O cenário político e social no
Brasil atualmente, guardadas as devidas proporções, lembra a Alemanha
pré-nazista: “fracasso” da república de Weimar, combate a qualquer projeto comunista, ascensão do nacional-socialismo (nazismo), procura de bodes
expiatórios pela crise econômica pós I Guerra Europeia.
Diante do fracasso do PT em se
colocar e construir uma plataforma de política com vistas à uma reforma mais
profunda, avançam no Brasil os espectros dos monstros que aterrorizaram também
a Europa na primeira metade do século XX, claro, sob os auspícios do
capital que, em nome do crescimento econômico, colidiu pensamentos até então
avançados para uma sociedade que atravessou duas ditaduras militares (1937-1945;
1964-1984), e agora, sob a égide do Consenso de Washington, dos ventos
neoliberais que verteram água no restante do mundo, tenta se agarrar com todas
as forças retrógradas num Brasil órfão de um partido político, com um vazio e
inebriamento da esquerda e do avanço de
uma Direita corrupta, inepta, sem projeto social, apenas com foco do tal
propalado crescimento econômico, olvidando completamente os argumentos humanos
e sociais que se colocam por detrás da verdadeira razão de ser de uma
sociedade: o equilíbrio.
O fracasso do modelo
representativo democrático brasileiro levou a uma atrofia, anomalia da
representação política no Brasil: o PT, para governar e fazer avançar seus
projetos sociais, cujos dados são incontestáveis do ponto de vista da redução
da pobreza, foi obrigado a se imiscuir com a velha barganha, cooptando e sendo
cooptado pelos setores mais atrasados da política brasileira, exatamente
aqueles que havia combatido desde sua fundação.
Diante deste fracasso e do
crescente aumento da rejeição ao Partido, trazendo consigo uma ojeriza à
esquerda e a qualquer ideia de comunismo, ainda que muitos nunca tenha lido Karl Marx ou sequer entendam o comunismo, apareceram, no fundo estavam submersos em
virtude do vigoroso crescimento econômico dos governos Lula, as mais horrendas
facetas de uma sociedade escravocrata, elitista, preconceituosa, raivosa, homofóbica,
racista, elitista, misógina.
Pululam manifestações
pró-ditadura militar, manifestações fascistas evocando um nacionalismo
exacerbado, apoio à repressão policial aos movimentos sociais, apoio à redução
dos direitos trabalhistas, à redução da maioridade penal, apoio a um conceito
equivocado de família mononuclear, patriarcal, declaração de apoio a um
cristianismo proselitista, claramente capitalista, pautada na ética e na
teologia da prosperidade, inclusive elegendo um número significativo de
deputados federais evangélicos extremamente preconceituosos, racialistas,
homofóbicos, notadamente em defesa da indústria agropecuária, armamentista,
contra os direitos dos indígenas, dos quilombolas, dos mais pobres, com uma
clara determinação de ocuparem os espaços burocráticos do poder para execução
de suas propostas.
Aparecem no cenário nacional
abertamente uma imprensa vendida ao grande capital que ataca projetos como “minha
casa, minha vida”, “mais médicos”, “ciências sem fronteiras”, por vezes
mentindo e omitindo informações, tudo para burlar, inclusive seus próprios
esquemas de corrupção e suas crises financeiras.
A proposta do presidente da
Câmara Federal, Eduardo Cunha, PMDB, de apoiar a construção de um shopping center no
congresso nacional com dinheiro público é a própria revelação dos destinos
ideológicos que o Brasil tomou abrindo as feridas dos segmentos outrora
silenciados que resolveram se aliar para combater os avanços sociais e a
aliança política com a América Latina. Os elementos e as forças sociais
presentes no Brasil de hoje, além de lembrarem a Alemanha pré-nazista, também
remontam ao pré-golpe de 1964. Forças antagônicas se levantaram pró e contra João
Goulart. O resultado foi a consecução do golpe.
Naquele período os elementos
desencadeadores para debelação e apoio da sociedade civil ao golpe foram a
defesa da família e o combate ao comunismo, claro, olvidando os interesses do
grande capital internacional, receosa do avanço da esquerda na América Latina.
Também naquele período houve aliança entre a imprensa e o grande capital, além
dos setores conservadores e os equívocos da própria esquerda que não entendeu a
artimanha por detrás do golpe.
De novo a esquerda está desunida,
acusando o PT como se fosse o único responsável pela falência do modelo
democrático representativo, esquivando sua participação na construção de um
projeto democrático ampliado, ou, não fazendo a autocritica sob os erros
cometidos na construção de um projeto de ampla participação.
As manifestações pelo impeachment
de Dilma levantando a bandeira contra a corrupção, de fato o PT não tinha do
direito de roubar, serviram de palco não só a luta de combate a corrupção,
ainda que muitos de seus líderes estejam bastante envolvidos também em
corrupção, não sejam nenhum exemplo de ética e escondem a disputa do poder pelo
poder, como também as ideias supostamente adormecidas no seio da sociedade brasileira
contrastando os epítetos de povo pacífico, apaziguador, cordial. O que se
assistiu foi um desfile de raiva, ódio de classe, destilando os maiores dísticos
preconceitos: contra as mulheres, por vezes usando-as como símbolo sexual,
contra as cotas e contra os negros, contra o bolsa família e aqueles que não
possuem renda, contra os mais médicos e aqueles que não possuem atendimento, contra
Paulo Freire e aqueles que foram excluídos de uma educação formal inclusiva, contra
a América Latina e o projeto de integração política continental, contra a democracia e a favor da força do
estado de exceção.
Os perigos de uma sociedade
enraivecida, obtusa, tanto naqueles momentos pré-golpe de 1964 quanto agora são
os mesmos: a falta de criticidade nas artimanhas políticas de um discurso
religioso extremamente ideológico, aliado do grande capital, homofóbico, que
autoriza a perseguição aos terreiros de cultos afrodescendentes, defensor da indústria
bélica, do agrobusiness, do capital especulativo, das grandes industrias em
detrimento da agricultura familiar, das práticas indígenas e quilombolas, de uma
sociedade plural e multifacetada, não homogeneizada.
A permissão para a construção de
um shopping center no Congresso Nacional sob os auspícios de um evangélico, acusado de
participação no esquema de corrupção da Lava-Jato, é mais que o símbolo, é a
personificação da prostituição política vendida ao capital, no lugar onde
supostamente defender-se-ia os interesses públicos, se coloca à mercê e a
serviço do interesse privado, sobretudo porque a construção se dará com
dinheiro público. É a própria entificação de que o estado defende os interesses
de classe, tão criticado em Karl Marx e tão escancarado agora no Brasil.
O Brasil serviu de laboratório às
experiências do grande capital internacional. Nos países capitalistas centrais,
conforme o avanço e/ou recuo dos movimentos sociais brecavam experiências
capitalistas, o Brasil servia de experimentos para o que poderia ser implementado.
Pouco a pouco foram eliminadas as barreiras e as caracterizações das experiências
de sociabilidades do povo brasileiro que contrastavam com os rearranjos de
outros países, tais como as práticas indígenas, quilombolas, a agricultura
familiar, as sociedades tradicionais. Foi sendo implantando um discurso
lumpemburguês, ironizando as características culturais brasileiras associadas
ao atraso, ao jeito tupiniquim, enquanto aumentava a desigualdade, a exclusão, a
violência.
Estamos diante de uma sociedade vaticinada
pela ideologia do consumo, com baixa autoestima, valorizando os aspectos culturais
da Europa, mas sobretudo dos Estados Unidos exportando modelos de comportamento,
de cobertura midiática, de argumentos econômicos equivocados e falidos.
Não há como dissociar do crescimento
proselitista evangélico, pautada na teologia da prosperidade, de origem
estadunidense, e o horizonte de um padrão de vida alicerçada nos princípios calvinistas
de salvação individual, de liberalismo, da comutação entre meritocracia
salvifica e social, ou seja, a vida material como reflexo da espiritual.
Para isso era necessário eliminar todos os aspectos considerados obstáculos que
se interpunham a um projeto evangélico, tais como a prática homoafetiva, os cultos
afros, a perseguição ao espiritismo, ao catolicismo, as ideologias comunistas,
a ampliação dos direitos sociais pelo estado em função dos menos aquinhoados
sob a alegação de que isto elimina o esforço e empenho social, como se a
corrida fosse ética e igualitária.
Aos poucos foram caindo as
máscaras dos brasileiros, dentre elas a da cordialidade. Essa premissa não
serve mais, tanto pela exacerbação da raiva pelas conquistas como o bolsa família,
dos avanços da minha casa, minha vida, ciências sem fronteiras, quanto pelas
manifestações classistas pelo impeachment
de Dilma usando argumentos contra o fim da pedagogia de Paulo Freire, contra o
casamento gay, atitudes misóginas, consequentemente machistas contra a Dilma, tanto
pelo seu passado guerrilheira, quanto pelo fato de ser mulher.
Aliás, o pedido de retorno das
forças armadas esconde uma atitude machista, prolifica da dureza masculina, da
virilidade, da conquista, da força, da tradição patriarcal contra a vitória de
uma mulher presidente. Se esconde na raiva a Dilma o suposto fato dela
pertencer ao PT, quando na verdade uma das questões é o fato de ser mulher,
sucessora de um nordestino, pernambucano, sem um dedo, metalúrgico, imigrante,
outrora assalariado dos donatários industriais, exatamente de São Paulo, a cidade
que se orgulha de seu passado aristocrático e de sua riqueza econômica “ante um
pais que ela carrega nas costas”.
Estão expostas diante do cenário nacional
as grandes contradições do Brasil. A autorização da construção do shopping center no
congresso nacional ultrapassou a dimensão simbólica da relação entre estado e
capital e atingiu a máxima exemplicação e conceituação marxiana da função deste
aparato: a garantia dos direitos classistas. Este fato é a própria prostituição
do estado, a grande meretriz em nome do capital.
A grande contradição, no fundo
não é contraditório, é que o Congresso é comandado por um evangélico, supostamente
um representante de Deus usando todos os indícios e sinais anticristãos (marcas
do anti-cristo) em nome de Deus. Sob a bandeira do capital, o proselitismo
evangélico neopentecostal da teologia da prosperidade guarda as marcas contra o
verdadeiro cristianismo, tais como: fanatismo, hiperindividualismo, liberalismo,
autoritarismo, anti-alteridade, competitividade e, o pior de todos: a anti-caridade.
Claro, se se advoga o princípio da competitividade antiética em detrimento da
compaixão e caridade, prega-se as marcas do anti-amor cristão. O sinal da
besta: 666, homem-homem-homem, simboliza trabalho, dinheiro e poder. É uma metáfora
dos seguidores da besta amantes de tais valores.
A luta contra as comunidades tradicionais, contra os
movimentos quilombolas, o assassinato de indígenas, de jovens negros, da misoginia,
a homofobia, a luta contra o comunismo, ainda
que não se entenda os princípios comunistas, no fundo, a luta contra a igualdade,
são marcas de uma sociedade bestializada, entorpecida pelo capital, pelo lucro,
pela exploração da natureza ao se apoiar o avanço do agrobusiness devastando a floresta, usando pesticidas, antibióticos
nos animais visando o seu rápido crescimento, usando às turras os recursos
naturais da terra, constituindo uma sociedade global sanguinária, embebecida no
sangue do consumo da carne animal enquanto 1/3 dos habitantes da terra passam
fome.
Estamos num momento crucial não
só no Brasil, mas no mundo. Num momento em que aqueles que estão a favor da
igualdade, da justiça, da equidade, do amor, precisam assumir suas posições, porque caso o contrário, serão levados de roldão, de vencida por aqueles que
defendem o princípio da competitividade enquanto baluarte da vida.
O uso ideológico da imprensa, o rolo
compressor dos partidos e todos os sinais apontados hoje indicam que a terra
chegou ao seu momento crucial de dar uma virada. As máscaras caíram, os verdadeiros
interesses começam a ser apontados, não há meio termo: ou se luta por um mundo
melhor, ou aqueles que advogam a disputa pessoal, o ser dar bem como estandartes vão vencer, inclusive os de boa-fé.
É impossível não comentar sua visão do cenário político que o pais está vivendo, mas caro Henrique, cá entre nós: o Partido dos Trabalhadores profissionalizou a maneira de roupar, institucionalizou a corrupção no Brasil, aliou-se aos maiores oligárquicas do País, criou uma maneira genial de estelionato eleitoral para barganha eleições - e você sabe disso, que a refinaria Premium que seria instalada em terras maranhenses foi um verdadeiro rombo e roubo -, fora as mentiras contadas pela Presidente durante campanha eleitoral, e você também sabe disso. A Presidente tem uma frase bem inteligente sobre corrupção, que é assim: "NINGUÉM ESTAR ACIMA DA CORRUPÇÃO, TODOS ESTAMOS SUJEITO ÀS PRATICAS CORRUPTAS", o curioso dessa frase é que estamos condenados às práticas corruptas ou fomos condenados pela Presidente, caro amigo esse governo que aí está já demonstrou, claramente, seu objetivo, tentar alijar nossas instituições democráticas, tolher o legislativo ao seu bel-prazer, censurar a imprensa, isso me pareci um sistema de manutenção de poder, ou melhor um País comunista, uma Venezuela, uma Coreia do Norte, ou Cuba, que sabemos muito bem com a sociedade desses Países estão vivendo, Henrique se foi isso que Karl Marx pensava, esse homem é um louco, e você que é Historiador saber as consequências de governos comunista no que já deu a história está aí pra mostrar, tenho certeza que o PT, etá profundamente convencido por essas praticas. ABRAÇOS.
ResponderExcluirMeu caro, eu concordo apenas em parte. Não é verdade que o PT institucionalizou a corrupçao no pais, ela já existia, inclusive foi o PSDB que inventou o mensalão. A reeleição de FHC foi comprada com o mensalão. agora , numa coisa eu concordo: o PT foi eleito para fazer diferente, para mudar a concepção de politica e não mudou, e agora paga um preço. Ainda assim, os projetos sociais do PT o tornão bem diferente da Direita. Quanto a Dilma, discordo de tudo. Aquela mulher é corajosa e teve que ficar calada diante dos aliados, inclusive do PT, sozinha, aguentando calada todo o lamaçal da politica partidária. O problema está no nosso modelo representativo, completamente falido.
ResponderExcluirabraços