domingo, 4 de setembro de 2011

Uma triste cena: o fechamento da livraria Athenas, do Arteiro!

Ontem de manhã bem cedo me dirigi até o centro da cidade para três tarefas de cunho pessoal: repor o estoque de meu livro e apresentar o mais novo nas livrarias Vozes, Athenas e gravar um documentário sobre museus, série Conhecendo Museus, para um produtora de São Paulo, a FJPN.

Cheguei cedo demais, o Museu Artístico e Histórico ainda estava fechado, e a Vozes começava a abrir as portas, nem eram 8:00 da matina. Levei mais 5 livros para consignação, Uma Athenas Equinocial, e estava munido de mais cinco de Terra e Céu de Nostalgia. Mesmo fechada, fui recebido na Vozes e apresentei meu novo rebento; de pronto receberam e registraram. De lá, tinha a intenção de visitar a Athenas, mas estava de portas fechadas e com um placa dizendo: FECHADO PARA BALANÇO. Como eu não tinha para onde ir, entrei no carro que estava estacionado em frente à livraria Athenas, liguei o som e esperei a produtora chegar. De repente, vejo um rosto sair de dentro da livraria: era meu amigo Arteiro, que, de súbito, meteu a cara na rua e se trancou de novo. Não me contive, fui até a porta e comecei a chamar: – Arteiro!! Arteiro!!! Um olho me entreolhava pela fresta da porta. A voz respondeu: – Entra, Henrique. Entrei. Cena desoladora: paredes nuas e brancas, sem prateleiras, caixas no chão, livros empilhados. Sem saber o que dizer, emendei: – Vais te mudar para onde? Ele retrucou: – Para lugar nenhum, eu fechei. Silêncio. Ele pegou um caixote e me serviu como um banquinho, apertou e minha mão e disse: – Eh, meu amigo, depois de 13 anos minha história com os livros e com esta livraria se encerra, e começou a me contar o porquê.  

Eu senti um nó na garganta vendo meu amigo Arteiro cabisbaixo, triste, discorrer sobre os percalços que levaram ao fechamento daquele importantíssimo estabelecimento. Passou um filme na minha frente à medida que a história seguia.

Fui apresentado à livraria Athenas e ao Arteiro pelas vias de meu grande amigo e colega de trabalho Alan Kardec, um compulsivo comprador de livros. Sua biblioteca e de sua esposa, minha também amiga Helidacy e igualmente colega de trabalho, tem um acervo invejável, parte dele adquirido na Athenas

Eram os tempos da tenra graduação, das incertezas, dos sonhos do futuro, quando depois das aulas de História da UFMA descíamos a Rua do Sol direto para o Arteiro; eu, para olhar os novos títulos, Alan para comprar. O que não havia de novos títulos ou daquilo que os professores nos recomendavam, encomendávamos imediatamente. Assim começou minha amizade com Arteiro. Foi a partir dele que conheci seu outro irmão, também livreiro e meu amigo Armando, dono da Prazer de Ler, sediada no CCH da UFMA, foi quem me levou para uma noite de autógrafos na feira do livro no Shopping São Luís e que me apresentou o Murilo, da Vozes.

A crise financeira que levou ao fechamento da livraria Athenas é decorrente das compras via internet que reduziram brutalmente o fluxo de compradores de livros, aliado à localização: Centro da cidade, Rua do Sol, e seu substantivo esvaziamento para a parte nova da cidade além ponte. As pessoas não saem mais de casa para ter problemas de estacionamento no Centro de São Luis, os shopping são a bola da vez. 

Por outro lado, é inevitável não se pasmar com o fato de uma das livrarias mais importantes e conhecidas da cidade ter cerrado sua portas. Numa pesquisa de telemarketing realizada durante o biênio 2004-2005, válida para os anos de 2005-2006, pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa de Opinião Publica, INBRAP, num  universo de 9364 entrevistados, 81% se lembravam da marca Livraria Athenas espontaneamente. 83% reconheciam a marca da empresa, 75% gostavam do atendimento, 67% reconheciam com boa a estrutura, 91% admiravam a qualidade e ela se encontrava num patamar de 79,4% Top of Mind. Foi a vencedora do Prêmio Top of Mind na categoria comércio varejista de livros, jornais, revistas e papelaria.     

Como pode uma cidade assistir ao fechamento de uma livraria desse quilate? Que cidade é essa? Lembrei-me automaticamente das discussões no século XIX acerca da qualidade, nível e quantidade de leitores nas instituições de cultura da província, como bibliotecas e o importante Gabinete Português de Leitura; fechou por falta de leitores. Seria cômico se não fosse trágico: na propalada e mítica Athenas brasileira a livraria Athenas fecha suas portas por falta de compradores, quer dizer, leitores !!!  

Perguntei ao Arteiro o que eu podia fazer para ajudá-lo. Ele mencionou que vai vender todo o estoque por preços módicos durante a V Feira do Livro. Então conclamo a todos os leitores, amantes da cultura, que espalhem a notícia e que comprem livros na livraria Athenas durante a Feira!!!  

Arteiro, que Deus te abençoe na tua nova empreitada e obrigado por deixar parte da cidade de São Luis aquinhoada por informação e cultura durante os 13 anos de vida da tua livraria. 





6 comentários:

  1. Cara, o mercado de livros não é o único a passar apertos em decorrência das vendas pela internet. O mesmo acomete outros produtos culturais, como discos e filmes. Recentemente, a Secretaria Estadual de Fazenda determinou cobrança de imposto sobre produtos vendidos na internet que ultrapassassem R$ 1.000,00 - pois o valor daquele não era revertido para os cofres maranhenses, mas virava receita para os lugares de origem.

    Mas a necessidade de reformulação atinge as mais variadas áreas. Veja-se o exemplo das empresas jornalísticas. Após a cobertura feita na internet, mais rápida e por isso mais propícia a “furos de reportagem”, os jornais impressos e as Tv’s têm que encontrar formas de abordagem diferenciadas, que atraiam um público que cada vez mais tem como fonte primeira de informação os sites de notícia.

    Muitas livrarias, para sobreviver, têm se deparado com a necessidade de adaptar-se a esta realidade. Alguns optaram por dividir os espaços dedicados aos livros com computadores ou máquinas de café. Porém, isso me parece muito mais uma alternativa para a sobrevivência do indivíduo enquanto empresário como um todo do que particularmente como vendedor de livros.

    Acho que o problema maior está mesmo na velha falta de intimidade entre o brasileiro e o mundo da leitura, seja por questões culturais, econômicas ou de políticas educacionais. A média anual de leitura dos brasileiros costuma ficar em menos de dois livros. Ainda mais grave e preocupante do que o fechamento de livrarias (mas diretamente a ele ligado) está o fato de que na maioria das cidades do nosso país inexistem bibliotecas e escolas públicas com um acervo mínimo que seja.

    Diante das transformações oriundas das facilidades proporcionadas pela internet, e enquanto a disparidade entre oferta e demanda for tão gritante no mercado de livros, situações como a da Livraria Athenas podem virar tendência.

    Falou...
    Fabio Henrique Gonçalves

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  2. Cara,fiquei emocionado com esse texto.Sempre quando posso volto para este e fico a refletir...

    Temos um sério problema cultural,perdemos o apreço pelos livros.Me lembro quando descobri a leitura,quando fui apresentado por um amigo a essa viagem fantastica.Confesso que minha expereincia ainda é muito visual.A minha grande paixão ainda é cinema.Mas o prazer da leitura vem me conquistando aos poucos.
    Eu adorava a Athenas,sempre quando estava pela rua do Sol dava um pulo lá,mesmo que fosse só pra dar uma olhada(em sua maioria).
    Me recordo da última vez que estive lá foi um dia antes do aniversário de Laiana,quando fiquei durante quase uma hora a procurar algo que pudesse ser do gosto dela.Esse momento não sai da minha memória.

    Depois disso nunca mais fui na Athenas,por falta de tempo e nunca irei mais.

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  3. Henrique,
    publicamos este post no maranahrte (maranharte.blogspot.com) que é voltado para a divulgação de nossa literatura.
    Interessante que, um dia antes, tínhamos publicado um informativo do lançamento do seu livro e hoje, lendo o blog do Zema, tivemos acesso a esse emocionado texto. Parabéns

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  4. Caro Flávio. obrigado pela menção. de fato fiquei muito tocado. ontem, no lançamento do meu livro conversei muito com Armando, irmão de Arteiro, e ele me contou o quanto esse episódio de fato abalou todos eles. assim mesmo. abraços cara

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  5. Pôxa, fiquei emocionada com o texto. Tão nostálgico!!!!!!! Eu, também, lamentei profundamente o fechamento da Livraria!

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  6. gostaria de saber quando acontecerá a feira do livo?

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