos teoréticos
pouco ou quase nada ampliam sobre o fenômeno da literatura em si, como se de
fato cada vez mais a literatura não expressasse ou dissesse nada sobre qualquer
coisa, ainda que existam microfísicas plurissignificativas no campo da teoria
literária e da crítica literária.
Qual
é o lugar da literatura no mundo? O problema está na ideia de multiplicidade
dos sentidos interpretativos da teoria e da crítica que cada vez mais pode ser
tomados por axiomas filosóficos, problemáticas históricas, antropológicas,
sociológicas, psicanalíticas? Não, a teoria literária cada vez mais se nutre
disso e retira daí sua força estioladora de interpretação da linguagem,
aumentando sua pletora condição de dizer algo sobre a condição humana. A
questão referencial é em que medida a multiplicidade interpretativa da
linguagem ao aumentar sua lente e possibilidade de dizer algo sobre a condição
humana é ao mesmo tempo decorrência da mudança ontológica do que é humano, ou
seja, à medida que pensamos sobre o que é humano muda, mudam também as possibilidades
comutativas sobre ele, como também, é o afastamento do que é humano, como se a
linguagem criasse um sentido auto-referenciado em que o jogo semiológico
passasse a ser mais importante do que aquilo que a linguagem desenvolveu, qual
seja, a dizibilidade sobre a existência. Nestes termos a teoria literária é uma
possibilidade interpretativa sobre a existência humana e ao mesmo afastamento
dela, ainda que a existência seja expressa também em forma de linguagem.
A
questão também colocada por Fábio Durão é que esse tipo de lógica cultural
desconstrucionista, fragmentada e fragmentária não exime a responsabilidade
pela ausência de posturas políticas no campo cultural, afinal, se nada pode ser
definido em si, coloca-se em suspeição a validade de uma definição teórica
sobre qualquer coisa, em última instância, a impossibilidade conceitual sobre
qualquer objeto, a não ser sua própria desconstrução e aliteração reverberada ad náusea.
Este
capitulo não é uma redução das possibilidades significativas da teoria
literária num esforço de tentar forçá-la ao seu ímpeto inicial, quiçá, de volta
a Platão ou mesmo os românticos do século XIX e suas configurações sobre o que
era belo, um conceito de literatura ligado à beleza e um instrumento
sub-reptício, subjacente, enquanto afirmação da civilidade, de uma noção de
cultura no sentido francês do século XVIII, afastando-se da noção germânica no
mesmo período. O intuito é mostrar, ao contrário, que a ampliação da
multiplicidade interpretativa da teoria literária é em si mesmo um atenuante da
crise humanística, dos paradigmas referencias da arte e da literatura, de
qualquer possibilidade de definição do que vem a ser o ente, de uma perspectiva
contemporânea que não consegue enxergar para onde caminha, posto que a própria
noção de humanismo já não deslinda qualquer referente sobre o que somos ou
possamos vir a ser.
Neste
sentido o contemporâneo é ambíguo, pois se trata de uma câmara escura porque não
se sabe situar, no sentido agambeano do termo, ao mesmo tempo em que aposta em
si mesmo como não possibilidade de saber o que enxergar.
Pode dizer-se contemporâneo
apenas quem não se deixa cegar pelas luzes do século e consegue entrever nessas
a parte da sombra, a sua íntima obscuridade. Com isso, todavia, ainda não
responderemos a nossa pergunta. Por que conseguir perceber as trevas que provêm
da época deveria nos interessar? Não é talvez o escuro uma experiência anônima
e, por definição, impenetrável, algo que não está direcionado para nós e não
pode, por isso, nos dizer respeito? Ao contrário, o contemporâneo é aquele que
percebe o escuro do seu tempo como algo que lhe concerne e não cessa de
interpretá-lo, algo que, mais do que toda luz, dirige-se direta e singularmente
a ele. Contemporâneo é aquele que recebe em pleno rosto o facho de trevas que
provém do seu tempo (AGAMBEN, 2010, p. 64).
Assim,
a teoria literária como outros campos, traz consigo uma duplicidade potencial,
é viva, alarga as possibilidades significativas de compreensão sobre o vivido e
o cognitivo, ao mesmo tempo em que aposta numa falta de definição sobre o que
seja sua função como possibilidade de descrição sobre a existência ou as
angústias derivadas dela.
A
proposta é mostrar que a crise não é apenas da teoria literária, como também das
metanarrativas ante a multiplicidade das problemáticas sociais, e do próprio
pensamento que se alimenta da crise para legitimar sua referenciação autorreguladora
e sustentada, ou seja, numa perspectiva academicista, numa universidade que não
é, no dizer de Fábio Durão, nem da cultura, nem da razão, mas sim da excelência
produtivista. Como a Universidade não sabe o que dizer da cultura, do Estado,
do social, da estética, não lhe resta outra saída a não ser tergiversar sobre a
condição micrológica dos múltiplos sentidos indeterminados das multiplicidades.
A indeterminação à medida que amplia a possibilidade interpretativa e reflexiva
do pensamento se enreda no jogo perigoso de falar de uma cultura ausente, de falar
do nada, ainda que o nada não exista, pois à medida que é narrado, passa a
existir.
Qual
é então o lugar da literatura? Qual é o lugar da cultura? Não proponho de forma
ingênua um retorno às origens, tampouco uma definição clássica de literatura
aos moldes do século XVIII, mas a questão é se a fragmentação do ser, a sua
total desfiguração não coloca a priore
um limite sobre qualquer possiblidade de definição e conceituação sobre o que é
literatura e seu papel no mundo, a não ser a da própria auto-desreferenciação. Qual
a diferença entre isto e a proposta cética e niilista dos pós-modernos ausentes[4]? À
medida que os pós-modernos criticavam o iluminismo, o cientificismo do século
XVIII e XIX e prefiguravam a indeterminação do sujeito ou de qualquer coisa,
colocavam de fundo o problema também semiológico de qualquer referente em que efetivamente
a conjunção entre o significante e o significado mais do que nunca perdia o
sentido.
Esta
crise epistemológica no campo da teoria e crítica literária há algum tempo se
arrasta na história enquanto ciência. Desde a crítica ao romantismo alemão em
suas várias vertentes (filosofia, história, literatura) e sua máxima vertente
no campo da significação cultural por parte de historiadores como Humboldt e
Ranke, passando pela apropriação do método histórico do positivismo a partir do
historismo é que muitas possibilidades de síntese em história, definição e conceituação
têm sido largamente criticadas.
Há
uma comutação das crises das teorias da história e das teorias literárias,
posto que ambas se lançam sobre o fundo comum da condição humana; a história
enquanto discurso do realizado, da experiência do vivido; a literatura enquanto
a fala daquilo que ainda quer viver, e já viveu. A metáfora da farinha d’água é
a expressão dessas duas áreas que de formas distintas dizem coisas diferentes
sobre a existência porque suas perguntas nascem de formas igualmente distintas
sobre aquilo que é comum: necessidade de explicação sobre o que é o ser e suas
tergiversações. A história é a farinha ensacada, a literatura é a farinha
esparramada.
Neste
capitulo não será possível delinear os contornos de toda a problemática teórica
do campo epistemológico da história desde o final do século XIX até o início
desse milênio, passando pela tumultuada relação entre história e literatura. No
entanto, a possibilidade de encaminhamento de proposições para a significação
de uma epistemologia propositiva e não apenas desconstrucionista é o que me
move no terreno da história e da literatura. A rigor, o que persigo é a poética
da farinha d’água que abordarei à frente, o fim da divisão entre história e
literatura e vontade de uma ciência holística, integrada, unificada.
A
fragmentação na história criou vários problemas tanto quanto ampliou a
capacidade de observação do objeto sociológico. Se por um lado lançou questões
como novos objetos, novas abordagens, novos problemas, por outro, revelou suas
bases frágeis, dando margens a uma crítica mordaz que passou a chamar a
história de “modismo”.
Quando
os primórdios de escola da cultura na Escócia no século XVIII lançou o olhar
sobre a matéria, esboçava-se uma profícua possibilidade de interpretação hermenêutica
das sociedades, ampliadas depois pela conjunção filosofia e história a partir
de pensadores como Kant, Hegel, Schelling, Fichte, e historiadores como Fustel
de Coulanges, Humboldt, Ranke, Michelet, Buckhardt, dentre outros. Com o
advento da ciência histórica e apropriação do método de investigação do
historismo pela escola metódica francesa, a separação da história da filosofia
e da história da literatura trouxe o equívoco conceitual sobre o que seja um
problema histórico, muito tempo depois corrigido por Michel de Certeau (“toda
operação histórica é em última estância uma questão filosófica”), (CERTEAU,
1982), pelas críticas da epistemologia histórica operada por Foucault (1998,
1999, 2000-a, 2000-b) e pelo bombardeio sobre a possibilidade da história
enquanto ciência do tatear os sentidos da existência feita por Roland Barthes (1963),
afora os argumentos lítero-históricos de Walter Benjamim (1931).
A
ciência histórica se separara dos seus dois grandes arcabouços interpretativos
no fim do século para já no início do XX corrigir essa distorção pelo movimento
cognominado de Escola dos Annales (1929-1945), liderada por Lucien Febvre e
Marc Bloch. A única saída para ultrapassar a pobreza conceitual da história era
exatamente romper os paradigmas referencias dessa ciência e se apropriar de
problemáticas, temas, conceitos e métodos das outras áreas afins.
Somente
a partir da década de 60 do século XX, já iniciada a escalada vertiginosa da crise
das ciências humanas e notadamente da história é que a relação história e
literatura tomou novo ímpeto, agora, confluenciada pelos trabalhos da
semiologia, semiótica, por um solfejo de aproximação com o formalismo russo,
pelas contribuições do cinema, da antropologia e pela escalada crescente da
malfada conceituação de pós-modernidade. A crise paradigmática abriu grande
precedente para a ampliação dos objetos, temáticas, problemas com a ampliação
do seu campo, do deslocamento do sujeito, da crise do Estado e da política, da
desconfiança da ciência iluminista que se dirigia para mares dantes nunca
navegados: micro-história, history of
law, história oral, semiótica, ao
mesmo tempo que recebia duras críticas pela falta de definição operativa do
novos objetos e metodologias, afora as advindas do marxismo vulgar acusando-a
de apolítica, panegírica, supérflua, conservadora, vez que se furtava de sua
condição ideológica.
Os
trabalhos então surgidos dessa relação quase sempre se deslindavam pela
história social da literatura. Literatura como fonte histórica. Literatura
então pensada como mais um campo documental de possibilidade, fonte, ainda que
esse termo traga tantos inconvenientes ao campo histórico, afinal, nascera no
século XIX oriundo da mecânica hidráulica, referente fonte igual a lugar de
onde brota a nascente, a água, a verdade. Com o perdão da incongruência
conceitual, era uma espécie de licença poética dos historiadores pedindo
permissão aos “historiadores de verdade” por trabalharem com uma ferramenta –
literatura – sem necessariamente abandonar a história enquanto ciência.
Não
que não tenham surgidos trabalhos profícuos dentro da história social da
literatura, e, aliás, não cessam de crescer e gerar bons e grandes frutos, mas
ainda são tímidas as incursões quanto à investigação da verossimilhança, da
poética, do ato criador de um texto, e soçobram análises sobre o sistema literário,
autor, obra, público e remissão. A perspectiva do narratário, do texto como
sentido em si mesmo ainda geram polêmicas.
Esta
abundância de trabalhos relacionando história e literatura faz parte da
indústria historiográfica global e de suas linhas de produção. Como a história
virou uma grande vitrine, virou fast food[5],
em que se serve de temáticas e problemas como se consome comida, roupa, lazer,
trabalhar como temas tradicionalmente ligados à literatura atende aos interesses
de uma historiografia que não pode parar, pois imersa numa lógica industrial de
produção, necessita apresentar novos modelos, novos detalhes, novas nuances,
novas roupagens, ainda que seu conteúdo intrínseco pouco ou quase nada de novo
contenha.
Existe
uma exploração desmedida das fontes, nem tanto porque apresentam incongruências
teórico-metodológicas, e sim, porque dissecado o corpo, não se sente o cheiro
de carne, de vida, de gente. É como se a perfumaria, a maquilagem usada para
embelezar o cadáver, a sociedade, fosse mais importante do que o sentimento de
perda do ente querido, a cultura, a dor, a saudade de um tempo, espaço, de uma
experiência vivida.
Existe
um efeito dessa historiografia não propositiva que se preocupa muito mais com a
perfumaria do que com o sentimento? Sim, nem tanto pela variedade de temas, como
já afirmei. Seria inelutável frear qualquer projeto de pesquisa, barrar ou
impedir qualquer pesquisador motivado a perscrutar qualquer temática social
sobre qualquer ângulo. Não se barra o pensamento. No entanto, o que questiono
não é a validade das pesquisas, mas sim se o pesquisador efetivamente
compreende o sentido de sua pesquisa e se ele não está apenas preocupado em
atender as demandas de uma produção historiográfica crescente em números e não
em proposição de sentidos. Portanto, os efeitos dessa historiografia não se
referem à variedade de temas, mas ausência de identidade, de relação efetiva
entre o pesquisador e seu objeto, como se efetivamente aquilo que estuda não
estabelecesse vínculos com ele ou sequer fosse fruto do seu desejo.
A
linha “história e literatura” segue o mesmo caminho? Sim e não. Sim, à medida
que a ligação “e” em história serve para tudo; para a ligação com a antropologia;
com a sociologia; com o cinema; com a filosofia, não preocupada na eliminação
dos campos conceituais no sentido proposto por Bourdieu (1989), enquanto
afirmação dos agentes pautados na relação de força da ciência enquanto espaço
de poder e legitimação.
Esta
relação implica em dizer que a aproximação da história com outros ramos do
conhecimento quando é feita supostamente denotando sua capacidade de “dialogar”
com tais áreas, mas sem querer repensar de fato sua epistemologia, sobretudo
com a literatura, desdobra-se em dois vórtices; um interno, outro externo. O
interno diz respeito às disputas entre as correntes históricas nos espaços de
legitimação da ciência, institutos, universidades, conselhos de pesquisas,
instituições de fomentos, que observados de um ângulo de um Congresso Nacional
da área mais parece um grande supermercado onde pesquisadores colocam num
carrinho, compram efetivamente, sem se preocuparem o que se passa na gôndola ao
lado, como se de fato não houvesse nenhum vínculo entre eles, como se o
supermercado não expusesse o mesmo produto: história.
Quando
a relação história e literatura segue essa lógica não acrescenta muita coisa. É
fruto de uma história fast food em
que a literatura é produto de alto consumo, de luxo que serve muito mais para a
inflamação dos egos, de uma disputa para saber quem apresenta novidades do
campo da crítica e teoria literária, mesmo que não se mergulhe nos sentidos
propositivos de uma crítica ou teoria.
O
sentido externo serve para a relação de disputa entre campos, para legitimar
perante as outras áreas que a história é capaz de se renovar, pois não usa mais
a tática Fabiana[6].
De fato a história se renova, se amplia, mas por que não consegue dizer algo
novo sobre a condição humana? Detecta o nascedouro da crise humanística, suas consequências,
características, sem necessariamente apontar novos caminhos? Então o que está
em xeque e no limiar são os modelos referencias de convivência, percepção, de
sensibilidade e sociabilidades humanas? É por essa razão então que a teoria
literária cada vez deita suas análises sobre as multiplicidades interpretativas
da linguagem fugindo da definição do que é humanidade?
Quando
a relação entre história e literatura não segue o mesmo caminho dos efeitos de
uma historiografia não propositiva? Existe uma variegada e vasta produção na
história entrelaçada com a literatura ampliando por demais esses dois campos do
saber. Quando ambas entendem que a história é a farinha ensacada porque
sua estrutura não comporta um processo tão subjetivo, a história é a
preceituação do vivido em sentido da passeidade, do real vivido. Então cabe à
literatura, dentre outros discursos “provocá-la”, posto que a vida não é
unidimensional, ao mesmo tempo que a história evidencia para a literatura que a
concretude da existência por vezes é o resultado do processo subjetivo, já
encapsulado nas relações sociais, quer dizer, o somatório das múltiplas subjetividades.
“Os
historiadores que repensam as categorias da compreensão histórica têm, de fato,
maiores probabilidades de encontrar um grande número de vozes submersas que
contestam seu desejo histórico (e metafísico) de um significado unificado e sem
ambiguidades” (KRAMER, (2001, p. 139). Ainda assim, as
imbricações entre essas duas áreas fogem às determinações da mera vontade de
composição, pois na asserção de LaCapra
a história nunca pode ser inteiramente separada da literatura ou da filosofia,
ou de outras linguagens, ainda que nunca seja idêntica a esses outros
discursos.
A
relação entre a História e a Literatura não é idêntica porque a pergunta feita
por essas duas outras áreas partem de premissas diferentes, mas o resultado de
qualquer uma delas recai sobre a condição humana, portanto, as respostas
diferentes sobre o que seja humano não deveriam constituir-se como elementos de
disputa para saber quem pode ou sabe mais sobre qualquer coisa, e sim, enquanto
um quadro compósito de uma sinfonia tocada por instrumentos distintos. Cada
pergunta, cada axioma, teoria, conjuga-se numa grande partitura.
O
desafio da história é libertar-se dos esquemas reducionistas de interpretação
da vida, tal como fazem a literatura e a teoria literária. O desafio da teoria
literária é aproximar-se da história percebendo como a complexidade da vida é
esquematicamente representada no discurso histórico, da noção de realidade
social.
A
descrição dos fatos a partir de vestígios do passado presentes em documentos
não dão conta nem mesmo da complexidade do próprio fato, quiçá, da sua total
complexidade, afinal, como afirmou Dominick LaCapra: “O passado tem suas
próprias vozes e estas precisam ser respeitadas” (LaCAPRA, 1983p. 64). A vida
constitui-se num mosaico não agrupado. As diferentes teorias em qualquer área têm
se constituído num exercício da linguagem, do pensamento em busca de sentidos,
de respostas que aplaquem a dúvida sobre a existência.
Nestes
últimos tempos, com o processo acelerado de mudança sobre a percepção e a
condição humana, com a crise das metanarrativas, com os grandes paradigmas do
pensamento, com a fragmentação do social, da política, do tecido social, da perspectiva
de abandono de qualquer definição sobre o que seria o melhor projeto de
sociedade, o horizonte de indefinição se apresenta como a única alternativa
possível para o pensamento.
A literatura com sua capacidade
indefectível de ser anteparo e ao mesmo tempo ressonância das crises
humanísticas, possivelmente uma de suas melhores traduções, não deveria ser repositório
de uma concepção advogada do niilismo e do solipsismo, separando radicalmente o
eu e o mundo: “isto é, de que não existe mundo comum” (Todorov, 2010, p. 44). Se
assim o for, a literatura passa a ser a representação da negação, de uma ideia
segundo a qual “os homens são tolos e perversos, as destruições e as formas de
violência dizem a verdade da condição humana, e a vida é o advento de um
desastre” (Todorov, 2010, p. 42). Ainda que utopia, a literatura deveria
postular a poeticidade da existência. Ainda que construção discursiva, o belo é
melhor que o “não-belo”, o amor do que ódio, a paz melhor que a guerra, a
amizade é melhor que a inimizade, um campo verdejante e florido mais belo que uma
chaminé de uma fábrica, a esperança melhor que o desespero, a felicidade melhor
que a não vida.
“A
literatura muda porque a história muda em torno dela”, segundo Compagnon
(COMPAGNON, 2006, p. 196). As mudanças decorrentes na história das sociedades
humanas conspurcaram uma noção de sociedade fragmentada, do abastardamento
entre homem-mulher-natureza, da asserção equivocada de que o homem como ser
referente poderia colocar a natureza em um microscópio, estudá-la e dissecar
seus enigmas, compreender seus mistérios, desvendar o cosmos.
Então, porque em parte a teoria literária que
criticava a história por conceber o mundo a partir de estruturas muito bem
definidas tem se deixado arrastar por uma visão de mundo com sua ferocidade e
condições sociais cada vez mais céticas, por vezes assumindo um discurso
prefigurado de negação, acompanhando tão somente o que os discursos
científicos, dentre eles o histórico, postulados desde meados do século XX? Não
adianta apenas a teoria literária alçar novos voos e fazer novas descobertas, é
preciso entender como a compreensão da vida está representada em textos
científicos, “e a crítica literária mostrou que a narrativa histórica só pode
ser prefigurada num número restrito de estruturas”, (KRAMER, 2001, p. 147). A
literatura sempre foi mais livre que qualquer discurso científico.
Uma
das saídas da história, além de reverberar o que aconteceu, é começar a apostar
no que poderia ter acontecido, no “se”, nos desejos pungentes e latentes do
desejo de vida para além do que objetivamente se concretizou. Se cada vez que
se “retira um livro da estante para ler, outro livro, desse mesmo livro,
permanece lá, para sempre invisível, para sempre ilegível, na asserção do
escritor egípcio Edmond Jabés, segundo Pucheu (2010, p. 56); afinal, toda obra
escrita é apenas um prelúdio de uma obra ausente”, para cada ação histórica
efetivada, outras tantas existiam potencialmente e queriam ser percebidas e
sentidas.
Para
Roland Barthes: “A história literária só é possível se ela se faz sociológica,
se se interessa pelas atividades e pelas instituições, não pelos indivíduos”
(BARTHES, 1963, p. 156). “Do outro lado, em oposição à instituição literária,
há, no entanto, a criação literária, mas esta não pode ser objeto de nenhuma
história”, segundo Compagnon (COMPAGNON, 2006, p. 219). Por que a criação não
pode ser objeto de nenhuma história? Porque as estruturas narrativas do
discurso científico estão muito bem prefiguradas? É preciso repensar este
modelo, e nisto a teoria literária deveria invadir as teorias da história,
tomá-las de assalto e evidenciar que a ciência só consegue vasculhar o
efetivado, aquilo que pode provar, experienciar e quantificar. A existência
está para além disso. A vida é mais. Ela inclusive se
insurge a cada dia no desejo contido, numa poesia, numa canção de esperança,
nos gritos de insubordinação social, numa revolução, nas ruas, nos campos, em
qualquer lugar.
As
sociedades humanas optaram pelo processo de dominação física e simbólica, pela
segregação, pela marcha do consumo como paradigma de sociabilidade, pelo
capitalismo, pela poluição, por uma ciência que não pulsa a vida, não alia e
nem repensa seus paradigmas, não abandona seus postulados, disputa relações de
poder.
No
entanto, algumas experiências no campo da física e mecânica quântica apontam
para um repensar da ciência moderna e dão sinais de força e renovação na
epistemologia e no pensamento ocidental. Em artigo publicado no meu blog
VERSURA (http://www.versura.blogspot.com),
escrevi sobre a relação entre física quântica e o desvelamento de novos mundos,
cujo trecho transcrevo abaixo:
O que a Física Quântica pode oferecer
de novo? Que fique claro que existe uma parte da Física Quântica que
é física pura, ou seja, detém-se sobre os quantos de energia,
portanto, não se apresenta como nenhuma novidade no plano do pensamento, nem é
sua pretensão. No entanto, de uma forma nada científica, as teorias de Heisenberg,
Max Planck, Einstein e outros foram apropriadas por vários ramos do pensamento
correlacionando à ideia, baseada na pergunta sobre para onde teriam ido os
elétrons ou porque eles dão saltos, de que teriam ido para o mundo paralelo, ou
seja, iniciava-se uma série de especulações acerca da existência de
outras formas de energia para além do núcleo do átomo. Foi a porta de entrada
para o surgimento de uma nova neuropsicologia, afinal, o pensamento é
feito de pulsões elétricas, para o surgimento da física do impossível,
para a revisão da história do pensamento ocidental,
para insurgência de autores como Fritjof Capra e sua nova compreensão científica
dos sistemas vivos. Em suma, parte de teorias como as de Fritjof Capra
sustentam que o grande problema se concentra na forma como concebemos a vida, o
pensamento, as relações sociais, dicotomizando homem-natureza, desprezando a
intuição, a sensibilidade, a espiritualidade, limitando a possibilidade de
mudança da realidade a partir da força da evocação de energias boas e
transformadoras. Em livros como Ponto
de Mutação (1982), Capra afirma que a história da humanidade poderia e pode
ser outra se concebermos o real a partir de vários ângulos e
perspectivas existenciais e que o sistema cartesiano não poderia ser a matriz e
a base de nossa forma de concebermos o mundo. No fundo, o paradigma ocidental
tolheu a capacidade ocular de enxergamos outros mundos pela força da cultura.
Quem vê é o olho ou a cultura? A cultura baseada em uma matriz meramente
materialista minimizou a própria matéria e sua zona de intercessão com os
mundos paralelos (BORRALHO, 2011-b).
O
que a ciência tem feito até agora é mostrar como a entropia, teoria
desenvolvido por Ludwig Boltzmann
(1844-1906), desencadeia a ação do tempo, liga o relógio do cosmos, mostrando
que o tempo não para. A entropia evidencia a desordem. Entropia é desordem; tudo
esmorece, tudo morre, tudo perece, posto que não se possa parar a máquina do
tempo. Por isso não existe a máquina perfeita, a geladeira perfeita: é a
chamada segunda lei da termodinâmica. Um jogo de quebra-cabeça depois de
bagunçado, sacudido em sua caixa como estava organizado inicialmente jamais
voltará à sua condição inicial. Por isso a angústia de historiadores e
literatos: a existência. Ambas sempre lutaram contra a morte, o
desaparecimento, contra a desmemoria, o fim, a finitude. A vida é mais!
O
que Boltzmann evidenciou foi tão somente como a ação do tempo é irreversível,
presa a uma dinâmica da física newtoniana, aos corpos materiais, a relação
tempo-espaço. A teoria da história quando evoca sua capacidade sensível de
perceber outros tempos, outros espaços, para além da segunda lei da
termodinâmica, aproxima-se da literatura enquanto discurso sensitivo, olhar
arguto sobre as formas como homens e mulheres se relacionam com os espaços e
reelaboram a concepção de tempo. Não há tempo, há tempos; o tempo do amor não é
igual ao do labor; da saudade igual ao calendário gregoriano; o da memória
igual ao da história enquanto discurso; da imaginação igual ao da realização do
imaginado; da lembrança igual ao ato efetivado; da criação ao da escrita; do
poema igual ao da poesia. Literatura e história podem, inclusive, equacionar a
segunda lei da termodinâmica sinalizando como o sentimento contém elementos de
dentro e de fora da entropia ao mesmo tempo, constituindo uma ordem dos
sentidos e uma desordem do espaço-tempo.
Clio
e Caliope que nasceram como musas andaram juntas por longos períodos até se
separarem no século XIX quando a história optou pelo caminho do cientificismo,
de uma ciência que prometia desvelar tudo, descobrir tudo, dizer tudo. Prometeu
o progresso, a paz, a felicidade. Não cumpriu a promessa, daí o discurso de
negação do século XX, da desconstrução, da desrazão, do ceticismo, do solipsismo.
História,
literatura ou qualquer ramo do conhecimento não precisa ser ensacado ou
esparramado como se o que está esparramado antes não estivesse ensacado e o que
está ensacado não pudesse a qualquer momento derramar-se. O “fictício”, os insights em literatura são mais que
reais. A noção de representância: vontade de atingir o passado, conceito
atribuído por Paul Ricoeur (1983/1985) revela o exato momento em que Clio e
Caliope se fundem: história e memória nascidas do mesmo desejo, farinhas do
mesmo saco.
O
poeta Ferreira Gullar certa vez bradou: “a vida é uma invenção, se a gente
inventa para o bem, ele é boa, se se inventa para o mal, ela é ruim”...!!!
BIBLIOGRAFIA
AGAMBEN,
Giorgio. O que contemporâneo? E outros
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[1]
Farinha
feita a partir da mandioca, prática indígena e que hoje compõe a cesta básica
de comunidades do Norte e Nordeste do Brasil, exemplos, Pará e Maranhão. Compõe
o regime alimentar dos maranhenses, sobretudo quando misturada à juçara, também
conhecida como açaí. Farinha de cor amarelada, granulada.
[2] Professor
do Departamento de História e Geografia da Universidade Estadual do Maranhão,
Coordenador Operacional do Dinter em Ciências da Literatura entre a UFRJ e a
UEMA. E-mail: jh_depaula@yahoo.com.br.
[3] Fábio Akcelrud
Durão, Professor do Departamento de Teoria Literária da Unicamp. Ministrou a
conferência: Por uma crítica da multiplicidade
nos estudos literários, no dia 20 de outubro de 2011, durante o VIII Simpósio
de Pós-graduação em Ciência da Literatura, na UFRJ.
[4]
Sobre essa questão ver Marshall Berman. Tudo
o que é sólido desmancha no ar: aventura da modernidade, 1986. Para ele a
pós-modernidade ausente ou negativa é aquela em que não apenas critica o
formalismo da ideia de sociedade e ciência do século XVIII e XIX, mas nega
qualquer possibilidade de construção de utopias ou ideais, posto que a vida não
tenha sentido em si mesma.
[5]
Termo utilizado por Antonio Celso Ferreira (1995, p. 34), significando
acontecimento de digestão imediata.
[6]
A tática Fabiana consiste na estratégia utilizada pelos historiadores de se
esquivarem das cobranças oriundas de cientistas e literatos quanto ao método e
a conceituação de literatura supostamente utilizada por aqueles. Quando os
cientistas perguntam aos historiadores qual o método cientifico utilizado por
eles, respondem: nós não somos cientistas, somos uma espécie de literatura.
Quando os literatos perguntam sobre os postulados de uma teoria literária estes
respondem: fazemos uma espécie de ciência singular, segundo Paul Veyne (1988).
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