sexta-feira, 22 de maio de 2015

O sinal da besta-fera 666 e a construção de um shopping no congresso nacional: a venda da alma ao Diabo em nome de Deus



O cenário político e social no Brasil atualmente, guardadas as devidas proporções, lembra a Alemanha pré-nazista: “fracasso” da república de Weimar, combate a qualquer projeto comunista, ascensão do nacional-socialismo (nazismo), procura de bodes expiatórios pela crise econômica pós I Guerra Europeia.

Diante do fracasso do PT em se colocar e construir uma plataforma de política com vistas à uma reforma mais profunda, avançam no Brasil os espectros dos monstros que aterrorizaram também a Europa na primeira metade do século XX, claro, sob os auspícios do capital que, em nome do crescimento econômico, colidiu pensamentos até então avançados para uma sociedade que atravessou duas ditaduras militares (1937-1945; 1964-1984), e agora, sob a égide do Consenso de Washington, dos ventos neoliberais que verteram água no restante do mundo, tenta se agarrar com todas as forças retrógradas num Brasil órfão de um partido político, com um vazio e inebriamento da  esquerda e do avanço de uma Direita corrupta, inepta, sem projeto social, apenas com foco do tal propalado crescimento econômico, olvidando completamente os argumentos humanos e sociais que se colocam por detrás da verdadeira razão de ser de uma sociedade: o equilíbrio.

O fracasso do modelo representativo democrático brasileiro levou a uma atrofia, anomalia da representação política no Brasil: o PT, para governar e fazer avançar seus projetos sociais, cujos dados são incontestáveis do ponto de vista da redução da pobreza, foi obrigado a se imiscuir com a velha barganha, cooptando e sendo cooptado pelos setores mais atrasados da política brasileira, exatamente aqueles que havia combatido desde sua fundação.

Diante deste fracasso e do crescente aumento da rejeição ao Partido, trazendo consigo uma ojeriza à esquerda e a qualquer ideia de comunismo, ainda que muitos nunca tenha lido Karl Marx ou sequer entendam o comunismo, apareceram, no fundo estavam submersos em virtude do vigoroso crescimento econômico dos governos Lula, as mais horrendas facetas de uma sociedade escravocrata, elitista, preconceituosa, raivosa, homofóbica, racista, elitista, misógina.

Pululam manifestações pró-ditadura militar, manifestações fascistas evocando um nacionalismo exacerbado, apoio à repressão policial aos movimentos sociais, apoio à redução dos direitos trabalhistas, à redução da maioridade penal, apoio a um conceito equivocado de família mononuclear, patriarcal, declaração de apoio a um cristianismo proselitista, claramente capitalista, pautada na ética e na teologia da prosperidade, inclusive elegendo um número significativo de deputados federais evangélicos extremamente preconceituosos, racialistas, homofóbicos, notadamente em defesa da indústria agropecuária, armamentista, contra os direitos dos indígenas, dos quilombolas, dos mais pobres, com uma clara determinação de ocuparem os espaços burocráticos do poder para execução de suas propostas.

Aparecem no cenário nacional abertamente uma imprensa vendida ao grande capital que ataca projetos como “minha casa, minha vida”, “mais médicos”, “ciências sem fronteiras”, por vezes mentindo e omitindo informações, tudo para burlar, inclusive seus próprios esquemas de corrupção e suas crises financeiras.   

A proposta do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha, PMDB, de apoiar a construção de um shopping center no congresso nacional com dinheiro público é a própria revelação dos destinos ideológicos que o Brasil tomou abrindo as feridas dos segmentos outrora silenciados que resolveram se aliar para combater os avanços sociais e a aliança política com a América Latina. Os elementos e as forças sociais presentes no Brasil de hoje, além de lembrarem a Alemanha pré-nazista, também remontam ao pré-golpe de 1964. Forças antagônicas se levantaram pró e contra João Goulart. O resultado foi a consecução do golpe.

Naquele período os elementos desencadeadores para debelação e apoio da sociedade civil ao golpe foram a defesa da família e o combate ao comunismo, claro, olvidando os interesses do grande capital internacional, receosa do avanço da esquerda na América Latina. Também naquele período houve aliança entre a imprensa e o grande capital, além dos setores conservadores e os equívocos da própria esquerda que não entendeu a artimanha por detrás do golpe.

De novo a esquerda está desunida, acusando o PT como se fosse o único responsável pela falência do modelo democrático representativo, esquivando sua participação na construção de um projeto democrático ampliado, ou, não fazendo a autocritica sob os erros cometidos na construção de um projeto de ampla participação.

As manifestações pelo impeachment de Dilma levantando a bandeira contra a corrupção, de fato o PT não tinha do direito de roubar, serviram de palco não só a luta de combate a corrupção, ainda que muitos de seus líderes estejam bastante envolvidos também em corrupção, não sejam nenhum exemplo de ética e escondem a disputa do poder pelo poder, como também as ideias supostamente adormecidas no seio da sociedade brasileira contrastando os epítetos de povo pacífico, apaziguador, cordial. O que se assistiu foi um desfile de raiva, ódio de classe, destilando os maiores dísticos preconceitos: contra as mulheres, por vezes usando-as como símbolo sexual, contra as cotas e contra os negros, contra o bolsa família e aqueles que não possuem renda, contra os mais médicos e aqueles que não possuem atendimento, contra Paulo Freire e aqueles que foram excluídos de uma educação formal inclusiva, contra a América Latina e o projeto de integração política continental, contra a democracia e a favor da força do estado de exceção.
  
Os perigos de uma sociedade enraivecida, obtusa, tanto naqueles momentos pré-golpe de 1964 quanto agora são os mesmos: a falta de criticidade nas artimanhas políticas de um discurso religioso extremamente ideológico, aliado do grande capital, homofóbico, que autoriza a perseguição aos terreiros de cultos afrodescendentes, defensor da indústria bélica, do agrobusiness, do capital especulativo, das grandes industrias em detrimento da agricultura familiar, das práticas indígenas e quilombolas, de uma sociedade plural e multifacetada, não homogeneizada.

A permissão para a construção de um shopping center no Congresso Nacional sob os auspícios de um evangélico, acusado de participação no esquema de corrupção da Lava-Jato, é mais que o símbolo, é a personificação da prostituição política vendida ao capital, no lugar onde supostamente defender-se-ia os interesses públicos, se coloca à mercê e a serviço do interesse privado, sobretudo porque a construção se dará com dinheiro público. É a própria entificação de que o estado defende os interesses de classe, tão criticado em Karl Marx e tão escancarado agora no Brasil.

O Brasil serviu de laboratório às experiências do grande capital internacional. Nos países capitalistas centrais, conforme o avanço e/ou recuo dos movimentos sociais brecavam experiências capitalistas, o Brasil servia de experimentos para o que poderia ser implementado. Pouco a pouco foram eliminadas as barreiras e as caracterizações das experiências de sociabilidades do povo brasileiro que contrastavam com os rearranjos de outros países, tais como as práticas indígenas, quilombolas, a agricultura familiar, as sociedades tradicionais. Foi sendo implantando um discurso lumpemburguês, ironizando as características culturais brasileiras associadas ao atraso, ao jeito tupiniquim, enquanto aumentava a desigualdade, a exclusão, a violência.

Estamos diante de uma sociedade vaticinada pela ideologia do consumo, com baixa autoestima, valorizando os aspectos culturais da Europa, mas sobretudo dos Estados Unidos exportando modelos de comportamento, de cobertura midiática, de argumentos econômicos equivocados e falidos.

Não há como dissociar do crescimento proselitista evangélico, pautada na teologia da prosperidade, de origem estadunidense, e o horizonte de um padrão de vida alicerçada nos princípios calvinistas de salvação individual, de liberalismo, da comutação entre meritocracia salvifica e social, ou seja, a vida material como reflexo da espiritual. Para isso era necessário eliminar todos os aspectos considerados obstáculos que se interpunham a um projeto evangélico, tais como a prática homoafetiva, os cultos afros, a perseguição ao espiritismo, ao catolicismo, as ideologias comunistas, a ampliação dos direitos sociais pelo estado em função dos menos aquinhoados sob a alegação de que isto elimina o esforço e empenho social, como se a corrida fosse ética e igualitária.

Aos poucos foram caindo as máscaras dos brasileiros, dentre elas a da cordialidade. Essa premissa não serve mais, tanto pela exacerbação da raiva pelas conquistas como o bolsa família, dos avanços da minha casa, minha vida, ciências sem fronteiras, quanto pelas manifestações classistas pelo impeachment de Dilma usando argumentos contra o fim da pedagogia de Paulo Freire, contra o casamento gay, atitudes misóginas, consequentemente machistas contra a Dilma, tanto pelo seu passado guerrilheira, quanto pelo fato de ser mulher.

Aliás, o pedido de retorno das forças armadas esconde uma atitude machista, prolifica da dureza masculina, da virilidade, da conquista, da força, da tradição patriarcal contra a vitória de uma mulher presidente. Se esconde na raiva a Dilma o suposto fato dela pertencer ao PT, quando na verdade uma das questões é o fato de ser mulher, sucessora de um nordestino, pernambucano, sem um dedo, metalúrgico, imigrante, outrora assalariado dos donatários industriais, exatamente de São Paulo, a cidade que se orgulha de seu passado aristocrático e de sua riqueza econômica “ante um pais que ela carrega nas costas”.  

Estão expostas diante do cenário nacional as grandes contradições do Brasil. A autorização da construção do shopping center no congresso nacional ultrapassou a dimensão simbólica da relação entre estado e capital e atingiu a máxima exemplicação e conceituação marxiana da função deste aparato: a garantia dos direitos classistas. Este fato é a própria prostituição do estado, a grande meretriz em nome do capital.

A grande contradição, no fundo não é contraditório, é que o Congresso é comandado por um evangélico, supostamente um representante de Deus usando todos os indícios e sinais anticristãos (marcas do anti-cristo) em nome de Deus. Sob a bandeira do capital, o proselitismo evangélico neopentecostal da teologia da prosperidade guarda as marcas contra o verdadeiro cristianismo, tais como: fanatismo, hiperindividualismo, liberalismo, autoritarismo, anti-alteridade, competitividade e, o pior de todos: a anti-caridade. Claro, se se advoga o princípio da competitividade antiética em detrimento da compaixão e caridade, prega-se as marcas do anti-amor cristão. O sinal da besta: 666, homem-homem-homem, simboliza trabalho, dinheiro e poder. É uma metáfora dos seguidores da besta amantes de tais valores.

A luta contra as comunidades tradicionais, contra os movimentos quilombolas, o assassinato de indígenas, de jovens negros, da misoginia, a homofobia, a luta contra o comunismo, ainda que não se entenda os princípios comunistas, no fundo, a luta contra a igualdade, são marcas de uma sociedade bestializada, entorpecida pelo capital, pelo lucro, pela exploração da natureza ao se apoiar o avanço do agrobusiness devastando a floresta, usando pesticidas, antibióticos nos animais visando o seu rápido crescimento, usando às turras os recursos naturais da terra, constituindo uma sociedade global sanguinária, embebecida no sangue do consumo da carne animal enquanto 1/3 dos habitantes da terra passam fome.

Estamos num momento crucial não só no Brasil, mas no mundo. Num momento em que aqueles que estão a favor da igualdade, da justiça, da equidade, do amor, precisam assumir suas posições, porque caso o contrário, serão levados de roldão, de vencida por aqueles que defendem o princípio da competitividade enquanto baluarte da vida.

O uso ideológico da imprensa, o rolo compressor dos partidos e todos os sinais apontados hoje indicam que a terra chegou ao seu momento crucial de dar uma virada. As máscaras caíram, os verdadeiros interesses começam a ser apontados, não há meio termo: ou se luta por um mundo melhor, ou aqueles que advogam a disputa pessoal, o ser dar bem como estandartes vão vencer, inclusive os de boa-fé.       


       
   

       

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