Estamos assistindo no Brasil a um fenômeno que não é novo, mas com matizes novas
em decorrência do momento histórico: o fundamentalismo religioso, carregado de
preconceito, moralismo rasteiro, irracionalidade, disputa ideológica com
pinceladas de intolerância, inclusive racial.
O Brasil ainda é um país católico,
mas o protestantismo já soma 35.000.000 de fiéis divididos em vários segmentos:
histórico, tradicional, pentecostal, neopentecostal. A convivência com outras
religiões sempre foi travada de conflitos, mas o direito à liberdade de
expressão religiosa está assegurado pela Constituição de
1988.
O crescimento dos evangélicos fez
surgir um elemento sociológico novo: o proselitismo midiático,
eletrônico, com a compra e concessão de redes de televisão para igrejas
evangélicas. Foi o início da guerra religiosa, midiática. Novelas, seriados,
documentários de canais pró e antievangélicos estavam e ainda estão carregados
de mensagens diretas e subliminares contra emissoras de outras matizes
religiosas.
Enquanto a guerra se travava no
plano midiático,
as contradições sociais e culturais não se acirraram tanto quando atingiu o
papel do estado. Quando essa instância passou a legislar sobre
polêmicas como o casamento e/ou união civil de pessoas do mesmo
sexo, aborto, educação e estado laico, as contradições afloraram, os conflitos,
inclusive de raça, tomaram matizes como dantes nunca vistos.
Por um lado, isso é muito bom,
afinal, no Brasil sempre se optou pelo silenciamento, pelo não conflito, pela
não luta e disputa de ideias e classes. Assim sendo, estamos assistindo a uma
verdadeira luta ideológica gerida a partir da religião, cujos tentáculos se espraiam para vários ramos.
Por outro lado, é péssimo pela
pobreza do debate, pela natureza do que determinados religiosos defendem: um
conceito congelado de família, como se desde a década de 70 mais da metade
das famílias brasileiras não fossem comandadas por mulheres solteiras
e independentes financeiramente; uma discussão eivada de preconceito sobre a
sexualidade, equívocos e distorções; um
debate ridículo quanto à questão racial acusando os negros de
serem amaldiçoados por Deus.
É claro que o percentual de
evangélicos que defendem essas posturas é muito pouco, mas macula a imagem de
todo o resto. Tomaram uma condição subjetiva como a fé num debate sobre
intervenção estatal e jurídica, e nisso as coisas se agudizaram.
Quando surgiu recentemente a
proposta colocada por setores evangélicos sobre o fim da laicização do estado,
o sinal amarelo acendeu. A laicização do estado é uma conquista
histórica, necessária, exatamente para impedir que concepções subjetivas possam
dirigir e decidir sobre milhares de pessoas, inclusive as que não possuem
religião.
Já assistimos aos
horrores da Santa Inquisição, da Noite de São Bartolomeu, da perseguição e
guerra a Canudos, interior do Brasil, do Domingo Sangrento, Sundae Bloody Sundae, e estamos
possivelmente na iminência de uma nova guerra religiosa, agora no Brasil, caso
os ânimos continuem aflorados com esse nível de debate
sobre interferência e limites do estado.
É claro que o estado não pode
legislar sobre a liberdade de expressão e opinião do que se divulga e manifesta
no seio de uma igreja, assim como os religiosos não podem exigir que o estado
laico estabeleça as bases da lei a partir de suas convicções religiosas.
Era de se expressar que no século
XXI a liberdade de opinião e expressão estivessem asseguradas, mas há limites.
Quando manifestações e declarações como as do Pastor Marco Feliciano ofendem a
historicidade, a identidade de gays, lésbicas, simpatizantes, transformistas,
negros, chamando-os de “amaldiçoados”, o que aparece no horizonte é o risco da
imposição pela condição de lei – um deputado federal, ex-presidente da Comissão
dos Direitos Humanos –, ser impetrado por séquitos que defendem os
mesmos princípios. É o jogo democrático? Sim, porém, há limites,
sobretudo quando o direito das minorias for atropelado e vilipendiado por uma
maioria religiosa, esse é o perigo desse protestantismo fanático,
fundamentalista, preconceituoso e racista crescente.
É claro que isso é apenas um
segmento pequeno dentro dos evangélicos; a grande maioria sequer se identifica com isso; a questão é que os
deputados da bancada evangélica, a pior bancada do congresso, os mais faltosos
e que respondem por processos judiciais, são sectários deste tipo de concepção,
afinal, foi dessa base que surgiu a proposta do fim da laicização do estado.
O que está em xeque são práticas
culturais seculares como as das religiões
afrodescendentes, tradições culturais brasileiras,
o convívio entre diferentes grupos e etnias, o respeito à diferença,
o desequilíbrio do jogo democrático, como se tudo valesse à pena
apenas pela força e imposição de uma minoria crescente e agressiva.
Os ataques
e declarações de evangélicos fanáticos no facebook são
estarrecedores. Um rito de ignorância e estupidez sobre diversos assuntos sem o
menor decoro, sem a menor acuidade, investigação, razoabilidade, tudo em nome
de um “Deus” vingativo, parcial e rancoroso.
Já assistimos a isso ao longo da
história e estamos vendo isso de novo.
Parece de que fato a história não
ensina nada.
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ResponderExcluirse esse for o deus que eles pregam, como será satanás? deus é amor, paciente, um deus de justiça, que só a esse deus poderá julgar, também não concordo com casamento gay, aborto, mas prefiro me reserva a comentários pois não me assisti, julgar descordar, precisamos conviver com todas as diferenças, e se os negros os gays, são amaldiçoados por esse DEUS, PREFIRO A OUTRA ESCOLHA.
ExcluirFaces da mesma moeda. o Dualismo Ying e Yang
ExcluirTambem estou preocupado com esse crescimento de evangelicos, não tenho religião nenhuma pois religião é para quem não tem livre arbitrio, ou seja, são para pessoas que precisam que alguem decida por elas mas preferia a 20 anos atras quando era dominado pelos catolicos pois eram mais mansos, voces não acham ??:
ResponderExcluirEsses evangélicos apenas lutam pelo direito de continuar pregando o que acreditam, dentro de suas igrejas. Ninguém está querendo ditar como as pessoas devem viver suas vidas inclusive sexual.
ResponderExcluirSe passou a vida toda existindo homossexuais e não havia esse debate, será porque?
Eu vos digo, existe um jogo sujo, sorrateiro e fascista para calar a voz de quem é contrário a prática homossexual e, muito pior, dar status a quem é homossexual.
A mídia só fala uma parte da história, quero ver um cidadão normal ler os projetos de lei que eles querem aprovar e serva favor.
O Brasil não é um país homofóbico.
O Brasil não é homofóbico, mas sim os religiosos. E lugar certo p/ pregar não é no congresso ou nas ruas, e sim nas igrejas.Estado laico sim, teocrático não.
Excluir"Cidadão normal"?, difícil de entender, então quem é homoxessual é anormal? Perguntar não ofende.
ResponderExcluirEspera aí, eu pensei que todos fossem iguais perante Deus? Não somos todos filhos e filhas do mesmo Deus? Eu não acredito num Deus, que discrimina, que castiga e pune, um Deus mimado e interesseiro,que escolhe aqueles que o obedecem e pagam para receber os seus milagres. Concordo com uma opinião dita aqui, as religiões são para aqueles que querem colocar a culpa de suas atitudes desfavoráveis em outras pessoas, seres ou coisas. Quem precisa de cabresto para tocar a vida.
ResponderExcluirAs pessoas seguem "leis"inventadas pelos homens cheias de preconceitos, discriminações e opressões contra negros, homossexuais e mulheres e depois dizem que é de Deus. Deus pra mim é vida, é amor, igualdade,verdade, respeito por todos os seres vivos que ele criou. Todas as religiões são farinha do mesmo saco, querem domesticar a humanidade e deixá-la na infância espiritual, querem poder. Os piores massacres foram feitos pelas religiões que sempre tiveram sede de poder, infiltrados na pol´´itica pra dominar um povo que não tem capacidade de reflexão.
ResponderExcluirAté hoje, as religiões matam em nome de Deus! A maioria do que se segue, são dogmas sem lógica e ultrapassados, somente os religiosos não enxergam isso, mas os que mandam neles, sabem. Quem tem conhecimento domina, quem não tem, obedece.Cada um interpreta de acordo com seus próprios interesses, foi sempre assim na história da humanidade.
ResponderExcluirA bênção do poder e da ganância é a ignorância, num país aonde não existe saúde de qualidade,educação de qualidade, segurança para todos igualmente, precisa mesmo recorrer a milagres para resolver seus problemas, ninguém está lá pensando em Deus, estão lá pensando em resolver seus probelams materiais e normais da vida ou pelos shows espetaculares que promovem,porque este povo também não tem dinheiro para viajar, se divertir, ir a bons teatros, ler. Lá eles se sentem acolhidos e conformados porque há pessoas mais infelizes do que eles, o emocional é muito usado nas religiões, o medo e a culpa também. Os religiosos que dominam o povo, são cultos fazem cursos de PNL, de psicologia,de Direito, de filosofia, sonegam impostos,se é que pagam, porque é pilantropia, tudo com o intuito de enriquecer. Vão viajar com o dinheiro daquele coitado que ganha salário mínimo. Mas viva a ignorância do povo, tudo muito bem orquestrado: mídia,bancos, política e religião, todos disputando feito abutres as carcaças sofridas de um povo cego.
ResponderExcluirAnimo-fóbicos expressam seu pânico diante das realidades imateriais e seu pavor com os fenômenos da alma. Alter-fóbicos expressam sua paura diante da realidade do outro. Cogno-fóbicos expressam seu horror patológico face ao mundo do conhecimento. Por essas e outras fobias, seguem religiosos, cientistas, ideólogos.
ResponderExcluirNão fossem as fobias, lembraríamos, por exemplo, que "Estado laico" é principio civilizatório que nasce nos lábios de Jesus em sua visão da realidade: "A Cesar o que é de Cesar e a Deus o que é de Deus". E isso nos sugere ser natural e necessário o diálogo entre espiritualidade, conhecimento e ideologia politica.
Isto mesmo. É inacreditável como estamos regredindo nas mentalidades. Fico impressionado com a ignorância de quem se diz religioso, especialmente no caso dos evangélicos pentecostais.
ResponderExcluirSou católico e de mente independente. Não voto em pessoas que apresentam discursos religiosos de qualquer denominação. Um legislador ou governante tem que ser livre de preconceitos e ter visão real e progressista das coisas.
O Estado tem que ser laico. Leis e direitos são pra todos. Eu também sou contra o aborto, mas penso que deve ser legalizado, por ser questão de saúde. Quem se encontra em situação de aborto deve ter o direito de fazer em segurança, sem colocar a própria vida em risco.
É muito triste pra família perder uma filha ou mãe por não ter sido atendida num caso de complicação com aborto. E ninguém tem direito de decidir quem merece viver ou progredir, baseado em preconceito social ou de sexualidade, ou qualquer que seja.
O amor é maravilhoso, não importa o sexo.