sexta-feira, 29 de agosto de 2014

A lírica infanto-juvenil de Castro Alves

José Antonio Basto


Por que Castro Alves foi um poeta sempre jovem? Porque não envelheceu jamais. Morreu muito novo aos vinte e quatro anos de idade, nascido em 1847, na Fazenda Cabaceiras distrito de Curralinho na caatinga baiana, foi marcado pelo romantismo e pelos cacoetes do romantismo, dono de uma poesia jovem, quase juvenil -, liricamente juvenil e entusiasticamente jovem, é o que se ver em “Espumas Flutuantes”,  sua única obra publicada em vida.

O adolescente Castro Alves começou sua primeira experiência poética ainda quando estudava no antigo Ginásio Baiano em Salvador, um poema que retrata bem esse entusiasmo juvenil da época é “O laço de fita”-, escrito quando ele tinha apenas quinze anos: “Não sabes, criança? Estou louco de amores.../ Prendi meus afetos, formosa pepita./ Mas onde? No tempo, no espaço, nas névoas? / Não rias, prendi-me num laço de fita”.

Os devaneios precoces estão intimamente ligados ao sentimento amoroso e aventureiro, o amor que invade o pensamento é maior do que qualquer coisa, podendo até então usufruir de exageros explícitos, como a simples loucura e a morte.

A poesia infanto-juvenil de Castro Alves diferencia-se de outras produções pelo fato de que sua juventude foi grifada por fatos que marcaram sua vida: a morte da mãe vítima de tuberculose, a loucura do irmão, a mudança da família do sertão baiano para a capital Salvador foram fatos que fizeram reviravoltas no álbum do artista.

Castro Alves talvez não descendesse de uma linhagem de poetas, mas a vocação falou mais alto quando era ainda pré-adolescente. O jovem trovador se revelava um romântico por vocação, ao mesmo tempo, aquele que seria o futuro poeta dos escravos se dedicou e trabalhou extraordinariamente a favor da raça escravizada, tendo como experiência os tempos que passara na fazenda do pai e do avô materno.

Seu primeiro poema publicado na imprensa “Canção do Africano” -, demonstra a capacidade de um adolescente que dedicaria toda sua vida contra a escravidão negra no Brasil. Castro Alves não viu a libertação dos escravos em 13 de Maio de 1888, mas, diga-se de passagem, que foi o abolicionista de maior valor nessa militância que se concretizou na liberdade dos negros e o anúncio da república que veio logo mais em 1889.

Quando viajou para São Paulo realizou-se com aquilo que queria fazer de verdade: a boemia com os colegas de universidade, Rui Borbosa, Joaquim Nabuco e o professor José Bonifácio; num tempo quando ninguém falava de abolição da escravatura no Brasil, em seus poemas já tratava disso ou pelo menos nesta direção. Uma luta que começou na Bahia e foi para o Rio de Janeiro e também para São Paulo, a lírica de um revolucionário hoje patrono da UJS – União da Juventude Socialista passou, a partir de aquele momento ser uma arma de luta contra todo tipo de opressão dirigida aos escravos.

O Jovem poeta Baiano deixou sua marca incomparável no panteon da história por ter sido um poeta românico que pretendia tratar não apenas da escravidão no Brasil, mas também em algumas partes do mundo, como na própria África. A insatisfação do poeta se refletiu por toda sua existência, sua vida na verdade foi de pura militância, isso ficou retratado quando ele desafiou a classe escravocrata e conservadora recitando seu mais célebre e famoso poema “Navio Negreiro” –, um ato histórico que marcou as paginas da militância abolicionista no século XIX.

Um romântico que cantou as flores, as mulheres e principalmente a liberdade, foi este quem escreveu poemas belíssimos que atravessaram as barreiras do tempo, a lírica amorosa e revolucionária nos faz voltar a um tempo importante em que as tiragens dos livros eram extremamente resumidas. Ler várias vezes seus versos consagrados não é cansativo. Uma poesia difícil de interpretar, repleta de pontos de acentuações gramaticais, ninguém jamais escreveu com tanta perfeição e com tantos pontos de exclamações, reticencias, interrogações, travessões, ponto e vírgula e assim sucessivamente.

Talvez não tenha sido um bom aluno no curso de direito, mas agitações e literatura eram com ele mesmo. Atingiu seu apogeu como vate imortal da LITERATURA BRASILEIRA. Hoje é patrono de uma das cadeiras da ABL – Academia Brasileira de Letras, é um vulto fundamental de nossa cultura literária -, o poeta da juventude, do amor, da liberdade, da luta por direitos iguais este é Castro Alves é, sobretudo um cantador das dores da humanidade, por isso sua grande diferenciação dos outros poetas do seu tempo.

Sua poesia infanto-juvenil é ainda uma voz que clama por justiça social na reflexão do preconceito social que ainda não foi abolido de nosso meio, nessa mesma vertente, diga-se de passagem, que foi o poeta que retratou a mulher amada de carne e osso na sombra de uma musa sensual, verdadeira e original e não apenas ficcionista.

(José Antonio Basto)
*Poeta e crítico
Urbano Santos-MA, 26 de Agosto de 2014.                                                                                


terça-feira, 26 de agosto de 2014

Da necessidade de desburocratizar a democracia

A democracia brasileira é um regime extremamente jovem. Ao longo do século XX sofreu vários revertérios. A Proclamação da Republica em 1889 a partir de um golpe militar derrubando a monarquia não caracterizou uma democracia, ou até mesmo um regime republicano stricto sensu, pois o que se assistiu foi uma sucessão de presidentes ligados sempre aos mesmos grupos políticos, além da exclusão de uma parcela significativa da população brasileira.

Em 1930, Getúlio Vargas impetrou um golpe pondo fim a Republica e 07 anos mais tarde decretaria outro golpe implementando a ditadura Vargas até 1945. A redemocratização, surgida nesse período, sofreria um revés com o golpe civil-militar em 1964 perdurando até 1985.

A reabertura democrática com a eleição do primeiro presidente civil, Fernando Afonso Collor de Melo em 1989, derrotando Lula, sofreria um grande débaclê ao mesmo tempo em que mostrou a força da mobilização politica-popular: o impeachment. Tal ação foi ao mesmo tempo sinal de uma decepção, presidente deposto por corrupção e uma motivação para a necessidade de amadurecimento das instituições democráticas.

Hoje, 2014, as vésperas de mais uma eleição majoritária, paira certa ressaca moral e um sentimento de descrédito e desânimo quanto a real possibilidade de mudança na forma de fazer politica, em parte em decorrência do nosso modelo representativo.

Os partidos, que quer dizer parte, não representam quase ou nada dos segmentos quais são oriundos; as instituições jurídicas são encaradas como privilegiadas pela capacidade de decisão e poder de barganha, além de funcionarem dentro de um esquema extremamente corporativista não aceitando controle ou fiscalização interna e servindo de atrativo a milhões de brasileiros pelos altos salários e pelas benesses; a imprensa, apelando para o discurso enviesado de censura, não aceita que se faça um amplo debate sobre a democratização da informação sem colocar o dedo da ferida de que no fundo se trata de uma concessão pública com vista à educação e à informação correta e cidadã, mas opta pelo lucro do entretenimento despolitizado, vazio e sem profundidade; o Congresso Nacional, o Senado, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais, não cumprem seus papeis de colocarem na ordem do dia as pautas sociais, atrasam votações de interesse nacional, são perpassadas por escândalos de corrupção e não acompanham a dinâmica das mudanças; O estado em seu amplo espectro não consegue promover o bem-estar social, está atrelado a interesses privados, a ideologias dominantes, a concepções elitistas e é utilizado como balcão de negócios.

Enfim, como pode um cidadão comum, é preciso problematizar o conceito de cidadania, pois está correlacionada ao consumo e circulação de privilégios, sentir-se coparticipe de uma noção idealizada de sociedade se os mecanismos institucionais sustentadores de uma ideia de democracia são viciados, atrasados, cooptados, distante da noção de representação social quais os supostos cidadãos não fazem parte?

Prevalece uma conotação de simulacro na politica, de um mecanismo autorregulador completamente abastado das estancias sociais que não se sentem representadas nas esferas democráticas. Todas as vezes que se fala em reforma tem-se em mente a noção de que não passa de um arranjo e uma necessidade para justificar uma suposta mudança para deixarem as coisas exatamente como está.

Os políticos são sujeitos descolados das dinâmicas sociais, encaram a vida e a politica como uma mecânica cartesiana em que suas supostas ideias pudessem resolver um problema como num passe de mágica, ou quando muito para solucionar aquele problema, mas não sua origem. São atores de uma peça sem graça, comprados pelos financiadores de campanha, assumindo compromissos de tal monta que em quase tudo o que fazem precisam retirar, roubar recursos públicos para pagarem seus compromissos de campanha.

O maior prejuízo de tudo isso é a ideia de que a politica não passa de um miss en scene, um simulacro, exatamente por não estar atrelada ao computo social. É uma engenharia própria, embora alicerçada também na desorganização social e na corrupção de grande parte da população.

Uma das saídas para essa grande crise de legitimidade e representação democrática é desburocratizar as ações e as instituições, acabando com muitas delas, com a tecnocracia, estabelecendo a participação popular direta, como nas assembleias de bairros, das cidades. Isso é assembleísmo? É melhor que a frieza dos tecnocratas engravatados cujas ações não dizem respeito às demandas sociais e no fundo são ações de interesses corporativos.

Ou fazemos uma profunda mudança nas instituições democráticas ou vamos viver como se tudo fosse uma grande encenação.          

       



  


terça-feira, 19 de agosto de 2014

Angústia (Martírio)


De Moraes




Sentimento urgente cadente crescente

Preso ileso . Por fora? Vomitar?

Cresce e não sai…

Cada gesto ,penso.

Por onde? Começar

O negrume da mente ou coração? 
Cada ser pensante ,Na forma de canção não há de por

E dor e cor e compor e pensar que poderia…

Ah! Agonia presente como uma freio irrefreável , cor de purpura

Vermelha

Sangue

Corroendo a expressão à beira do papel

e ali se esvai se perde se desencontra e

reaparece no vazio. Vazio do tempo vazio

vazio,

fugaz lembrança retorna. Expressão outrora vem como inspiração,

mas vai e vai e não volta.
e vai

e vai

e vai

Presa num grande armazém, numa garrafa fechada . Minh’alma poética

Ex-iste
aonde ?que vão colossal reside?

Despede-se e não volta, se volta , vai e reside e reside e enterra.

Ré-enterra reenterro o sopro curvado do tempo

o medo sereno e torto

Desmedido e além. Sobre patas , ando! me perco num pensar. Irracional.

Figura abstrata do ser , universal. A sina corrobora , luta fatídica diária.

O que precisa ser? Certamente a incerteza do não ser, sabe que é.

E a poesia flui, cresce e morre refluxo
desvão esconde-se no armário velho fechado . Teias o prendem.

Como pincéis prendem a arte num centro de centros
todos juntos.

afãs
afãs

afã
desejo mútuo corpo e alma
prol
papel
poesia
música
sons
concreto.

Nada, como o sonho vão que não se acaba e se prende, une-se visceralmente. Nas entranhas

e vai e

fecha e

joga a chave

fora

sábado, 16 de agosto de 2014

Sobre os benefícios da solidão contemporanea



Começo a me quedar na história da literatura contemporânea os conotativos, as semelhanças e similitudes da acepção agambeniana de superação e potência e vejo como em autores como Fernando Pessoa, Camus, Kakfa, Virginia Woolf, Clarice Lispector, Florbela Espanca, Drummond, Gullar, dentre tantos outros, há um preludio da desconfiança dos dispositivos contemporâneos e uma aposta na busca do eu-coletivo.

Por dispositivo, Agambem toma a conotação linguística que se refere aos conceitos operantes dos sentidos na construção de logicidades, emanações sociais, uma ponte entre uma concepção para se chegar à elaboração de conjunções sociais. Por exemplo: um dispositivo eletrônico é um aporte, uma ferramenta para se processar algo, atingir um fim a que se quer chegar. Um dispositivo jurídico é uma ferramenta administrativa que dá sentido e concatenação à semântica jurídica, ao ordenamento da lei. Um dispositivo linguístico é uma operação semântica, uma artimanha do conceito para estruturar um ordenamento mental, visando à compreensão de uma dada condição social.

Pois bem. Os dispositivos contemporâneos norteadores de uma ideia de equilíbrio social, de felicidade, de segurança, de bem-estar, fracassaram e com isso todos os apetrechos contemporâneos que prometeram dar subsídio ao vazio humano também, como consumo, interatividade, interconectividade, agilidade, simultaneidade, equilíbrio, dentre outros.

Todos esses elementos não estão desconectados de sua referencialidade política, ou seja, das instituições, dos discursos, das instâncias consagradoras e legitimadoras da ideia de modernidade e contemporaneidade. Quando tais instâncias e instituições não conseguem mais alavancar a perspectiva de bem-estar e procuram fazer arranjos, consertos e não substituição dos dispositivos contemporâneos aumentam consequentemente o vazio e a solidão das pessoas.

É como se os dispositivos enchessem as pessoas de penduricalhos, cada vez aumentando a dependência dos dispositivos, inclusive os eletrônicos, reverberando e criando uma dependência autorreferenciada, um ciclo vicioso de difícil desdobramento.

Somente enxergando a sombra da contemporaneidade é possível sair deste labirinto. O problema é que as pessoas, embora advoguem a noção de independência, de autonomia individual, de descrenças na política e nas instituições, muitas não conseguem se livrar dos dispositivos eletrônicos e institucionais, tais como celular, facebook, democracia, sucesso, fama, e estes instrumentos, por sua vez, não conseguem suprir o descolamento do efêmero, do esvaecente, como diria Kierkegaard, em que viver, ousar, ser um indivíduo no mundo, ser a si próprio, experimentar o deserto, é necessário.

Ser sozinho não é desprezar e desconsiderar o outro, é compreender que os dispositivos não interligam, que as redes sociais conectam desconectando o eu de mim mesmo, que a saída não é dependência do outro, a dependência doentia, qual propugna a noção de popularidade, de sucesso, causando ainda mais estrago quando a popularidade e o sucesso não chegam ou vão embora.

No entanto, como tudo na vida, existem dois ou mais lados, a crise dos dispositivos abre um flanco, uma porta para suas superações, ou seja, a solidão contemporânea é ao mesmo tempo sintoma e uma oportunidade de emancipação dos dispositivos e uma grande chance de nos conectarmos conosco.       
        


quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Luto Histórico



Ana Cristina Teodoro da Silva 


Ontem eu fiquei verdadeiramente triste com a morte de Eduardo Campos. Apenas hoje pude juntar palavras ao sentimento, vindas (claro!), de um velho, Cristovam Buarque. Ele, que conta 70 anos, se diz órfão, não tanto da orfandade de um amigo, que gera sensação de desproteção, mas de orfandade política, que gera a sensação de falta de esperança.

Buarque teria nesses dias uma reunião com o candidato morto, Campos queria ouvir como erradicar o analfabetismo no Brasil. E Buarque (atenção quem acha que todo político não presta) tinha duas coisas a dizer-lhe: 1) o governo federal deve responsabilizar-se pelas escolas das prefeituras que não tem como mantê-las dignamente, enviando para lá professores em um programa federal. Penso: isso poderia ser o início de uma lenta revolução nesse país.  2) precisamos de um candidato que diga que enquanto houver uma família necessitada, haverá bolsa-família, mas enquanto houver essa necessidade eu não descansarei. E o caminho para não termos tal necessidade passa pela educação.

Buarque não será candidato nessa eleição, o que só aumenta minha admiração. Diz-se sem entusiasmo, não com a política, mas com os arranjos políticos atuais.

Mais cedo ouvi um trecho de análise que considerei muito importante, também. O Brasil tem uma carência de lideranças que resulta do período da ditadura militar (quem falou? Míriam Leitão! Acho que Campos é um dos que sabiam que os “bons” não são tão bons, e alguns “ruins” não tão ruins. Problemáticas são as oposições artificiais com pólos semelhantes). Quantas potências de vida teriam trabalhado esses anos todos se não tivessem sido mortas, caladas por um regime moralista e autoritário?


Enfim, é um alento entender o que sentimos, percebo que minha tristeza é desesperança, é o peso de nossa herança histórica, significadas nas mortes de ontem.

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

A morte de Eduardo Campos e a derrota de Dilma



O cenário politico brasileiro hoje está estarrecido com o trágico acidente aéreo que matou o presidenciável Eduardo Campos, 49, ex-governador de Pernambuco, Ex-ministro da Ciência e Tecnologia do governo Lula, terceiro colocado na disputa ao Palácio do Planalto.

Além de uma tragédia para a família e amigos, para o cenário politico brasileiro, a morte de Eduardo Campos pode e deverá provocar uma reviravolta nas eleições presidenciais. Tudo por conta da sua vice: Marina Silva.

Marina Silva, ex-seringueira, começou sua vida politica pelas lides do antigo PT, aquele que ainda lutava por um Brasil mais justo, sério e menos corrupto. Foi Senadora, depois ministra do Meio-Ambiente do governo Lula, quando por razões politicas e ideológicas deixou o governo e cometeu o triste suicídio de se filiar ao PV, que conta com figuras lamentáveis como Sarney Filho. Não tardou e também se desfiliou deste partido.

Após esse tremendo erro, iniciou uma campanha de formação de um novo partido cognominado de REDE, um emaranhado confuso de concepção ideológica duvidosa, sem identidade e com uma conotação ingênua sobre politica. Mesmo tendo conseguido 20 milhões de votos nas últimas eleições, ser a grande sensação, novidade, contando com os votos crescentes dos evangélicos (retomarei isso à frente), sequer conseguiu assinaturas suficientes para a formação do Partido. Resultado: cometeu seu terceiro suicídio, se tornou vice na chapa encabeçada exatamente por Eduardo Campos, morto hoje, dia 13 de agosto de 2014.

Como pode uma candidata, cujo passado remonta as lutas ao lado de Chico Mendes, grande expressão politica do PT em seu estado, ministra do Meio-ambiente, sensação das eleições com um discurso de moralidade e transparência, se tornar vice na chapa exatamente de um ex-ministro de Lula, exatamente do seu ex-Partido, o PT? Houve uma inversão de valores: Marina, a sensação, ficou a reboque de Eduardo Campos, sem grande expressão nacional.

Os mais afoitos correram para falar em teoria da conspiração, ou seja, a morte de Campos consagraria a vitória de Dilma ainda no primeiro turno, mas a verdade é exatamente o contrário. A lei brasileira permite que em caso de morte o Partido faça uma nova convenção. Se o PSB tiver um pouco de juízo elege Marina Silva nova candidata, com reais chances de segundo turno e derrota da Dilma para ela.

O que Marina representa de novo? Nada, a não ser um vazio ético e moral existente no seio da sociedade brasileira perpetrada por longos anos de corrupção do Partido dos Trabalhadores em que supostamente sua condição ética traria ventos novos à politicagem brasileira.

Os anos de corrupção do PT, dando continuidade aos anos de corrupção do PSDB, foi tal partido que inventou e encetou o mensalão, inclusive a reeleição de FHC se deu nessas condições, suscitaram um clima de desconfiança quanto à politica e uma sensação de non sense, ou seja, sem sentido viver e lutar por e pela politica. Aliado ao crescimento vertiginoso dos evangélicos, já são 35 milhões, cabos eleitorais da Marina, tal cabedal deu a ela uma projeção de crescimento eleitoral e um suposto ar de renovação. Há limites.

A experiência evangélica no Congresso Nacional tem se mostrado desastrosa. Tal bancada é apontada como a pior pelos escândalos de corrupção, pela ausência nas sessões parlamentares e pelo baixo número de projetos de Lei, afora os escandalosos casos à época de legendas partidárias, tal como o PL, “vendido” a membros de igrejas evangélicas, tal como a Universal do Reino de Deus, sem falar em governos corruptos de políticos evangélicos, como os de Garotinho e depois, sua esposa. 

Outro problema é o nível da discussão de questões ligadas à cultura proposta pela bancada evangélica, tais como a concepção de família, restrição a cultos afros, perseguição a homoafetivos, dentre outros. Um evangélico chegou a presidir a Comissão de Direitos Humanos e era declaradamente homofóbico.

O vazio ético deixado pelo PT trouxe esse legado: ausência de politização e um baixo nível de discussão e inserção politica. Marina cresce no esteio da decepção em relação ao Partido dos Trabalhadores, cuja legenda hoje em nada lembra seu passado.

A triste e lamentável morte de Eduardo Campos coloca um elemento novo no cenário e corrida presidencial: a sensação do “novo”, Marina, se contrapondo aos escândalos de corrupção do PSDB; Aécio Neves não consegue explicar como ele enquanto governador construiu com recursos públicos um aeroporto na fazenda de seu avô, e Dilma por seu turno não consegue dar conta dos escândalos envolvendo a Petrobrás.

É claro que tudo ainda é muito cedo, mas a morte de Eduardo Campos servirá de combustível politico daqui para frente. Se Marina de fato for candidata angariará os votos de Campos, parte dos 20 milhões de votos que teve nas últimas eleições e o alto percentual de eleitores que rejeitam Dilma. Em outras palavras: nada está decidido.         


  





    


sábado, 9 de agosto de 2014

As Emoções e a Filosofia



                                                                  Adonay Ramos Moreira


   Cairemos sempre num grande engano se encararmos o pensamento filosófico como algo genuinamente racional, produto de um esforço intelectual sobre-humano, do qual os sentimentos, as emoções mais simples passam por longe, como se ele fosse qualquer coisa assim como uma pirâmide, cuja construção exige somente cálculo e força.

   Ao contrário do que somos ingenuamente levados a pensar, estamos mais distantes da racionalidade do que pressupomos. Os jornais, os programas de TV, o computador, toda sorte de bugigangas modernas prova-nos apenas que nosso século é qualquer coisa, menos racional.

   A História nos mostra que nem sempre se gozou dessa deusa Razão. Em todos os povos, de todas as épocas, a racionalidade e o tão sonhado “homem racional” não foram senão exceção, quando muito fantasmas ou encenadores menores, para os quais a palavra “razão” ou é algo sobrenatural (para a classe dos fantasmas) ou algo fictício (para a classe dos atores).

   Os homens de nosso tempo incluem-se nessa segunda categoria. O conhecimento não lhes é senão encenação: quando um erudito de nossa época não se encontra diante de uma plateia; quando após um comentário seu ou algum discurso ele não ouve nenhum aplauso, nem mesmo um “Viva!”, ele frustra-se de tal maneira que a primeira coisa em que pensa é no suicídio.

   O conhecimento em si, aquela atração pelas coisas do mundo, por sua grandeza e espetacularidade, o qual pela primeira vez foi visto sobre a face da terra entre o povo grego, isso é algo de todo desconhecido de nosso tempo. O homem moderno tem desejo sim, mas não de conhecimento. Interessa-lhe antes o quanto em moedas ele pode ganhar por segundo, o que pode lucrar em termos financeiros lendo este ou aquele livro, e quando menciona algo tido como “sábio”, como “erudito”, é apenas como um acessório, uma máscara ou algo desse gênero: o conhecimento verdadeiro daquilo que diz jamais penetra sua alma.

   E é nisso que consiste a falha do homem moderno: o que ele pensa está totalmente distante do que sente, como se seu coração e seu cérebro fossem duas ilhas distantes, separadas por um oceano de mistérios e incertezas. Dito de outra forma: o homem moderno, o “sábio contemporâneo”, deixou de sentir, tornou-se somente uma máquina de pensar, para a qual as emoções são sonhos distantes e sem significado. Interessam-lhe antes as suas proposições: “Se elas estão corretas,” – pensa ele – “então estamos diante de uma verdade”. Ante isso, não nos resta outra alternativa senão lamentar, pois cremos em profundidade em algo bastante simples: quando um homem nega seus sentimentos, ele também nega, embora não o perceba, a sua humanidade.

   O que levou os homens a pensar não foi sua razão, mas seu sentimento. O homem primitivo não se expressava através de cálculos matemáticos, mas por desenhos. Seguramente, ele não estava interessado em quais proposições lógicas o mundo se baseia, mas afligia-o antes esse desejo tão terrível (e ao mesmo tempo tão belo) que é saber o que nos torna vivos, qual sentido há em nossa existência sobre a face da terra, o que são os fenômenos naturais. Primeiro vieram-lhe as emoções, para que em seguida (e compreenda-se esse “em seguida” como uma soma nada desprezível de anos) surgisse em seu íntimo, no seu espírito, qualquer coisa parecida com a racionalidade.

   Os mitos são a prova mais “concreta” disso. Longe de serem criaturas inferiores, eles constituem uma vitória de nossa sensibilidade. Interpretar o trovão e o raio como a fúria de um deus não é prova de ingenuidade, mas de sabedoria. É preciso estar em contato profundo com a Natureza para se poder criar algo parecido. É preciso, antes de tudo, sentir, compreender que se é parte do mundo e que este é parte de nós, e que uma separação entre o Homem e a Natureza é algo impossível, diríamos mesmo inadmissível, e por mais que ele tente se afastar dela sob a égide da racionalidade, da sua tão sonhada “razão”, suas tentativas não resultam senão em fracasso, pois ele empreende uma aventura que se encontra muito além de suas forças. O homem tem seu limite. Tentar ultrapassá-lo será sempre motivo de fracasso. Aqui repetimos a fala de Macbeth: “Atrevo-me a fazer tudo o que é próprio de um homem. Quem se atreve a mais, homem não é”. Com esse pensamento, Shakespeare abarca um mundo.

   Os gregos, que temos como os pais da filosofia, também chegaram a ela por meio dos seus sentimentos. A sua mitologia já constitui em si um pensamento filosófico, e o próprio Aristóteles confirma isso em sua “Metafísica”: “Ora, quem indaga e está perplexo sente-se ignorante (assim quem gosta de mitologia é em certo sentido um filósofo, uma vez que os mitos se compõem de indagações)”; é preciso ter a clareza de pensamento de um homem como esse para se chegar a tal conclusão.

   Pensar, viver, ser feliz, tudo isso são coisas que, para nós “modernos”, “homens evoluídos”, que com tanta ciência não somos capazes de enxergar um palmo sequer além de nosso nariz, parecem completamente impossíveis. O homem moderno tem uma máxima: ou pensa ou vive, uma conciliação entre esses dois estados é-lhe qualquer coisa de inconcebível. Ele sente que, ao se afastar da razão, qualquer evento monstruoso poderá ocorrer. Certamente, um erudito de nosso tempo, um “sábio”, esse tipo de indivíduo provavelmente foge das emoções como o Diabo foge da cruz: para ele, emocionar-se é um ato nocivo, diríamos mesmo “primitivo”.

   Por mais que pensemos (e – de fato – a história da filosofia no ocidente está repleta desse tipo de reflexão, de Platão a Nietzsche), jamais chegamos à certeza sobre de onde nos provém o conhecimento. Se ele está em nós ou fora, se é capaz ou não de ser abarcado por nossos sentidos, isso é coisa que ainda não sabemos. Alguns otimistas (que de tão otimistas beiram a decadência intelectual) põem na ciência moderna certa confiança no que se refere a isso. Mas, quanto a esse assunto, permanecemos céticos.

   O que pretendemos abordar (e não convencer, é preciso esclarecer isso) é que nenhum filósofo se furta a suas emoções quando se propõe a pensar. Os próprios gregos falavam em “melancolia”. De fato, um homem feliz dificilmente chegará com algum sucesso ao pensamento. Para se chegar a ele, é preciso perder qualquer coisa, ainda que mínima. E, em matéria de perda, a razão passa sempre longe. Ser racional em campo subjetivo equivale voltar à animalidade.

   Elogia-se muito a postura do velho Sócrates ante a morte. Quem quer que se digne ler o “Fédon” poderá concluir: “Sim, estamos diante de um homem racional!” Esse tipo de conclusão é-nos totalmente absurdo. É preciso se ter uma certeza muito grande para abandonar a vida com tanta facilidade. É preciso sentir (e que se dê a este verbo a força e a tônica que lhe são devidas) que algo há além; que esse mundo é fruto de uma certa transitoriedade; que em algum lugar há algo mais agradável, onde um espírito possa repousar. Sim, é necessário tudo isso, e não é pela razão que se chega a esse “bosque encantado”. A morte de Sócrates foi tão romântica quanto a de Cristo e a do jovem Werther: nos três, há qualquer coisa de extremamente meloso e ridículo. Não é por silogismos que um homem se encaminha à morte. E nem mesmo o bom Sócrates foge a isso. Em casos assim, a razão é a última a participar.

   Conta-se que Empédocles saltou à cratera do Etna para provar que era um deus, e nunca mais foi visto: dificilmente alguém será estúpido o suficiente para atribuir tal ação a um argumento racional. Isso nos prova que nossos estimáveis filósofos nem sempre agem segundo critérios de racionalidade (em relação a isso, os pensadores modernos são mais práticos: Deleuze, por exemplo, provavelmente para evitar a fadiga, dignou-se apenas a pular pela janela. Subir à cratera de um vulcão para em seguida jogar-se nela devia-lhe constituir um argumento tipicamente “irracional”).

   Mas tais exemplos são cômicos, e servem antes para comédias do que para um ensaio. Verdade que de modo algum me proponho ser o autor de um texto excessivamente acadêmico. Seria de todo curioso um sujeito defender certa ênfase às emoções no processo de filosofar com um tom acadêmico e burocrático. Não. Tais tipos de texto são para os “sábios”, os “eruditos”, e eu me encontro a uma distância de anos-luzes dessas duas classes.

   Em todo pensamento filosófico há sempre uma parcela de vida, e a vida (precisamos admiti-lo) não é algo extremamente racional. Os pensamentos mais profundos, assim como a obra de arte, provêm da necessidade; da necessidade de se reconhecer no mundo. Se um homem não se incomoda com a realidade; se a existência (esse “vale de lágrimas”, para usarmos uma expressão familiar aos cristãos) não lhe é qualquer coisa de demasiadamente excessiva; se ele não se sente de alguma forma angustiado, “melancólico”, é preciso que reconheçamos que não estamos diante de uma reflexão filosófica. Estamos, antes, perante um ator: por alguns segundos (ou durante o tempo que durar o espetáculo), ele põe a sua máscara e dramatiza. Mas, caídas as cortinas, ele volta à sua vida de mediocridade. Um homem assim exibido assemelha-se mais a um pavão do que a um filósofo: falta-lhe a essência daquilo que é verdadeiro, daquilo que é vivo.

   Costumamos chamar o senhor Platão de um homem racional. Somente quem nunca leu nenhuma de suas obras poderá concordar com esse juízo. Tomemos um exemplo clássico: a sua “República”. Nessa construção absurda, há uma verdadeira sociedade entre o coração e o cérebro: se há a racionalidade, também há de igual modo o desejo, o sonho. E este segundo ponto é bem evidente no que se refere ao seu modo de lidar com os artistas: “Quando um desses senhores pantomímicos, tão vivos que sabem imitar tudo, nos visitar, propondo-nos uma exibição de si próprio e de sua poesia, cairemos de joelhos e o adoraremos como algo sagrado, doce e maravilhoso; mas devemos também informá-lo de que, em nosso Estado, não se permite, por lei, a existência de semelhantes criaturas. E, depois de untar-lhe o corpo de mirra e colocar-lhe à cabeça uma coroa de lã, mandá-lo-emos a outra cidade”. Por mais que se negue (e a tendência geral é negar), uma atitude assim não se trata de razão, mas de afinidade: no fundo, resulta apenas do fato de se gostar ou não de alguém ou de algo, e em vão procuramos um argumento para se justificar a presença de uma possível razão em tudo isso.  
       
   A “República” platônica é um artefato romântico. Um homem tem que estar terrivelmente decepcionado com a vida para criar algo parecido. Em certos termos, a fuga para a república platônica é uma antecipação do espírito de inconformismo que se revelou aos homens do século XIX quando se deu início ao movimento Romântico. A diferença é que Platão, em sua época, tratou de mascarar isso com algum toque de racionalidade. O homem da utopia do velho grego assemelha-se em muito ao personagem Glahn, do romance “Pan”, do escritor norueguês Knut Hamsun: em ambos há a fuga para um lugar ideal, com a única diferença de que, na república platônica, o homem não se vê tão atraído pela caça. Isso é uma distinção cômica, confessamos, mas extremamente precisa.

   Essas afirmações nos provam que até mesmo o pensamento socrático-platônico estava eivado de certo sentimentalismo, certa angústia. E essa visão se nos torna mais surpreendente (e também encantadora) quando nos lembramos que foi justamente a esse pensamento, a esse tipo de comportamento reflexivo, que Nietzsche atribuiu o início de uma “racionalidade” entre os gregos: “Para demonstrar também no tocante a Sócrates a dignidade de tal posição de condutor, basta reconhecer nele o tipo de uma forma de existência antes dele inaudita, o tipo do ‘homem teórico’, cuja significação e cuja meta é nosso dever agora chegar a compreender”. Assim, chegamos sem nenhum problema à conclusão de que a boa e sábia razão grega não era tão racional: havia algo de enfermo em seu corpo.

   Mas não é somente entre os gregos que floresceu a melancolia. Onde quer que o pensamento filosófico penetre, lá também se encontra a emoção. A filosofia medieval (bem como o pensamento helenístico) não se furtou a ela. Os Padres da Igreja são ainda mais sensíveis no que se refere aos sentimentos do que os gregos. Não se pode chegar a Deus somente pela razão. Caso contrário, não se estaria ante Deus, mas ante um teorema de Pitágoras.

   Não pretendemos traçar um painel histórico descrevendo a relação emoção versus filosofia. Faltam-nos tempo e conhecimento para isso. Um tal tipo de tarefa, por enquanto, excede em muito as nossas forças (talvez no futuro possamos fazê-lo); o que por ora nos é possível é apontar para o fato de que a verdadeira filosofia, esse ato genuinamente humano, é uma conjugação dos verbos sentir e pensar. Nenhum filósofo verdadeiro pode se esquivar disso, e os que traçam metas de pensamento como se este fosse uma receita para bolo caem sempre no abismo do fracasso (um bom exemplo desse tipo “filosófico” se encontra no personagem Memnon, do senhor Voltaire, um verdadeiro símbolo do malogro intelectual).   
       
   Não sou devidamente competente em matéria de Lógica para afirmar até que ponto a emoção pode participar nesse tipo de jogo. Porém recuso-me a aceitar a ideia de que homens como Bertrand Russell e Wittgenstein tenham construído suas obras com a mesma indiferença emocional com que um homem com dor de barriga redige uma carta de amor. Não me parece sob nenhum aspecto que um ser humano, por mais que seja sábio, possa ser capaz disso.

   Formulamos juízos sobre o mundo quando “estamos conscientes” (é preciso ter sempre certo cuidado quando se escreve esse tipo de afirmação) da realidade em que vivemos. Um indivíduo que não chegue a esse ponto jamais será capaz de pensar. É por uma tal inércia intelectual, por esse mesmo tipo de alheamento existencial, que devemos o fato de vacas e porcos não redigirem tratados de metafísica. E estar consciente significa sentir. Significa compreender que não estamos “no melhor dos mundos possíveis”. Homens como Kierkegaard, Nietzsche, Sartre e Camus são a prova de que a emoção sempre participa do jogo.  Somente à medida que fomos “evoluindo”, tornando-    -nos “científicos”, mais “modernos”; somente agora que exibimos sobre o peito uma faixa com o nome “pós-contemporâneo”, é que os homens do conhecimento (não a Filosofia) pretendem levar sua “racionalidade” ao extremo, e com isso eles não fazem senão enganar a si mesmos. São como os indivíduos que, tentando fugir de seus pensamentos, empreendem peregrinações pelo mundo: tais homens sempre se frustram, pois não percebem que jamais poderão fugir de si mesmos. “Toda consciência é enfermidade” – disse certa vez Dostoievski, e é inútil tentar fugir: a miséria, a “doença” sempre irá conosco.

   E o que é mais trágico em tudo isso é que, de todas as épocas, é justamente a nossa que mais tem necessidade de sentir, de pensar, de uma filosofia que una razão e sensibilidade. Para falarmos de maneira alegórica, assemelhamo-     -nos a Ícaro: chegamos tão alto que agora nossas asas começam a não mais resistir, e não é o sol que as corrói, mas a ignorância e a mediocridade que o nosso século entre fios e máquinas nos proporciona.   
        
   Talvez seja esse milênio o momento oportuno para se fazer renascer a Filosofia como sensação humana, como capacidade de tornar-se melancólico para assim poder se pensar humanamente esse ser que há muito vem perdendo as características do que é humano. Talvez seja esse o momento para que a emoção volte a coabitar o mesmo corpo em que dormem o conhecimento e a razão, e assim evitar que nosso tempo caia em uma profunda miséria, e se concretize aquilo que um dia esboçou Carlos Drummond de Andrade em um de seus versos: “Chegou um tempo em que a vida é uma ordem/ A vida apenas, sem mistificação”.








Entrevista com Arton, de Sirius. Parte II

  Entrevista realizada no dia 14 de fevereiro de 2024, às 20:00, com duração de 1': 32'', gravada em um aparelho Motorola one zo...